Queer Blog
26.2.04
 
Afinal havia outro
Há um outro artigo subterraneamente homofóbico publicado no dia de hoje ao qual não vi referência nos blogs (não vi todos, claro). Refiro-me ao editorial de José Manuel Fernandes, que desta vez não se chama Tratar diferente o que é Diferente, mas sim Guerras Culturais. E que é muito mais perigoso.

Guerras Culturais
Por JOSÉ MANUEL FERNANDES (jose.manuel.fernandes@publico.pt )
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2004

A súbita emergência das "guerras culturais" na campanha presidencial norte-americana, para além das conveniências e inconveniências que provoca a democratas e republicanos, tem pelo menos um mérito: recorda-nos que naquele país as coisas discutem-se abertamente, com frontalidade, por vezes contundência, mas sobretudo argumentos.

A questão dos casamentos gay, realizados na cidade de cultura mais esquerdista dos Estados Unidos, incomoda os democratas - que preferem, de uma forma geral, ficar pelas uniões de facto - e incomoda os republicanos, cuja base eleitoral rejeita ferozmente o que se está a passar em São Francisco mas que também sabem que avançar com uma emenda constitucional não acolhe o apoio da maioria dos eleitores.

Eleitores que, de resto, se comportam tipicamente como... cidadãos dos Estados Unidos: são maioritariamente contra os casamentos gay e maioritariamente contra uma proibição constitucional formal. Parece contraditório mas reflecte a cultura política de um país onde, ao contrário do nosso, não se acha que tudo se resolve com leis ou revisões da Constituição. E que preza o pluralismo sem acreditar que isso corresponda a ausência de luta acesa de ideias.

Nas últimas décadas foi exactamente a isso que assistimos, primeiro com a ascensão da "contra-cultura" alimentada pelo espírito dos anos 60 e 70 - duas décadas com 12 anos de presidentes democratas e Watergate pelo meio -, depois com a reacção conservadora iniciada por Reagan que recentrou o país e permitiu que, nos últimos 24 anos, em 16 tenha estado na Casa Branca um Presidente republicano.

Foi durante estas "guerras culturais" que se puseram em causa todos os excessos, desde a ditadura do "politicamente correcto" nos meios intelectuais mais liberais à intolerância face à diferença nos meios rurais mais conservadores. Houve e há espaço para todos dizerem o que têm a dizer sem que, de imediato, se passe ao insulto que visa a ostracização do adversário. Prefere-se o argumento e o estudo da realidade, o que permite que quem entre em qualquer livraria encontre facilmente, na prateleira dos livros mais vendidos, quer os livros panfletários do arqui-inimigo de Bush, Michael Moore, quer as obras venenosas de Peegy Noonan, que escreveu muitos dos discursos de Reagan. Isto para não falar da pluralidade de revistas de opinião ou de "think thanks".

Independentemente do que se pense das diferentes posições, a verdade é que o clima de debate aberto é bem diferente da claustrofobia portuguesa onde se procura "despachar" os debates catalogando de imediato os opositores. Isso nota-se nas nossas pequenas "guerras culturais", sejam elas em torno do aborto ou da adopção de crianças por homossexuais. É, por exemplo, quase impossível debater o que quer que seja sobre gays e lésbicas sem que surjam acusações de "homofobia". Ou permitir que as Igrejas entrem nos debates sociais e culturais sem ver isso com desconfiança.

Esta falta de qualidade nos debates, a facilidade com que o insulto substitui a argumentação, faz com que por vezes ouçamos elogiar posições diferentes por serem "corajosas". Mas corajosas porquê? Será que alguém vai preso por ter opiniões que vão contra a corrente (corra ela em que sentido correr)? Ou será que ainda é necessário pedir autorização a polícias do pensamento para divergir?

Aprendamos com os bons exemplos. Não tenhamos medo de discutir. E de assumir também as nossas "guerras culturais".


E porque é perigoso?
1) é desonesto intelectualmente ao não contextualizar a discussão dos casamentos gay nos EUA salientando que nos EUA há legislação anti-ódio anti-homofobia
2) ou seja, nenhum político nos EUA se atreve a dizer que os gays são anormais; apenas se discute se devem ou não ter direito ao casamento
3) o epíteto "guerrras culturais" é apenas um disfarce para aquilo que não são mais do que guerras onde existem fundamentalismos religiosos; se fossem culturais respeitavam o desenvolvimento cultural, logo os direitos humanos iguais para todos
4) recusa-se a ver que o povo americano, ao não querer proibir os casamentos gays e não os querer agora, está apenas a dizer que precisa de tempo. E que a questão não se pode definitivamente encerrar com uma proibição.


