Queer Blog
30.9.03
 
Edições de Outubro
Algumas coisas interessantes a sair em Outubro: um livro sobre homossexualidade na literatura portuguesa de Eduardo Pitta; a tradução de "Epistemologia do Armário" de E.K. Sedgwick (de que estou a ler um texto sobre leitura reparadora, difícil!), um texto central; e ainda as andanças de Fernando Gil pelas figuras da racionalidade soft com um livro sobre convicções (depois de um sobre crenças).


29.9.03
 
SEGURANÇA E FALSAS DICOTOMIAS
Artigo claro e sintético de Maria Teresa Nogueira (Presidente da Amnistia portuguesa) hoje no Público onde se distingue o seguinte: "Alguns governos começaram a sugerir que haveria um conflito insanável entre o dever do Estado proteger a segurança pública e o de respeitar os direitos humanos. Esta dicotomia é falsa. Pelo contrário, a legislação internacional de direitos humanos com que os Estados se comprometeram, inclui a protecção das populações contra as violações cometidas por agentes estatais e não estatais. O desafio que se passou a colocar não é o da segurança versus direitos humanos mas o do pleno cumprimento dos direitos consagrados em tratados como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC), a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, etc."

Sob pretexto de defender os seus cidadãos muitos Estados, incluindo os EUA e o Reino Unido, atropelam os seguintes direitos: "liberdade de expressão, liberdade de associação, direito à privacidade, direito a julgamentos justos, incluindo o acesso a um advogado e à confidencialidade das informações trocadas entre este e o seu cliente, o direito a não ser torturado ou sujeito a outros tratamentos desumanos, cruéis ou degradantes, o direito de asilo."

E conclui: "Mas será que o mundo está mais seguro? Na perspectiva da Amnistia Internacional, que é a do respeito pelos direitos humanos, a resposta é não. Poderemos considerar o mundo seguro quando os conflitos ditos regionais proliferam, catalizados pelo duplo fluxo da transferência das matérias primas, dos países pobres para os países poderosos, e da transferência - aberta ou encapotada - de armas, dos segundos para os primeiros? No cerne está o enriquecimento das "elites do poder" (chefes políticos e militares, traficantes) nos países em desenvolvimento e das multinacionais sediadas nos países desenvolvidos. O fosso entre ricos e pobres cresce, as populações civis são bombardeadas, expulsas das suas casas, as mulheres são violadas, as crianças raptadas e obrigadas a combater. A sobrevivência torna-se penosa, é impossível obter asilo, o desespero aumenta, a adesão aos radicalismos religiosos pode parecer a única via no horizonte.

Querendo aumentar a segurança, mas não sanando, por puro egoísmo e falta de visão, as verdadeiras causas da insegurança que são: a injustiça, a fome, o medo, o desespero, os países poderosos, em especial os países G8 e a China, estão a aumentar as causas objectivas da insegurança, estão a criar as condições para um novo 11 de Setembro de 2001 que só a reposição pelo respeito dos direitos humanos poderá evitar."


 
O FRIO E AS CARNES
Notícias de hoje dão conta dum relatório europeu onde se conclui que Portugal é o país onde as mortes mais aumentam no Inverno por causa do frio. A principal razão é a falta de eficácia térmica dos nossos edíficios (leia-se aquecimento central, isolamento de janelas e placas, etc).

Dentro do nosso espírito de sacríficio cristão o frio sempre foi visto em Portugal como algo que "enrijece as carnes" e desperta o espírito, como sinal duma sã austeridade, afinal.

Para quando uma concepção mais confortável da vida que admita que merecemos aquecimento em nossa casa e nos nossos postos de trabalho e que não somos menos "rijos" por isso? E que conceda numa visão mais quente das carnes (carne quente nem sempre é carne mole:)


 
CIDADÃOS DA UE SIM, MAS COM CALMA...
Ao ler uma revista sobre política social europeia deparei-me com um escândalo: então não é que os cidadãos dos países do Alargamento não têm direito à famosa liberdade de movimento nos primeiros dois anos de entrada, e só terão nos 3 subsequentes se os Estados Membro actuais concordarem em deixar cair estes acordos transitórios?! Serão portanto 5 anos em que prevalecerá o medo da tal invasão... O mesmo artigo refere que, a não ser assim entrariam 250 mil por ano no espaço da antiga UE; a ser assim, conta-se com 100 mil por ano no final da década.

Só quem à altura da adesão, possua contrato de trabalho para 12 meses ou mais, terá autorização de residência (isto para trabalhadores; não estão incluídos estudantes, turistas, etc). Isto para todos menos Chipre e Malta.

No fundo, a estes cidadãos, nem quotas profissionais de imigração lhes oferecem; pura e simplesmente não podem vir se não estiverem já cá. Será que o direito de investir/vender naqueles países também está condicionado a quem já lá está? Alarga-se o mercado, não se alarga a cidadania - nada de novo nas prioridades da UE, de facto.


27.9.03
 
PRESIDENTE DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL DEFENDE REVISÃO CONSTITUCIONAL
Só para que conste, e como penso que (incrivelmente) não estavam presentes jornalistas nem políticos, o Presidente do TC defendeu ontem, na sessão de encerramento das Conferências sobre a nova Constituição da UE na Fac. de Direito da Univ. Nova, a revisão da Constituição Portuguesa de forma a aceitar a subordinação à Constituição da UE. Esta subordinação só teria como limites alguma especificidade constitucional da nossa Constituição, nomeadamente alguns princípios estruturais e direitos fundamentais (que não concretizou quais).

Defendeu que a ordem cronológica dos procedimentos deveria ser a seguinte: primeiro a revisão, segundo o referendo, terceiro a ratificação.

Manifestou também algumas preocupações, nomeadamente a dificuldade em garantir de facto os direitos da Carta agora incluída na Constituição da UE, por não existirem mecanismos de fiscalização da sua constitucionalidade, nomeadamente ser incerto qual o Tribunal com competência.

Entre estes direitos encontra-se o direito à não discriminação, nomeadamente aquela com base na orientação sexual - estão a perceber o meu interesse, agora:)

Igual preocupação foi expressa, de forma bastante mais detalhada e complexa, por outros oradores. O único com uma perspectiva mais optimista foi Miguel Poiares Maduro, futuro Advogado Geral do Tribunal de Justiça da UE (e principal impulsionador desta magnífica Conf.), que disse confiar numa dinâmica de exigência desses direitos pela parte de quem os desejar como forma de ajudar a criar os procedimentos que, de facto, os garantam - recado para as ONGs, portanto.

Só mais uma nota final: foi confrangedora a participação dos políticos portugueses que nos representaram na Convenção. Como podem as pessoas trabalhar ano e meio num projecto tão importante e não terem nenhuma visão sistemática e interpretativa dele?!!! Mais: se estes políticos nada perceberam, o que pensar dos que não lá foram? Como pode a opinião pública estar alertada para o que se prepara, nas suas vantagens e riscos, se não se fala doutra coisa que não a questão do cristianismo (questão de tal maneira já encerrada que NENHUM dos intervenientes a referiru)?!!