 
Feridas - ainda dificuldades internas do movimento lgbt
Car@s: vou publicar aqui um email do António, enviado hoje a todos os envolvidos, a propósito das dificuldades pessoais que tem em dialogar com algumas pessoas do movimento, não deixando no entanto que essas dificuldades impeçam o prosseguir do diálogo institucional da Opus com outras organizações, através doutras pessoas.

Apesar de se tratarem de questões que afectam principalmente a dignidade das pessoas, penso que estão ligadas a feridas no diálogo inter-associativo que têm de ser totalmente expostas para poderem um dia ser cuidadas e cicatrizadas. Eis aqui a posição do meu querido amigo António:

Companheir@s

Nao tenciono ir à reuniao do proximo dia 6 de Março, na residência
particular do Miguel Vale de Almeida/Paulo Corte Real , cujo convite já
agradeci pessoalmente, para decidir questoes politicas e publicas ,
relativas ao Pride 2004,pelas razões que a seguir exponho, e que vos
avanço atempadamente:
1-Nao considero pertinente que uma reuniao desta importancia politica, se
realize numa semi-clandestinidade periférica ,em casa particular, no 30 º
ano das comemoraçoes da Revoluçao de Abril, aparentemente, graças à
intervençao de boa vontade de um militante socio- activista da Ilga-p, e
afirmativamente militante partidario ,que aliás, conheceu bem,e também
permitiu todo o processo da crise forjada contra a Opus Gay ,havendo
disponiveis dois espaços publicos centrais onde ela se devia realizar: o
"Centro Comunitario Gay e Lesbico de Lisboa",e a sede Opus Gay.
2-Considero desmoralizante que nenhuma associação ou grupo das que fazem
parte dos colectivos lgbt portugueses tivesse tido a coragem de , em
primeiro lugar ,convocar a reuniao, e seguidamente, proposto os locais
possiveis .Concluo que estão portanto, sem forças morais pelo que
(nao)fizeram , ou sem iniciativa politica.
3-Finalmente, tenho como dado objectivo, que desde que a Opus Gay foi
fundada, e eu estou´à frente dos seus destinos , para meu enorme
espanto, fomos, e fui sistematicamente
insultado(s ),vilipendiado(s),maltratado(s), caluniado(s) e objecto de
intrigas e complots , por modos e formas absolutamente inconcebiveis e
vergonhosas de grande pendor homofobico, mas sempre incutidoras de ódio
contra a Opus Gay ,e contra mim . Os autores são pessoas glbt dos
quadros associativos, sendo que a maior parte delas nunca me conheceu,nem
conhece,nem falou comigo alguma vez, a despeito de ter solicitado inumeras
audiencias,nunca obtidas, para clarificar equivocos, e agiram a partir de
informes dados por outros,que tambem nao me conheciam,nem o meu curricullum.
Por palpites!
4- Assim, apelidado desde "senil","terrorista"
,"vendido","criminoso","oportunista","ambicioso","populista
anti-democratico,"perigoso" ,"o que até hoje mais prejudicou em Portugal, os
glbt", "infiltraçao do Le Pen " "pimba", "de extrema direita","chulo", "com
graves problemas na justiça", "sedento de aparecer nos midia" , etc,
chegando a propor-se a " expulsao" do proprio movimento glbt, e até a
irradiaçao dos endereços da Opus dos sites glbt,tudo lhes foi permitido
chamar-me/nos ,irresponsavelmente .Tudo foi dito, tentado, e publicado
em listas/locais publicos/sites/blogues , ligados a lideranças desta
causa, perante o silêncio acariciante de inúmeros responsaveis glbt, ou
com o aplauso de muitos outros , que sempre desejaram o "esmagamento da
Opus", por causas "naturais", ou artificiais,como um deles chegou a
lamentar que nao tivesse acontecido.
5-Nao tendo havido até à data, da parte de nenhuns dos intervenientes
nestas campanhas ,qualquer tentativa ,mesmo a nivel particular, de mostrar
com um minimo de sinceridade que houve um engano com essas atitudes(sem
pretender humilhar ninguém) , ou de uma possivel autocritica aos processos
e tacticas utilizados, nao estou disponivel para me encontrar,
presumivelmente, com tais protogonistas, no referido local , pelo respeito
que tenho de mim proprio, e que eles deviam ter de si mesmos,depois do que
disseram e fizeram e pensam de mim .
Julgo aliás, que esta proposta de reuniao surge porque se
aproximam etapas eleitorais importantes este ano(Junho 2004),e nao foi
possivel,afinal , isolar a Opus Gay,como se desejava .
6-Considerando os interesses, ditos do movimento glbt ,( que por este
caminhao nao irão a bom porto, nem sao de forma nenhuma prestigiantes,nem
nunca mobilizarão novos actores sociais,), mas considerando que poderá
estar em causa a organizaçao da "Marcha do Dia do Orgulho de 2004"
,solicitei logo à Anabela,vice Presidente da Opus Gay, que tambem se
voluntarizou , e a outro membro da Direcçao , que nos representassem
institucionalmente nesse encontro, do dia 6 de Março ,sabendo de antemao que
terão todo o meu acordo para as decisões que resolverem tomar.

Votos de trabalhos transparentes , e agradecendo a atençao ,
A Luta continua!
sou
Antonio Serzedelo


 
Estratégias políticas vs estratégias judicialistas
Há uns meses, quando a Opus Gay decidiu processar César das Neves pelos seus artigos homofóbicos e insultuosos, algumas pessoas e organizações, lgbt e não lgbt, afirmaram que não concordavam com essa via, a via judicial, que estas questões deviam derimir-se na arena política e que nada se ganhava em serem judicializadas. Uma das pessoas que, em conversa tida na cerimónia de união do Vale de Almeida e do Paulo, se predispôs a fazer o tal ataque e enquadramento político foi Miguel Portas, do Bloco. Prometeu mesmo um artigo a respeito para breve. Até hoje, nem por ocasião deste senhor, nem por ocasião agora de Villas-Boas o tal artigo - já não digo discurso político - saiu.

De facto, é impressionante a falta de cultura política e de confiança dos políticos portugueses, que não se atrevem a fazer qualquer pedagogia contra a homofobia - com medo de serem encostados à pedofilia, será? Nem políticos, nem organizações amigas, nada. Apenas alguns opinion makers, muito louvávelmente, criticaram à altura as palavras de Villas-Boas. Sinceramente, tendo em conta a evolução das mentalidades em Portugal, a desculpa da pedofilia já não pega. É pura falta de vontade política, é desconsideração pelas pessoas, é menoridade democrática.

Em França a direita de Chirac prepara uma lei anti-ódio que inclui claramente a luta contra a homofobia. Cá nem palavras se dizem... (quando se ouvirá no Parlamento ho-mo-fo-bi-a?). Perante isto, pergunto: que podem as organizações lgbt fazer que não seja processar mais um homófobo?

Ou mais dois: Pedro Nuno Pimenta Braz (santarem@apfn.com.pt ), da delegação de Santarém da APFN?


25.2.04
 
Estratégias
Em Espanha a mesma estratégia está a ser seguida já há alguns meses. No Brasil há quem reclame pelo seu início. E por cá? Teremos a meia dúzia de casais necessários para o arranque?


THE STATE
S.F. Wedding Planners Are Pursuing a Legal Strategy
By Maura Dolan and Lee Romney
Times Staff Writers

February 22, 2004

SAN FRANCISCO ÷ The strategy was methodical. For more than a dozen years, lawyers for gay and lesbian causes had carefully selected their battlefields, identifying key states for constitutional challenges aimed at broadening their rights.

California was not to be one of them ÷ at least not any time soon ÷ and marriage was not supposed to be the central legal issue, at least not yet.

But over the last two weeks, San Francisco Mayor Gavin Newsom dramatically accelerated the legal strategy.

Gay marriage had been debated in the abstract, allowing opponents to depict it as dangerous, he argued. What the legal strategy needed was real couples to place before the courts. The plan should be to marry first and then fight the legal battle.

More than 3,000 same-sex marriages later, that decision has opened the door to what could be a crucial legal test.

"In a way it feels like the dam broke," said Jon W. Davidson, senior counsel at Lambda Legal, the nation's largest lesbian and gay legal advocacy group.