 
MEDIA E JUSTIÇA
O jornal Público, eventualmente entre outros, dava ontem grande relevo à notícia das inconstitucionalidades no processo Casa Pia.

Uma das questões era uma questão de mero bom senso (que costuma ser uma coisa perigosa, mas aqui era de facto simples): o arguido não pode ver indeferido um recurso apresentado nos prazos devidos só porque o juiz decide confirmar a acusação antes do tal prazo. Isto não significa que haja falta grave do juiz; provavelmente apenas pressa e, se calhar, não sei se isto é possível (penso que não), o próprio juiz teria retirado/suspenso a decisão, ao ter conhecimento do recurso.

Outra questão, muito mais delicada, é a questão do acesso a informação que justificou a acusação e a prisão preventiva. O texto da notícia diz:"(...) o juiz deve conhecer das causas que determinaram a prisão preventiva e comunicá-las ao arguido (...)", dando a entender então que informação importante teria sido sonegada ao arguido. Ora, na minha modesta interpretação do acórdão, não é exactamente isso que diz (e o Público, que até publica o acórdão, deveria ter vergonha desta precipitação tendenciosa).

O acórdão divide a apreciação da interpretação do acesso a estes elementos de acusação em dois pontos: o acesso na generalidade dos casos e o acesso nos casos de crimes de abuso sexual de crianças. Na genralidade dos casos defende um conhecimento bastante extenso dos "comportamentos materiais [ que comportamentos, eventualmente onde e quando] que lhe são imputados [ao arguido] e da sua relevência jurídico-criminal [a que crimes correspondem]". Mas, nos casos de abuso sexual de crianças, o que o Tribunal contesta é a interpretação de que "OS ELEMENTOS DE PROVA que se mostraram determinantes para as imputações e para a determinação da detenção e da prisão preventiva" sejam negados SEMPRE; o que o Tribunal vem dizer é que isso não pode acontecer "sem proceder a uma ponderação concreta (...) entre, por um lado, os interesses da defesa e, por outro lado, os interesses da investigação criminal e da protecção de testemunhas especialmente vulneráveis."

Ou seja, podem ter sido sonegadas informações, mas com razões válidas. Nomeadamente, o conhecimento dos elementos de prova pode ter ido, neste caso concreto, até onde pode ir, tendo em consideração a tal ponderação de interesses e, por outro lado ainda, o conhecimento dos comportamentos materiais (a famosa questão do arguido saber quando e onde), pode estar de tal maneira dependente da protecção dos interesses da investigação, ou seja, pode confundir-se de tal maneira com os elementos de prova, que não pode ser comunicada de forma mais concreta.

No fundo, o que o Tribunal vem dizer é que o juiz tem de justificar, para este caso em particular, a sonegação desta informação - não vem dizer que essa informação deveria ter sido dada em qualquer circunstância, interpretação que é a do Público.

Ora, estas conclusões deixam as pessoas a pensar que há juízes que não respeitam as leis, o que é gravíssimo e deplorável para o bom jornalismo.


26.9.03
 
BARÓMETRO DN, segundo Lusa:
Verão "chamuscou" popularidade do governo e "fez" cair coligação

O PS formaria governo se Portugal fosse hoje a votos, segundo o barómetro de Setembro do Diário de Notícias, que revela ainda que o Bloco de Esquerda se tornou na terceira maior força política.

O Verão passado, o mais quente dos últimos 500 anos, "chamuscou" a popularidade dos partidos que compõem o executivo, bem como os seus líderes, com o PSD de Durão Barroso a cair 5,7% para os 37,6, e trouxe novo alento ao PS, que consegue uma subida de 6,7 pontos percentuais, com 42,8.

O CDS/PP, liderado por Paulo Portas, tem agora 4,1%, o que representa uma quebra de 1,4% e ocupa agora o último lugar das preferências, atrás do Bloco de Esquerda, que subiu 1,5% para 6,2, atingindo a terceira posição, já que os comunistas, agora com 4,9%, baixaram 1,7 pontos percentuais, ficando no quarto lugar.

Seguindo o rasto da coligação governamental, também os ministros que integram o executivo registam uma quebra na popularidade, excepção para Bagão Félix, Morais Sarmento e Sevinate Pinto, que sobem a sua cotação junto dos portugueses.

Na lista dos ministros, Carmona Rodrigues (Obras Públicas) é o mais impopular, caindo 18 pontos nos últimos dois meses, antecedido da ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, e do titular da pasta da Saúde, Luís Filipe Pereira.

No entanto, o político mais "atingido" por este Verão quente foi Paulo Portas, que caiu para a última posição da tabela na consideração dos portugueses, com 30 pontos negativos.

Lusa/Fim

O mais surpreendente: Bagão Félix (ele a f... e a gente a ver)...Mostra o quanto é perigoso e o quanto existe uma estratégia concertada para branquear a impopularidade das suas medidas no Governo. Muito perigoso mesmo...



25.9.03
 
MAU SINAL PARA A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
Portugal votou contra o financimanento comunitário a investigações sobre células estaminais no último Conselho da Competitividade há dias.

É assim que pretendemos ultrapassar os americanos: fechando portas a financiar uma das mais promissoras áreas da medicina e biotecnologia contemporâneas. Tudo por razões éticas que laicas é que não são, de certeza!


 
SIDA E TERRORISMO
Pacheco Pereira critica hoje Jorge Sampaio por ter comparado as duas coisas. Afirma que Sampaio apenas queria secundarizar a luta contra o terrorismo e que não devemos deixar esta secundarização acontecer.

Posso até concordar com isto mas penso que Pacheco também secundariza excessivamente a luta contra a sida quando não reconhece, no espalhar da epidemia, uma questão de voluntarismo político (como reconhece no terrorismo), no caso de má vontade política por parte de quem podia fazer mais. Uma epidemia não é nunca uma questão exclusivamente natural e social; uma epidemia, então esta pela exclusão que arrasta consigo, é uma questão eminentemente política! E Pacheco Pereira, com a sua formação filosófica, sabe-o muitíssimo bem. Então porquê? Só para justificar, mais uma vez o apoio a Bush?...


 
ALTERAÇÕES AO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO
Lá estão eles a mexer no que conseguem controlar directamente, para pouparem uns tostões...
Bem, o que me faz mais espécie é a profunda injustiça e discriminação praticada contra os jovens com o que parecem ser estas novas medidas.

Infelizmente a Directiva sobre igualdade de tratamento no emprego não parece incluir estes aspectos da protecção social e, se bem que impeça as discriminações com base na idade, penso que não poderá ser útil aqui; mas devia.

Quem paga as rendas mais caras? Quem compra a casa mais cara? Quem tem que montar casa? Quem está a comprar carro? Quem tem mais filhos menores a cargo?São os jovens. Por que raio hão-de ter menos subsídio só por serem jovens? Têm culpa de terem trabalhado menos anos do que os mais velhos?!!

Isto de facto contribuirá para aumentar as famílias numerosas: já estou a ver montes de jovens recém-independentizados (ou mesmo não tão recém assim) a regressar a casa dos papás (e a já não poderem ser considerados membro do agregado/pessoas a cargo)...