San Francisco's actions were deliberately planned with the courts in mind, according to lawyers who were involved in the discussions.

Five couples ÷ whose stories would present the gay rights argument in the most sympathetic manner ÷ would be chosen as test cases. Leading national gay rights lawyers would be recruited to assist the city. The first marriages would be performed on a day when courts were closed, to ensure that opponents would not be able to block the move before the weddings were solemnized.

To win, gay rights advocates must still persuade the California Supreme Court to invalidate the state's family law, which limits marriage to "a man and a woman." That remains a high hurdle, legal experts believe.

On Friday, Gov. Arnold Schwarzenegger delivered a stern letter to state Atty. Gen. Bill Lockyer, directing him to take "immediate action" to stop same-sex marriages in San Francisco. Hallye Jordan, Lockyer's spokeswoman, said the attorney general planned to seek a judgment in the court case.

Largely, the gay-marriage proponents' legal strategy has been carried out without a hitch. Foes have gone to court four times in the last nine days seeking to block San Francisco's actions. Each time they have lost, and the long line of couples seeking to wed has continued to move forward.

Photos of young male married couples with babies strapped to their chests and elderly women who have been together for 50 years will help diminish any threat the public may feel regarding marriages between gay people, advocates hope.

"I think the parade of couples on TV and in the newspapers and magazines is what is going to change the public attitude about marriage of same-sex couples," Davidson said. "That is what it is going to take. Before, this was an abstract issue."

The planning began over the weekend before the first gay marriages took place, as Newsom plotted strategy with top aides, several of whom are gay.

On Feb. 9, city officials called lawyers for the American Civil Liberties Union, Lambda Legal and the National Center for Lesbian Rights. Those groups are now defending the city's actions, along with San Francisco's chief deputy city attorney, Therese M. Stewart, a lesbian who has long been active in equal-rights causes.

Starting some days with 6 a.m. conference calls, the lawyers worked round the clock to ready their plans.

On Thursday, Feb. 12, a day the courts were closed for the commemoration of President Lincoln's birthday, four of the five test couples were quietly ushered into City Hall to marry. Then, Newsom threw open the doors to the public.

Opponents of gay marriage have tried to keep the legal debate to a simple argument: State law does not allow same-sex weddings, and San Francisco has no right to bypass that law. They want an immediate court order blocking more marriages, but judges have put off a hearing on the issue until March 29.

"Here is my frustration," said Benjamin W. Bull, chief counsel of the Alliance Defense Fund, which defends traditional religious rights. "Clearly the city's strategy is to have tens of thousands of these same-gender licenses issued so, by the time a court rules on this, it may be more of a nightmare to revoke the licenses than it will be to validate them·. Wittingly or unwittingly, the Superior Court is playing into the city's hands."

Bull said his side planned to take depositions of psychologists, sociologists and family counselors "saying that children are better off in opposite-sex relationships."

Gay rights advocates hope to get judges to focus on a different issue ÷ whether laws, including Proposition 22, forbidding same-sex marriages violate the California Constitution's ban on discrimination. Each of the five test couples was chosen to illuminate a different aspect of that argument.

Early in the week leading up to the weddings, Kate Kendell, executive director of the National Center for Lesbian Rights, called Del Martin, 83, and Phyllis Lyon, 79. The two were poised to celebrate the 51st anniversary of their relationship on Valentine's Day. They would become the first couple to marry, offering an example of a long-established lesbian relationship.

Alexandra D'Amario, 38, and Margot McShane, 34, were next. McShane was at work in San Francisco when an ACLU lawyer called to see if the pair wanted to participate. D'Amario, pregnant with twins, was on her way to work as a therapist in Concord, across the bay. She didn't hesitate.

"I whipped the car in the other direction," said D'Amario, 38, who shares a home with McShane in Napa.

She thought about her mother, who died unexpectedly in September and always taught D'Amario to stand up for what was right. She also thought about the twins, four months along, and the rights and protections she wanted for them.

"I just feel that anything that's discriminatory is wrong," she said. "I just think it's important in this time in America to get active·. I can't wait to have children so we can bring them into court."

Jeffrey Wayne Chandler, 43, and David Scott Chandler, 40, country music and dance lovers who have been together 11 years, spoke in their court declaration of the problems they faced when a child they had through a surrogate parent was born prematurely and died. The San Francisco couple had to delay burying the dead child to complete legal paperwork that a married couple would not have been troubled with, they said.