Gostava de saber a média de idade e situação familiar dos 90 mil novos desempregados portugueses, desde Agosto de 2002 (um aumento de 26%!!!)...


24.9.03
 
Igreja Católica a pique
Com jeitinho, com jeitinho, Ratzinger ainda vai conseguir reduzir a Igreja Católica a si próprio, mais ninguém:))) Ou então é substituída pelo Opus Dei.

As anunciadas novas regras estão a provocar uma semelhante reacção entre católicos dentro e fora da Igreja que penso que poderão levar a um desligamento dos crentes só comparável ao desligamento provocado pela proibição do divórcio e do preservativo.

Por outro lado, e apesar de não ser crente, é com pena que vejo desbaratar a herança (social, cultural e cívica) do Concílio Vaticano II, face à impotência dos Bispos e à doença do Papa (que não é nenhum revolucionário mas que também não é tão tótó).

Parece que o Concílio queria acabar com a Cúria Romana, a que pertencem estas Congregações, entre as quais a de Ratzinger. Nesta altura do campeonato, ganha a Cúria...


 
As camionistas
A propósito de entrada com o mesmo nome no já famoso Dicionário.

Para os heteros a camionista é a lésbica por excelência (como a bicha é o gay); para os lgbts também. Com isto se quer dizer que a camionista é a visibilidade lésbica mais estereotipada. Tão visibilidade é que, por vezes, as próprias lésbicas não convivem com camionistas, ou recusam namorar camionistas, não porque as considerem sexualmente desinteressantes mas sim porque receiam a sua visibilidade. Muitas vezes disfarça-se este medo com considerações de ordem estética (do tipo, é gorda, tem barriga, tem o cabelo demasiado curto, etc) ou de ordem do género (parece um homem!) mas o que está efectivamente em jogo é a homofobia interiorizada, o medo a correr nas veias.

O dicionário refere que a camionista não é a butch, pois esta terá de ser a butch de uma fem (querendo com isto dizer que as butchices são coisas relacionais/conjugais e as camionices não). Não tenho tanta certeza disso, pois vê-se cada vez mais butchs com butchs, da mesma forma que se vê camionistas com camionistas.

Recentemente fala-se nas baby butch (algumas jovens lésbicas) e nas soft butch (umas butch ainda menos estereotipicamente masculinas que as próprias butch). As soft butch seriam ainda aquelas que, ao contrário das stone butch, sentiriam e demonstrariam o seu prazer sexual (enquanto que a stone butch típica é a lésbica gentleman, a que dá prazer, exclusivamente dá).

Tudo para concluir que, para mim, a diferença entre camionista e butch não está na relação/casal; está na classe social. Habitualmente alguém será chamada de camionista se for duma classe social baixa e de butch se for de classe alta; igualmente haverá tendência para considerar as lésbicas rurais camionistas e as lésbicas urbanas butches. Digamos que a butch é uma espécie de lipstick camionista, uma camionista mais sofisticada, ou portadora de sinais de identificação social economicamente mais elevados e mais urbanos.

 
Extracto de texto de Prado Coelho hoje no Público (há aqui aspectos que não são totalmente claros para mim; já cá voltarei):
O que podemos dizer hoje é que continuam a existir diferenças de classe, mas as formas tradicionais de luta de classes estão em vias de desaparecimento. Porque uma coisa são as classes, outra a existência de lutas de classes (embora a luta seja uma forma de construir a identidade das classes, mas não a única).

Na revista "Mouvements", nº 26, escrevem Louis Chauvel e Franz Schulteis que "não se deve confundir a) realidades objectivas vividas por indivíduos com trajectórias formando um contínuo de posições semelhantes (as classes populares, apesar da sua evidente diversidade, partilham numerosas semelhanças que permitem fazer "semelhantes diferentes"), condição exprimindo empiricamente e permitindo exprimir teoricamente a existência de uma classe social; b) a partilha subjectiva colectiva de uma posição social comum; c) a projecção, a partir das duas anteriores premissas, de um interesse político comum susceptível de se inscrever num projecto: (...) o de uma acção política".

Donde, existem classes, existem conflitos pontuais, mas não existe um projecto de acção política fundado em diferenças de classes (daí a forma como os partidos "pescam em todas as águas")"


 
CONCENTRAÇÃO NOS MEDIA
Excelente e oportuno o projecto do BE contra a concentração nos media. Pena que pareça que a direita não lhe quer dar passagem - porque é que, em coisas de jeito, não seguem o exemplo do "amigo americano"?

23.9.03
 
O Tratado Constitucional da UE
Conferências na Fac. de Direito da Univ. Nova de Lisboa, 25 e 26 de Setembro.

 
Militância partidária
Para que conste, e como não faço qualquer suspense do assunto, não sou, nunca fui e julgo nunca virei a ser, militante de qualquer partido. Respeito quem entende participar dessa forma na vida cívica. Nunca o farei porque, no momento do aperto, no momento em que uma crítica individual pode causar a perturbação e a complexidade necessária num dado processo, nunca vi, nesse momento, um partido não pedir disciplina partidária. E é só.

 
Inseminação de nuvens
Hoje acordei com uma notícia deliciosa referente à inseminação de nuvens, ou como se faz uma narrativa biologizante dum projecto físico para provocar artificialmente a chuva.

Um grupo de cientistas portugueses iria encontrar-se hoje com o presidente da República para lhe pedir financiamento para um avião que iria iseminar as nuvenzinhas. Estão a ver o avião, malandro e pontiagudo, em busca da sua nuvenzinha:))) E não pode ser qualquer uma; segundo a notícia só aquelas que tivessem determinadas qualidades (nisto de inseminações estamos habituados a discriminações, né?:))

O avião, uma vez encontrada a nuvem, injecta-lhe um gelidificante, iodeto de prata, que a faz chover.

Esta narrativa fez-me lembrar as polémicas relativas às narrativas da fertilização na espécie humana. De facto, após descobertas que concluíram que o espermatozóide se desloca lateramente de forma dezenas de vezes mais forte do que a força do seu impulso para a frente - portanto, bastante "bêbado":)) - alguns biólogos propuseram modificar a narrativa sobre a assertividade da trajectória do espermatozóide, afirmando que é o óvulo que tem que ter uma grande acção de retenção/aderência para agarrar os espermatozóides que têm mais tendência para resvalar do que para entrar - é o que se chama uma "aproximação lateral":)). Sempre melhor com um "orgasmo vertical":))))

Enfim, logo vieram as vozes que disseram que se estava a substituir a narrativa da passividade feminina por uma de mulher-aranha, fêmea devoradora, etc. É curioso que sempre que as mulheres tentam ter uma posição mais activa são acusadas de excessiva agressividade. Porque será?

 
Jornalismo de referência do Público
O Jornal Público publica hoje uma notícia dando conta de desentendimentos no Fórum Social Português entre a Opus Gay e as restantes associações lgbt nele presentes.

Apesar da notícia se centrar na Opus Gay, e de forma muito pessoalizada em António Serzedelo, a Opus Gay é a única associação que não aparece em discurso directo: sr. jornalista, não reparou que a seguir ao nosso comunicado de imprensa vinha o telefone de António Serzedelo?

Não tinha interesse em confrontá-lo com as acusações feitas? Não tinha interesse em esclarecer-se, por exemplo, que a vontade de sermos consultados não resulta de um qualquer capricho mas sim de regra básica de funcionamento do FSP, que obriga à formação de consensos (conforme era dito no comunicado que cita mas que, pelos vistos, teve dificuldade em interpretar)?

Sr. jornalista: se tivesse consultado devidamente as suas fontes, mesmo que em relação à Opus Gay quisesse somente ler e nunca entrevistar, perceberia que o veto não foi a Fabíola Cardoso, nem sequer ao Clube Safo, nem sequer à sua militância no BE. O veto foi provocado pelo desconhecimento total das ideias que iam ser apresentadas como representando o movimento lgbt português em Paris, onde por sinal se inclui a Opus Gay. O veto é resultante da percepção de que Fabíola Cardoso se preparava para representar a maioria das associações portuguesas, representação essa que vinha sendo coordenada numa rede lgbt internacional integrada num movimento de criação dum partido europeu ligado ao BE, rede essa que era do nosso total desconhecimento. Dir-se-à: e não podem as associações trabalhar nas redes que entendam? Podem, sim senhor. Mas, no caso, o FSP exige que as representações sejam decididas por consenso, e não por maioria. Não basta às restantes associações estarem em maioria nas ideias que entendem defender para que se abstenham de dialogar e formar consenso! Pelo menos esse é o espírito do FSP, do qual não abdicaremos!
Fora do FSP e em representação da tal rede (mas não do movimento lgbt português), Fabíola Cardoso pode ir onde quiser sem pedir qualquer "benção" como malevolamente diz. No FSP não são essas as regras.

A HEGEMONIA DA OPUS GAY
Por outro lado, e mudando de assunto, a Opus Gay tem uma verdadeira história de tentativas de hegemonia:)
1) sempre incentivamos a criacção de TODO o tipo de novas associações
2) sempre apoiamos TODOS os lgbt que nos aparecem, sendo ou não membros da Opus, coisa que cada vez mais sócios de outras organizações constatam
3) sempre exigimos a presença de TODAS as associações lgbt legalmente constituídas no diálogo com os poderes públicos
4) a nossa página tem links para TODAS as páginas lgbt portuguesas não pornográficas
5) durante dois anos divulgamos TODOS os eventos das principais associações; nunca tivemos retorno; após recusa das restantes associações em divulgar os nosso eventos da Semana Pride 2003 num jornal que todos íamos pagar, afastámo-nos do jornal e passamos a divulgar só os eventos que consideramos de interesse político
6) sempre incentivamos todos os lgbt a trabalharem com TODAS as associações, conforme as suas simpatias e vocações
7) sempre elogiamos TUDO o que era de elogiar no trabalho dos outros

Não nos absteremos de criticar: as faltas de transparência; as faltas de democraticidade; a partidarização excessiva, e ligada a um só partido, dos timings e agendas do movimento lgbt português.

22.9.03
 
Nostalgias da falta de liberdade
Fui ver "Adeus Lenine". Basicamente a história dum filho que, por amor a uma mãe doente, que passou o período da queda do muro de Berlim em coma, filho este que, com receio de lhe provocar emoções fortes, não lhe conta o sucedido, recriando para ela a RDA que ela adorava, e mesmo a que ela lhe ensinou a sonhar. Um filme que tenta fazer ressaltar os valores bons que podem existir, mesmo quando não existe liberdade.

No entanto, não convence, visto a experiência duma cidade dividida por um muro ser do nível da enormidade e do horror, no que causou quanto ao afastamento de vidas, famí­lias, amigos - eu que o diga, que ainda este Verão chorei que nem uma Madalena, pelo que ainda se sente que foi o muro; mas também pelo que fizeram dele (o mais incrível e emocionante, para mim, foi o transformar duma coluna de observação, mesmo ao lado de Potsdamer Platz, num centro de música com Djs alternativos:))

A metáfora suprema do consumo/design, que de facto surge como o grande bónus - algo envenenado - do capitalismo, é a forma como o muro é decorado, inserido em múltiplos objectos, e de todas as formas consumido/vendido.

Por outro lado, fez-me pensar naqueles que hoje são contra o coming out, enquanto forma de assumir a homossexualidade própria da classe média branca americana (este o argumento mais queer, que considera que esta forma histórica concreta de viver a homossexualidade não deve ser imposta a outras etnias, a outras classes sociais, ou mesmo a outros continentes). Mas também existem aqueles que têm nostalgia da vida dupla, dos jogos de identidade a que a mentira obrigava, e são renitentes quanto à  utilidade desta transparência social (mesmo se localizada).

Enquanto activista, em Portugal, estou firmemente convicta do valor da visibilidade crescente das comunidades lgbt, enquanto propagador na cultura e na sociedade, da nossa existência normalÃíssima, por um lado, mas também excêntrica, em alguns casos. Diversa, portanto.

Já não estou tão certa que a principal resistência ao modo de vida fora do armário venha duma nostalgia da criatividade necessária para se viver na mentira; penso que a resistência vem muito mais do facto de muitos lgbt terem terror de sofrer um efeito de contágio de visibilidade se os amigos em seu redor começam a assumir-se e se eles, nos seus lugares e privilégios (por mais pequenos que sejam são os que têm medo de perder) acabam por ser descobertos por associação. Para estes, o encorajar do coming out feito pelas associações é uma violência, um grande perigo. Por isso, ao contrário do que se diz, por vezes quanto mais lobby gay há, mais nada se avança. E isto explica até, no meu entender, a surdez incompreensível (quando se conhece o que se passa no resto da Europa) que alguma esquerda finge ter face às questões lgbt...

 
Direito de Resposta no Público
Já repararam que, nos últimos 15 dias, o Público publica quase todos os dias um Direito de Resposta? Será que, de repente, os leitores reclamaram mais este direito, ou será que o Público está finalmente a concedê-lo? E porque será que resolveu, agora, mudar de atitude e dar uma de exemplo? Que credibilidade se pretende recuperar?...

Enfim, ainda não é bem como manda a lei, nomeadamente o relevo gráfico e a secção não são habitualmente os mesmos do texto que origna a resposta, mas já é um avanço.

De qualquer forma, só no dia em que os jornais tiverem duas ou três páginas por dia dedicadas a Direito de Resposta, se compreenderá a selectividade com que este Direito se deixa ou não exercer.....

 
Lay-Off na Administração Pública
Com total incapacidade de diminuir o défice por outras vias o Governo vai insistir em reduzir despesas nas poucas áreas que consegue controlar.

Depois de noticiado que o Ministério onde se tinha conseguido reduzir mais as despesas foi o da Educação, vem agora o mesmo método utilizado ser usado na Administração Pública em geral.

Mas, como se procedeu na Educação? Perdeu-se completamente de vista a qualidade dos serviços e utilizaram-se critérios total e exclusivamente económicos para fazer agrupamentos extensissímos (independentemente das especificidades das localidades) fechar escolas (independentemente do serviço público que faziam às populações), reduzir professores a horário zero (independentemente do nº de alunos por turma) e contratar funcionários em regime de contrato individual (quando há escolas que perderam mais de metade dos seus funcionários nos últimos dois anos), não mais de 5 horas por dia, para não ter de pagar subsídio de refeição.