Another couple, Sarah Kristen Conner, 35, and Gillian Zartha Smith, 34, of Oakland, suffered through two difficult years when one was homebound with a disability.

"Being married provides us with important protections that we know will be critical to us when future hardships arise in our lives," they said in their court papers.

A fifth couple, Cristal Rivera-Mitchel and Theresa Michelle Petry, both 43 and San Francisco residents, remain unmarried but hope to wed in the future. They are in the case to represent the harm that would be caused if a court ordered the marriages to halt.

Until recently, leading gay rights groups had shied away from test cases over same-sex marriage. Their initial focus was on court challenges to anti-sodomy laws across the country. That litigation achieved final victory last year when the U.S. Supreme Court declared criminal sodomy laws unconstitutional.

As the sodomy cases moved through the courts, gay rights lawyers also worked on custody rights for lesbian mothers. During the last decade, the battle has shifted to domestic partner rights.

Those efforts provided useful lessons.

"What we saw was that many states would interpret their state constitutions as being more protective of rights of equality and liberty than under the federal Constitution," Davidson said.

Even as the major groups hesitated to test laws on marriage, individual couples brought cases in Hawaii and Alaska. In both states, the gay couples won court fights, but then saw their victories overturned by referendums that amended their states' constitutions to ban marriage by same-sex couples.

Legislators in more than a dozen states are now debating making similar changes to their constitutions. Although most states have laws defining marriage as a union between a man and a woman, gay rights lawyers could challenge them as discriminatory under the states' constitutions.

There is also a growing movement to amend the U.S. Constitution to prevent gays from marrying throughout the country. But such amendments are extremely rare.

Gay rights groups, impressed by the earlier legal victories in Hawaii and Alaska, finally decided to prepare a legal challenge themselves

In Vermont, gay "lawyers and community groups went downtown to Kiwanis clubs, PTA meetings, church picnics, you name it," said Kendell of the National Center for Lesbian Rights. "Wherever five or more people were gathered, there were average Vermonters who just happened to be gay to talk about the issue."

Vermont's high court eventually ruled that the state had to provide gay couples whatever state benefits were given to married couples. The Legislature passed a civil union law in response.

The movement next targeted Massachusetts, selecting that state because it already had many laws protecting gay people. In the biggest court victory for the same-sex marriage movement so far, Massachusetts' high court ruled in November that gays must be permitted to wed.

Massachusetts legislators deadlocked earlier this month on an effort to amend the state Constitution to limit marriage to male-female couples, and are scheduled to resume a constitutional convention March 11. Even if the legislators can agree on how such an amendment should be written, it could not take effect for two years. Marriage licenses have been ordered to be issued by May 17.

By contrast, "the approach in California has been more incremental, trying to get people the best legal protection available," said Tamara Lange, an ACLU lawyer involved in the San Francisco litigation. "The strategy has been more legislative here."

The battle for gay marriage stems in part from the legal efforts of lesbians to retain custody of their children during the 1970s. At the time, gay men were more interested in issues of sexual freedom, Stewart said.

"I remember going around and trying to raise money, and the men would be, 'Why do we care about families? Families are used against us,' " Stewart said. "And then AIDS came along, and it changed everything."

Gay men found themselves barred from their partners' hospital rooms. When partners died, families swept in and took everything they had owned, leaving their lifetime lovers with nothing. Partners who left work to care for sick lovers were not entitled to government benefits.

"The guys woke up," Stewart said.

The younger generation of gay men also helped turn the focus to domestic issues. Unlike many in the previous generation, they wanted families and saw no reason why they should not have them. Gay male couples began adopting children.

Now that the marriage issue is before state courts, lawyers are looking to the state's highest courts for clues on how it might rule.

Experts who follow the California Supreme Court have said it would be less likely than its Massachusetts counterpart to approve gay marriages.

But gay rights lawyers hope that the justices, who are based in San Francisco, are sympathetic because they have a lot of personal exposure to gays and lesbians in the city and probably on their staffs.

The justices can look from their chambers in San Francisco across the street to City Hall, where couples of different ages and races have been lined up around the block to marry, many with children and parents in tow.

The jurists may even have heard from their offices the San Francisco Gay Men's Choir serenade the brides and grooms: "Going to the chapel, and we're going to get married," and the blaring of horns in support as couples emerge from City Hall waving marriage certificates and tossing bouquets to the crowd.