E na Administração Pública? Em todo o lado se reclama que são necessários mais funcionários para a quantidade de serviço; diz-se que é por má gestão, mas veja-se os tribunais, as finanças...Quantas secções não poderão ser salvas por nenhuma gestão, por mais milagrosa que seja, se não forem contratados o dobro dos funcionários actuais?

A dita "flexibilização" do contrato de trabalho não é mais do que tornar compulsiva a des-localização dos trabalhadores (quando não o simples despedimento), em zonas de deslocalização que se querem, qualquer dia, superior ao tamanho dos distritos de residência, e sem qualquer respeito por ela. E depois dizem que são a favor das famílias....

20.9.03
 
As febres de rever profundamente a Constituição
Até aqui o Governo tinha defendido a ideia de que existiriam apenas alguns aspectos pontuais que mereceriam revisão constitucional, na linha de que alguma estabilidade constitucional é necessária e de que o tempo de experimentação histórica duma realidade constitucional não deve ser excessivamente curto, ambos argumentos nobres (se bem que esqueçam que existem aspectos que, pela sua injustiça, e independentemente destas temporalidades constitucionais, merecem alteração, como a inclusão da orientação sexual nas categorias que não podem ser discriminadas no 13º).

De repente, aperceberam-se que a nova Constituição Europeia obrigará a uma mais alargada revisão constitucional, eventualmente em aspectos que não serão do interesse de todos; os novos direitos de não discriminação dos homossexuais serão eventualmente um desses aspectos.

Assim, vindo do nada, o PP já se veio dizer interessado numa revisão mais profunda, que antecipe as modificações necessárias. Na minha perspectiva o que se pretende é fazer uma adaptação incompleta e selectiva agora, para depois se vir dizer que a adaptação já foi feita e que não se pode andar a rever a Constituição todos os dias.

Mais uma questão para por à prova quem é de facto a equipa ideológica do Governo, se a do PSD, se a do PP....

 
As febres de referendar a Constituição Europeia
O Bloco de Esquerda tem tornado cada vez mais clara a sua exigência de propor a referendo a Constituição Europeia, com o argumento do processo constituinte não ter sido representativo. De facto, os representantes dos Governos e dos Parlamentos dos países membros poderá dizer-se que representam, estatisticamente, o centro europeu, e que partidos mais radicais à direita ou à esquerda, como o BE, não puderam ter representantes, pelo menos duma forma directa. No entanto, a Convenção aceitou propostas de trabalho e discussão de todo o tipo de actores sociais, tendo sido, a este nível, o processo constituinte mais aberto de sempre. O BE pôde apresentar as suas perspectivas, individualmente ou em rede, e colher apoios para elas. Desconheço se o fez.

Quanto ao papel do Presidente da Convenção, ele foi de facto excessivo, mas nada que a Conf. Inter-Governamental não possa equilibrar.

Mas, no meio de tudo, o que me faz confusão é que, nem direita, nem esquerda, tenham discutido seriamente os diversos pontos que foram sendo agendados neste processo constituinte com o povo português e que pensem agora ser muito útil colocar a referendo um documento que é largamente desconhecido, em que as opções a colocar serão vistas apenas como "ou ficamos", "ou saímos".

O BE está interessado em medir a força do "saímos" e o Governo em aproveitar a sinergia da inevitável vitória do "ficamos". Ninguém está de facto interessado em discutir um assunto que devia ter começado a ser discutido com os portugueses há 2 anos! Mais uma fantochada, é o que é....

 
Ainda é possível ensinar e aprender
Há uns dias, José Manuel Fernandes, Director do Público, escreveu um editorial em que criticava o discurso xenófobo de Portas e re-lembrava as mais valias para o país que representam os emigrantes. A clareza e consistência da sua reacção é de aplaudir, principalmente porque aconteceu antes das reacções do PSD.

Mas principalmente ainda porque é uma pessoa suspeita de tudo menos de apoiar a diversidade...Para quando um editorial assim sobre a homossexualidade?

 
Ana Carolina
Comprei o último CD desta brasileira. Os penúltimos eram solarengos, efusivos. Este é um retrato da dor: difícil, assimétrico, sempre coxo.

Já não sei se foi o Kundera que recomendava que a melhor maneira de descrever uma dada emoção era colocando-nos na posição contrária: descrever o quente com frieza, o frio com calor, etc.

Ana Carolina canta/escreve a dor com dor. E não resulta.

19.9.03
 
Ainda o Dicionário, mas melhor
Duas entradas estão francamente melhores: a relativa à adopção e a relativa à idade.

Na da adopção faz-se uma distinção clara entre direito de filiação (fundada na vontade) e reprodução.
Por outro lado, denuncia-se a forma como a família monoparental é diminuída e considerada uma família de segunda ordem, mesmo se o adulto em causa for heterosexual, simplesmente porque não é uma família "papá-mamã-criança".
No entanto, a entrada refere apenas de fugida a questão do interesse da criança, que tende a aparecer como oposto à vontade do adoptante homossexual, querendo dar desta vontade a impressão de ser um mero capricho. Ao fugir a esta questão não reconceptualiza a parentalidade em termos de função de cuidado por parte de alguém significativo para a criança.

A entrada relativa à idade, do próprio Eribon, é bastante crítica das comunidades homossexuais, principalmente dos gays. O autor salienta o agismo (discriminação com base na idade) praticado pelos gays, que tendem a considerar diminuído o valor sexual do homem de mais de 40 anos, assim como a recusar-lhe subtilmente a presença em determinados espaços de sociabilidade, nomeadamente os bares, saunas, etc. Curiosa é a ideia de que as subculturas leather, bears e daddies (que não sei quem sejam - serão os gays mais velhos que gostam de gays mais novos?) alargaram as idades "admissíveis" nos lugares de sociabilidade gay. Curiosa também a ideia de que as relações intergeracionais são muito mais condenadas pelos homossexuais, do que pelos hetero, como se houvesse uma interiorização do medo da acusação pedófila (digo eu) ou como se fosse de facto impossível uma relação sexual satisfatória entre duas pessoas de geração diferente (como se houvesse uma desigualdade sexual inultrapassável que faz com que a relação nunca seja sexualmente autêntica mas sim motivada por outros interesses menos nobres - digo eu, também). Tudo derivado duma leitura fortemente sexualizante das relações, principalmente das relações gays, digo eu também.

Por fim há um alerta para a forma como as situações de dependência do idos@ podem acarretar um regressar ao armário de pessoas que viveram a sua vida duma forma assumida. Daí a importância dos lares para homossexuais, enquanto uma vivência não discriminatória e não sufocante não está disponível nos lares comuns.

18.9.03
 
DE NOVO OS GÉNEROS
Iniciei há tempos a leitura da minha mais preciosa compra de Verão, o Dictionaire des cultures Gays et Lesbiennes" (org. Didier Eribon, Larousse!) e, a propósito dos géneros, há uma entrada inicial que me deixou algo desconfortável, enquanto lésbica: é a entrada referente a Activo/Passivo.