For all those reasons, gay rights lawyers believe that California may prove to be an ideal test case for their movement.

"I believe [that] with the benefits of five years' hindsight, we will view this as a watershed moment in lesbian and gay couples achieving full equality," Kendell said.

She added: "If we lose, I buy you the champagne."
Copyright 2004 Los Angeles Times


 
Wittig
Para desenjoar das dezenas de caixotes de livros que me foram rodeando por estes dias tinha guardado para mim um rebuçado: “Parce que les lesbiennes ne sont pas des femmes”, as actas do colóquio sobre Minique Wittig, organizado por Mari-Hélène Bourcier e Suzette Robichon, logo após a tradução francesa de The Straight Mind ter saído, em 2001 – o colóquio pretendia confrontar as leituras materialistas com as leituras queer de Wittig.

Confesso que nunca li Wittig, mas conhecia os chavões da sua obra. Fiquei com vontade de ler “The Straight Mind” na casa-de-banho (ou seja, só para confirmar algumas acusações relacionadas com algum simplismo e reducionismo da obra) e “Le Corps Lesbien” na sala, definitivamente com o dicionário ao lado, com uma atenção deleitosa:) (não no quarto porque penso que é um livro demasiado re-estruturador das sensibilidades para ser lido onde elas tendencialmente se praticam; e também não deitada porque exige uma atenção muito cerrada, se bem que poética).

Mas nem tudo são críticas a The Straight Mind – se assim fosse o carácter algo re-fundacional da cultura política francesa (num movimento que também é necessário cá) que se pretendeu com este colóquio não existiria.