A entrada começa por ligar heterosexualisticamente o activo ao penetrador e o passivo à penetrada e começa depois, paulatinamente, a desconstruir essas relações. Refere os anúncios homossexuais em que se transformaram em top e bottom (mas não se percebe se também está a falar das lésbicas). Refere a apropriação S/M, que os transformou em "dominador" e "escravo" (novamente, não o refere, mas numa perspectiva muito mais gay - nem sequer refere as dominatrix). Refere a ideia de que quem "enraba" mantém a masculinidade mas que quem é "enrabado" é conduzido à feminilidade (ainda muitíssimo vigente: veja-se a condenação do pedófilo de Espinho, com particulares atenuantes porque os jovens eram activos e portanto a sua masculinidade não teria sido afectada, juiz dixit...). Refere que a prática sexual a que se refere o activo/passivo variou, nomeadamente com os feladores activos e passivos.

O mais interessante que refere, na minha perspectiva, é a forma como alguns tentam não se fixar e se definem como (novamente gays) "recto-verso" ou "autoreverse" (o que me pôs a pensar se eu seria uma lésbica "fast-forward" ou "slow-forward" :) Definitivamente forward, nunca rewind:) Já entre back e front teria as minhas dúvidas:)

Bem, mas o que irrita é que há apenas um breve comentário ao facto das lésbicas também andarem a repensar este sistema activo/passivo, nomeadamente com o butch/femme, e nada mais. Não há qualquer referência às famosas soft butch, ou top femme, que representam precisamente o reverso do activo/passivo tradicional. Nem às lipstick lesbians, que representam uma ênfase irónica na feminilidade, já de si enfatizada, da mulher heterosexual.

E, mesmo para os heterossexuais, é pobre. Como vamos chamar ao homem que gosta de ser penetrado pela mulher e à mulher que penetra homens (géneros muito mais existentes em Portugal do que se supõem)?

Enfim, eu já estava desconfiada quando vi que nenhuma das lésbicas do Zoo, um colectivo de reflexão queer francês de que conheço alguns trabalhos, desconfiada por nenhuma delas fazer parte da equipa de colaboração do dicionário, nomeadamente Mari-Hélène Bourcier.

Quando vi esta entrada fiquei ainda mais desconfiada... Esperava-se mais da pluralidade de visões propalada por Eribon no Prefácio...........

 
DIFICULDADES COM OS COMENTÁRIOS
Peço desculpa a quem colocou comentários no entretanto mas, por dificuldades de programação, tiveram de ser retirados (todas as entradas iam parar ao mesmo comentário). Vamos lá a ver se agora consegui resolver isso - se há páginas de comentário diferente para cada entrada........

17.9.03
 
EXPERIMENTA DESIGN COMEÇA HOJE EM LISBOA!
Sempre resisti à ideia da pós-modernidade como produtora de maior liberdade estética. A ideia de que hoje podemos escolher muitos "estilos de vida". É óbvio que podemos CONSUMIR muitos estilos de vida, mas não tanto criá-los.

No entanto, viagens neste Verão pela Europa Central e pelos países do Alargamento permitiram-me concluir que a relação da liberdade com o design deve ser maior do que aquela que pressupunha. No mínimo terei de concluir que está na raiz do capitalismo a liberdade de consumir com design - e que esta característica diz mais da sua especificidade do que sempre pensei.

Assim, a Experimenta deste ano, sobre os consumos do design, é para seguir com atenção. Olhem que é uma Bienal de Lisboa! Não temos assim tantas.......

 
FANTÁSTICAS MENINAS!
Ontem, no telejornal da TVI, estiveram fantásticas a Rita e a Sara, da Ex Aequo. E também muito jeitosinha a peça! Sim, senhora!
Só não achei grande graça ao desconforto da Moura Guedes e às suas questões parvas....

 
Pernas, piscinas e outros azuis profundos
Retornei hoje à minha piscina. Por sorte estava totalmente vazia (não vou dizer onde é:). Andei por ali a pairar nas águas uma boa hora e concluí de novo que não houve melhor decisão na minha vida do que a de depilar definitivamente as pernas (e bem mais barato do que se possa pensar - é uma boa coisa para se pedir um crédito, se necessário:)

Sim, eu era uma lésbica (muito) peluda, orgulhosamente muito peluda (réstias de imagens de pernas de mulher, peludas, fantásticas, da minha adolescência). No entanto, não tão orgulhosa que conseguisse ir a uma praia ou uma piscina as vezes que me apetecesse, quando me apetecesse, sem sofrimento - e isso era uma das piores faltas de liberdade que sentia na minha vida.

Assim, se bem que não acredite que feminilidade é beleza e masculinidade força e performance, aceitei sujeitar-me ao padrão corporal dominante - e depilei.

Ainda estou depilando, porque isto é coisa para uns bons dois anos, se bem que ao fim de meio ano os resultados já são muitíssimo satisfatórios. E não pensem que só vi por lá mulheres. Não, muitos rapazes por lá andam, a depilar costas e, para mim surpreendemente, peito. Surpreendente porque demonstra o quanto também os homens já interiorizaram a estética anti-pêlo como valorização pessoal, no fundo como afirmação duma masculinidade "higiénica". Para mim é um disparate, como é que alguém que tem ao seu dispor modelos de pelosidades múltiplas, sem nenhuma pressão social para a retirada do pêlo, interioriza esta estética "higiénica". Enfim, para existirem dominados, e variados, basta existir dominação......

Para culminar a experiência da piscina, uma condução solitária e musicada por uma auto-estrada tranquila, veio mesmo a matar. Sim, que eu também tenho uma grande costela de "poor lonesome cowboy" :) Quem conhece o gabarito da minha sela já se deve estar a rir...

 
A formulação de ontem continua a deixar-me insatisfeita. Rendo-me: a igualdade de direitos/deveres só poderá acontecer se a diferenciação erótica for individual e não grupal. Acabam-se as minorias/maiorias sexuais. Vive l'amour...

16.9.03
 
Apesar dos dois textos que abrem este blog (textos que foram divulgados via Opus Gay) este blog poderia chamar-se “Dúvidas duma activista lgbt”, ou de como tudo é sempre muito mais complexo...

Tomemos por exemplo o texto sobre o aborto. E a utopia de que não deviam existir géneros na nossa sociedade, de que não deviam existir, e este é o ponto, hierarquias. Há aqui duas coisas que me fazem comichão: uma, a de deixarem de existir homens e, principalmente, mulheres, pelo menos tal como os conhecemos; outra, a da via para a não hierarquização: a diversidade não hierárquica ou a unificação igualitária?

Quanto à primeira, sinceramente a que mais me incomoda (preconceitos bifóbicos assumidos) penso o seguinte: o que será de nós lésbicas, o que será da maravilhosa atracção que sentimos pelas mulheres, se estas desaparecerem e se confundirem com os gajos (pesadelo!). Penso que não chegaremos efectivamente a tal. Penso que chegaremos a um tempo de igualdade de direitos e deveres entre todos os géneros (definitivamente mais do que dois, ou três), mas não a um tempo de indiferenciação erótica.

Sempre fui alérgica a pressupostos naturalistas e como tal penso que o valor erótico de um dado género é uma construção social, por nós interpretada e negociada, nas nossas fantasias e relações. Não penso que o valor erótico duma mulher, tal como ele é vivenciado por mim hoje, tenha algo a ver com formas, arquetípicas mas visíveis, a la Lacan.

Assim, o que me agrada é a ideia de que sempre haverá diversidade de atracção erótica, mais ainda do que hoje, porque mais géneros sexuais existirão. E, quem sabe, uma minoria sexual do futuro gostará de homens e de mulheres, e não gostará de um outro género, existindo outras divisões quanto à orientação sexual que hoje não existem, sendo outros os critérios de divisão da atracção erótica.

 
IGREJA, POLÍTICOS, HOMOSSEXUALIDADE E MEDO
A Congregação para a doutrina da Fé, cujo prefeito é a segunda figura da Santa Sé, Cardeal Joseph Ratzinger, publicou em Agosto o documento "Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais", que João Paulo II aprovara na Audiência concedida a 28 de Março de 2003 ao mesmo Cardeal. Este documento pretende ser uma recomendação a todos, mas especificamente aos políticos, como já tinha sido um outro emitido em Novembro de 2002.

As considerações realizadas neste documento sobre a homossexualidade são de tal forma ofensivas para com os homossexuais que provocaram reacções em todo o mundo, não só por parte de activistas homossexuais, como também por parte de políticos, que consideraram excessiva a tentativa de intromissão da Igreja Católica na produção legislativa de Estados laicos, assim como por parte de muitos católicos.

Infelizmente, em Portugal, nenhum partido ou político ergueu a sua voz em defesa da legislação existente, reconhecedora das uniões homossexuais, nem sequer os partidos que se afirmam laicos. Bem ao contrário do Parlamento Europeu que, poucos dias depois, votou desafogadamente um relatório sobre Direitos Humanos na EU em 2002, onde recomenda a adopção de legislação que permita aos homossexuais casarem e adoptarem.

Discordante foi também a reacção dos próprios católicos. No site da Igreja Católica, www.ecclesia.net , está on line a discordância do Padre Manuel Vieira, chefe de redacção do conhecido jornal católico eborense "A Defesa". Este padre português considera que, com estas posições, a Igreja falha totalmente o alvo no que são os verdadeiros inimigos da família e do matrimónio, e afirma ainda: "As pessoas homossexuais têm direito à sua realização afectiva e sexual. E isso passa pela união com pessoas do mesmo sexo. Sujeitá-las à clandestinidade é promover a instabilidade. Ao contrário do que se afirma, é mais prejudicial ao equilíbrio do tecido social essa precaridade do que o enquadramento social dessas relações." E quanto ao reconhecimento jurídico das uniões homossexuais afirma: "Argumentar que essa legalização poderia levar ao aumento da "efectiva incidência" da homossexualidade no tecido social é desonesto: nenhum heterossexual se transforma em homossexual devido a essa possibilidade jurídica. É do senso comum que o que acontece é, com muita frequência, o contrário: homossexuais que, para fugir aos estigmas sociais, acabam por assumir relações heterossexuais feitas de muitos desequilíbrios e frustrações."

O Padre Manuel Vieira critica a atitude da Igreja Católica face à sexualidade, assim como a sua atitude destrutiva em consequência desse embaraço: "A defesa da família e do matrimónio é urgente e necessária. Mas deve ser feita pela positiva e pela defesa dos seus valores intrínsecos. E o que não falta são argumentos para essa defesa. Combater contra moinhos de vento, só baralha mais as coisas.
No que diz respeito à sexualidade e à moral dos afectos, a Igreja insiste em falar para os anjos em vez de se dirigir às pessoas. E, como se sabe, os anjos não têm sexo...".

Este sensato e perspicaz Padre termina o seu texto lamentando a concertação de posições entre a Igreja Católica e George Bush, no que à condenação do casamento homossexual diz respeito.

Outros católicos, no mesmo site, têm uma visão menos inquisitorial e persecutória dos homossexuais do que o Cardeal Ratzinger. Por exemplo, Mary Anne Stilwell d'Avillez
Consultora da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais, também formadora em educação sexual, num texto sobre abuso sexual praticado por padres, distingue claramente pedofilia de homossexualidade e homossexualidade de anormalidade. Para esta católica o que importa é o desenvolvimento emocional da pessoa, inclusive dos padres: "Os estudos não demonstram uma ligação entre a orientação sexual e o abuso de crianças. James Keenan refere no seu artigo no "The Tablet" que dois especialistas na área da homossexualidade entre padres, Eugene Kennedy e o P. Donald Cozens, autor do livro "The Changing Face of the Priesthood", comentam que o que os preocupa é a maturidade sexual e emocional do padre e não a sua orientação sexual. Um homem que não consegue viver bem com a sua sexualidade, qualquer que seja a sua orientação (homo ou heterossexual), pode bem "fugir" para o Seminário pensando que o assunto fica resolvido com o celibato. É da maior importância que os seminários tenham formadores bem qualificados na área da sexualidade para poderem despistar e ajudar estes homens a resolver os seus problemas."

De tal forma esta católica se preocupa com a vida afectivo-sexual dos padres, inclusive os homossexuais, que afirma: "Todos nós podemos viver sem relações sexuais, mas ninguém pode viver sem relações afectivas. Libby Purves, no seu artigo "The real questions about celibacy" no "The Tablet" de 4 de Maio de 2002, preocupa-se com a solidão vivida por muitos padres. "Mas negamos (a intimidade) aos padres. Obrigamo-los a ser monges sem um mosteiro, andando à deriva num mundo de casais com pouquíssimo apoio. Mesmo a amizade é difícil se não tiverem pais nem irmãos; a sua solidão deve ser enorme."

De facto, outro dos grandes motivos pelo qual esta posição da Igreja Católica é desastrada, precipitada, e apenas resultado duma grande desorientação perante a forte, crescente, inadiável e irreversível conquista dos direitos homossexuais, é a dificuldade que as posições defendias têm em, por um lado, apontar um caminho de "respeito" para com os homossexuais, desde que castos e discretos, como por exemplo muitos padres (alguns não tão castos assim, como muitos paroquianos portugueses bem sabem) e, por outro lado, condenar a homossexualidade visível, social e legalmente aceite.

Porque, não tenhamos dúvidas, o que a Igreja Católica pretende não é nada mais nada menos do que manter o status quo da invisibilidade homossexual, nomeadamente da invisibilidade homossexual dos seus padres, que são muitos. Por isso este documento distingue entre a homossexualidade como "fenómeno privado" tolerável e a homossexualidade como "relação social legalmente prevista e aprovada", que condena. Estudos realizados pelos próprios católicos (alguns em que são os próprios padres a assumirem-se) apontam para valores entre 25 a 60% de homossexuais entre todo o tipo de clero. Existem, por exemplo os Grupos de Padres Católicos Homossexuais da Alemanha. Isto sem referir muitos dos homossexuais que ao longo da história pertenceram à Igreja Católica, nomeadamente Papas e Bispos, como está documentado.