Assim, é com clareza que se atribui a Wittig as seguintes dívidas, resultado doutras tantas inflexões epistemológicas/políticas:
1) a necessidade de nos des-identificarmos com a Mulher-mulheres (necessidade esta para todos os humanos; a posição de sujeito lésbica é apenas a metáfora possível à altura desta necessidade, a metáfora duma nova consciência feminista não mulher, historicamente circunscrita – não significa que todos devamos ser lésbicas; não é uma identidade circunscrita); esta necessidade inclui também a des-identificação com o simétrico político Homem-homens, com os lugares de poder ideológico, político e económico dos homens – Wittig considerava que este era o caminho para o esvaziar das classes de sexo (sendo que mulher é uma classe política, não natural, definida pela opressão de género,a sexatura de Colette Guillaumin). Esses lugares de poder socio-culturalmente estruturados são o regime político da heterosexualidade.
2) a possibilidade (nova apenas para os marxistas) das oprimidas (a classe mulher, definida pela dominação dos homens) terem uma consciência individual e subjectiva (não só de classe) dessa opressão
3) a perspectivação da heterosexualidade como regime político – hoje ter-se-ia que dizer como um dos eixos de dominação/emancipação dos regimes políticos
4) a criação dum espaço lésbico (entendido como não mulher e não homem, fora da diferença sexual) nos estudos e actividades feministas – ou seja, a possibilidade dum novo feminismo não heterosexual. Este espaço é a semente dos espaços queer, dos espaços da multiplicidade dos géneros
5) o nascimento dum sujeito não imperial, um sujeito excêntrico (De Lauretis), o tal sujeito lésbico – e aqui o que é novo é a necessidade desta des-localização (da energia erótica para sensibilidades não falogocêntricas)e des-identificação com o centro (com os seus pressupostos culturais e as suas práticas sociais – a tal recusa individual do contrato heterosexual, a tal prática cognitiva subjectiva, a reavaliação sócio cultural do mundo tal como feita pelos próprios oprimidos), sendo que hoje teremos de referir outros movimentos que deram origem a outros tantos sujeitos excêntricos, noutros eixos de dominação/emancipação que não só o da heterosexualidade (nomeadamente o da etnia e, de forma menos colectiva, o da tecnologia – mas estão ainda por estruturar menos cêntricamente o da religião, o da idade, o da aparência, etc). No entanto, há polémica quanto a se Wittig via nesta nova figura da subjectividade, possível pela actividade de escritores ditos minoritários (como ela própria o dizia) pode ou não propor posições universalizantes (e parece existirem textos em que para ela de facto podem – o escritor como propondo sempre o geral - o que não deixa de ser o retorno ao sujeito imperialista; é preciado quem atira esta pedra).
6) A metodologia da ex-centricidade como tradução e re-tradução, luta de interpretação, re-escrita, mas não uma luta meramente simbólica, não uma mera alteração dos efeitos performativos do poder – uma prática cognitiva subjectiva, uma experiência de vida do corpo (Nota: Butler é apontada como uma das leituras mais silenciadoras deste tom em Wittig, ao reduzir o seu sujeito lésbico a um separatismo, e um separatismo cognitivo). É um corpo que nunca se encontra, que se enreda nas contradições da escrita, na não coincidência entre linguagem e experiência. É um sujeito/corpo que nunca se constitui como tal: “(...) le j/e est le symbolle de cette séparation en deux, qu’est l’exercice d’un langage à travers la littérature qui ne m/e constitue pas comme sujet (Wittig). » (citada na p.51 deste livro). De Lauretis vê na pulsão de morte freudiana o agente perturbador da constituição do sujeito wittigiano, o que não permite “fechá-lo”, apesar duma sexualidade dominada igualmente por Eros, se bem que um desjo não fálico e não edipiano. É também para onde aponta a leitura interessante de Clare Whatling (“Wittig’s Monsters: Stretching the Lesbian Reader”): “La monstruosité de l’amour décrit dans le texte [Le Corps Lesbien] réclame cette dénomination. Pourtant sa répétition est aussi une inversion de la situation traditionelle du monstre comme irréductiblement mauvais. Car le monstre du Corps Lesbien est « le monstre adoré”...Avec une identité qui n’est pas fixée, elle est par dessus tout un exemple de ce que Ellen Moers appelle “le monstre d’ambivalence”.” (citada na p. 75). O corpo de Wittig é um anti-corpo, fisica e politicamente (Dianne Chisholm, p. 76). É esta vertente de re-construção incompleta com base no desejo, esta actividade radical, que me parece escapar ainda às leitoras materialistas de Wittig, que insistem demasiado na figura da lésbica como figura de fuga, de libertação, mas quase só como re-acção.
7) A necessidade de perspectivar os desejos como historicamente situados – e aqui são as materialistas que puxam as orelhas às queer, que por vezes constroiem sujeitos simbólicos longinquamente históricos. Mas as queers podem contestar que se existe um enraizamento histórico não é só numa história de opressão, mas também em histórias de emancipação – que não podem ser só simbólicas e culturais, salientarão as materialistas, mas também económicas e políticas (e, quanto mais os eixos de dominação se virtualizam mais necessidade há duma economia pós-feminista da sociedade de informação; as materialistas têm muito medo que a gente se entretenha só a brincar aos cyborgs:) E também só a jogar aos géneros – a que chamam perjorativamente o lado exclusivamente lúdico das teorias queer. É claro que aqui temos a resposta de Preciado, aliás o artigo final do livro, tentando demonstrar que o bigode lésbico – e há aqui toda uma queerização da pilosidade, enquanto pêlo escolhido – é bem mais do que isso.