Assim, a Igreja Católica não pretende, de forma alguma, criar um tal incómodo no homossexual cristão, no padre homossexual cristão, no noviço homossexual cristão, um tal incómodo dizíamos, ao ponto deste não se sentir acolhido na instituição. Não. A Igreja pretende, sim, que a vida do homossexual leigo continue tão infernal como sempre, tão discriminatória como sempre, para que possa, ela, "caridosamente", acolher no seu seio todos os que desejem ser tolerados na sua homossexualidade. E ainda com o bónus de ser uma instituição predominantemente masculina e com fortes probabilidades de cohabitação exclusivamente masculina. Trata-se duma questão de preservar uma das maiores fontes de mão-de-obra clerical: a vergonha homossexual. Quantos jovens portugueses não foram assim encaminhados para uma vocação que verdadeiramente não sentiam, somente para fugir da vergonha social, que a própria Igreja é a primeira a alimentar. E foram, e são, milhares de vidas desperdiçadas, inautênticas, entregues a uma instituição que meramente prega a tolerância mas nunca os respeita. Sim, porque apenas se tolera aquilo que não se aceita.

Por isso toda esta campanha é ditada pelo medo; pelo medo da visibilidade homossexual clerical.

Perante semelhante desorientação e desespero de causa, a Opus Gay não considera necessário fazer, como o fez o Grupo Gay da Bahia, uma campanha de apostasia. Esta campanha de apostasia (de que existem formulários na net) consiste em alguém exigir a exclusão do seu nome do registo das pessoas baptizadas na fé católica. A Opus Gay, num acto de compaixão, fé e esperança, considera que a Igreja Católica portuguesa saberá interpretar devidamente os verdadeiros receios deste documento e lutará contra os seus verdadeiros inimigos: a destruição dos espaços de intimidade e autenticidade pessoal provocada pelo consumismo e pelo neo-liberalismo (e, dentro da Igreja, a cegueira ao amor humano). Não inventemos pois mais ódio e mais falsos inimigos. Assuma-se a Igreja homossexual, como é do conhecimento de todos, e vamos em frente. Por uma Igreja da diversidade numa sociedade da diversidade.


 
Parentalidades e aborto - uma questão de cuidado e de escolha responsável

As ciências sociais e humanas demonstraram já que são os conceitos sociais de masculinidade e de feminilidade que permitem ler os sinais anatómico-fisiológicos que interpretamos como sinais de que estamos perante um macho ou uma fêmea da espécie humana; ou seja, o conceito social de género antecede o de sexo, revelando toda a ideologia que pode estar contida na biologia, ao contrário do que sempre se pensou.

Os géneros socialmente criados pela nossa civilização são dominantemente heterogéneros, ou seja, são definidos na reciprocidade (assimétrica) duma relação heterossexual entre eles. Traduzindo, um homem só o chega a ser verdadeiramente quando pratica a heterossexualidade, de preferência sob a forma de penetração sexual duma mulher (masculinidade que é conquistada independentemente do prazer da mulher, note-se); uma mulher só o chega a ser verdadeiramente quando aprende as estratégias de sedução/resistência face a um homem. Ser homem é ter actividade sexual com uma mulher; ser mulher é gerir a sua atractividade sexual face a um homem, sem necessariamente ter de praticar, note-se. Daí os diferentes padrões corporais, emocionais e cognitivos que se esperam dum homem "realmente" masculino e duma mulher "realmente" feminina. Está assim criada uma "correspondência natural" sexo/género/orientação sexual/funções sociais.

Hoje sabemos que existem homens femininos heterosexuais, homens masculinos gays, mulheres masculinas heterosexuais, etc. No entanto, apesar de se caminhar para a possível troca de padrões em algumas circunstâncias, não caminhamos ainda para uma sociedade igualitária, sem género (onde seja indiferente, no que a direitos e deveres diz respeito, ser identificado como macho ou fêmea).

A necessidade de manter uma diferença de género, de separar claramente o masculino do feminino, é, sempre foi, não uma mera necessidade de diferenciar mas sim uma vontade de hierarquizar, de manter a assimetria, mantendo simultaneamente uma falsa noção de oposição/complementaridade (que visa somente impedir a troca de lugares). Obviamente que não se trata das mulheres quererem ser como os homens ou dos homens quererem ser como as mulheres. Trata-se de ambos, e outros que virão, poderem ser algo totalmente diferente e com muito mais potencialidades.

Na nossa sociedade, também os direitos/deveres sexuais e reprodutivos de homens e mulheres nunca foram os mesmos. Duma forma demasiado fácil e determinista sempre se quis ler o facto biológico de serem as mulheres a engravidar para, sem mais interrogações, lhes atribuir especiais funções de cuidado face aos filhos, funções essas a que chamamos maternidade. Estas funções seriam exclusivamente femininas e seriam o oposto/complemento das funções de cuidado apelidadas de paternidade.

Também aqui as coisas se baralham quando vemos homens a assumir funções tradicionalmente de maternidade e mulheres a assumir funções tradicionalmente de paternidade, e independentemente de serem homo ou heterosexuais. Estas realidades são sinal de que também estas funções parentais, maternidade e paternidade, devem deixar de ser vistas como opostas/complementares e tornar-se múltiplas potencialidades de funções de cuidado e de escolha responsável. Independentemente de nos estarmos a referir a homo ou heteroparentalidade.

O Estado, patriarcal e machista, ao não permitir uma maternidade responsavelmente escolhida, tenta simplesmente unir apressada e deterministicamente três aspectos na vida duma mulher: gerar, parir, criar. E tem ainda a hipocrisia de o fazer quando se sabe que hoje em dia as mulheres tendem a pagar cada vez mais sozinhas o preço de criar um filho, mesmo que tenham um companheiro.

Assim, são as mulheres (e não os homens) que são impedidas de ter as mesmas performances de carreira do que os homens quando há que cuidar dos filhos. E são as mulheres (e não os homens) que, além de ganharem menos em empregos onde não podem concorrer oferecendo o mesmo tempo disponível que os homens, são também as mulheres, que vêem acrescentadas ainda mais horas de trabalho doméstico não pago ao seu dia-a-dia, ao terem de cuidar de um filho. E são ainda as mulheres (e não os homens) que deixam de ter tempo para a vida pública e política. E são também as mulheres (e não os homens) que mais dificuldade têm em refazer uma vida conjugal quando têm filhos.

Só uma parentalidade escolhida e responsável permitirá um dia que homens e mulheres possam viver, na mesma proporção, trabalho e família, vida privada e vida pública. Nem os homens têm de continuar a cair na armadilha de trabalhar duas e três vezes mais horas do que antigamente para manterem o privilégio de serem os provedores de recursos financeiros à família, nem as mulheres a cair na fatalidade de arcar com todo o peso do trabalho doméstico não remunerado. Todas as estruturas sociais, empresas inclusive, devem pagar os custos da reprodução da espécie, não única e individualmente cada mulher.

Por todas estas razões, e também porque não têm que ser reféns das capacidades reprodutivas do seu corpo, é às mulheres, a cada mulher, que deve ser dada a possibilidade da escolha: quero ou não ser mãe, duma forma responsável e ponderada?



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