Preciado faz a leitura mais impiedosa de Wittig. Acusa a sua leitura política da heterosexualidade de ser “massiva, unitária, rígida”, duma “monumentalidade monolítica”. E lê Wittig como uma tentativa de fugir para fora deste gueto straight maioritário e compulsivo, um separatismo, afirmando que o gesto queer é mais a conquista duma questão dentro desse gueto (“(...) la découverte d’une issue à l’intérieur du ghetto hétérosexuel.”, p. 187). São culturas de resistência, da produção duma visibilidade sexual e política - que partem muito mais da sua fraqueza – da norma heterosexual – do que do seu poder totalizador (porque a norma é hetero/homossexual, constrói simultaneamente os dois pólos, e não só heterosexual – é claro que Preciado não frisa o suficiente que esta construção mútua e paralela é profundamente assimétrica:) Preciado considera também que a identidade exterior à dominação proposta por Wittig é uma identidade concluída e que o queer consiste precisamente em manter essas identidades de resistência como identidades em permanente auto-crítica face aos processos de exclusão que podem sempre gerar.
Preciado revindica para ela a interpretação mais radical, e não para Le Corps LesbienJ, da des-territorialização do corpo feminino e da transformação do corpo straight implicada na posse lésbica (baise lesbienne) do Corps Lesbien. Preciado considera que Wittig se ficou demasiado pela literatura, apesar de ter percebido o carácter construído da incorporação da feminilidade por um ser humano (p. 204). Preciado re-interpreta o regime político da heterosexualidade como uma tecnologia do corpo que liga o prazer sexual, a reprodução e a filiação (p. 206). Romper o contrato que estabelece estas ligações pode fazer-se, mas sómente com o corpo: “Un tel contrat ne peut être signé que sur et avec le corps”, p. 207, ou seja, claramente para lá do performativo, com o pêlo: “Devenir gouine est un processus de transformation, une contre-metamorphose qui dé-tourne le sens de l’incorporation de la féminité. Quand j’oppose ici la notion de “devenir” à celle de « performance », je ne suis pas en traisn de nier la dimension « performative » dans le processus de formation identitaire. Au contraire, le language à bien sûr la force de produire la realité, mais cette force performative n’est pas de l’ordre dune énonciation individuelle et volontaire voire voluntariste, mais ele est plutôt de l’ordre de la promesse, de la malédiction ou du sortilége, d’un pacte toujours politique avec lequel on parie sur la corporéité.. Il n’y a pas de processus de devenir queer qui n’implique une ré-incorporation, une modification de la distribution du travail du corps straight, c’est à dire qui n’implique de signer un pacte avec les forces du poil, les forces de l’abject. », p. 211. E, para encerrar, ao gosto de Bourcier, ao considerar que o Corps Lesbien denuncia a similitude de processos que produziram a medicina anatómica e a pornografia, Preciado afirma que Le Corps Lesbien é um projecto de contra-pornografia “gore” (p. 213).


23.2.04
 
Gay Marriage: Until Order, Chaos
Feb. 22, 2004
(CBS) Now that it has started, the frenzied legal debate over gay marriage will not end with a ruling by any old California trial judge, or by any old California Supreme Court justice, or even by a ruling from the U.S. Supreme Court itself.

It will not end in Massachusetts, where legislators try to work around a court ruling that requires the state to recognize same-sex marriages. It will not end in Ohio, where legislators recently passed a law that precludes recognition in their state of same-sex marriages recognized in other states. It will not end in New Hampshire, where legislators this week were mulling over a similar law. It will not end in Utah, where this week the House of Representatives banned gay marriage, or in Hawaii, where politicians Friday were arguing over civil unions.

It will not end in New Mexico, where a dispute has arisen between county clerks over whether the state permits (or at least does not forbid) same-sex marriages. It will not end in New Jersey, where a handful of same-sex couples denied marriage licenses have sued the state. It will not end with this presidential campaign, whether or not the issue becomes Willie Horton-ized, and it will not end with any lengthy and complicated attempt to pass a federal constitutional amendment that declares to the world that marriage in America means only the union of a man and a woman.

Like the wrenching debate over abortion, the fight over gay marriage may never end.

Same-sex marriage involves as its subsets just about every top-shelf topic -- politics, religion, sex, family, money -- that renders people unable to consider different points of view. And you can just tell from the tone and tenor of the debate that neither side in the fight is going to be willing to accept compromise anytime soon.

"These people are going to be stopped, aren't they?" someone asked me last week and for a brief moment I didn't know precisely who "these people" were. Were they the people who flocked to San Francisco to get married or the people who rallied against them? Either way, I figure, once we start calling each other "these people" you know we're in for a culture clash the likes of which we've rarely seen.

Putting aside the political, religious, sexual and familial elements of the issue, the legal dispute over same-sex marriage is not terribly complicated. The core question in California and, ultimately, around the country, is whether the denial of the right for same-sex couples to marry violates the constitutional guarantee of equal protection under the law.

In Massachusetts, a majority of justices on the Supreme Judicial Court answered "yes" and while there is no guarantee that their California colleagues will do likewise there is no reason to think that the "equal protection" argument made by proponents of same-sex marriage is nearly as bogus as its opponents claim.

Whether or not the California courts ultimately sanction the marriages now being recognized in San Francisco, it's clear there is now a legal divide in America over whether and to what extent same-sex couples are entitled to the right to be married. Over the next few years, we'll probably see dozens of judicial opinions on the topic, opinions that surely will offer partisans on both sides of the fight plenty of ammunition. Ultimately, the Supreme Court will be asked, and will be forced, to offer a broad opinion on what the federal Constitution says about equal protection and gay marriages.

Ultimately, the Justices will be the ones who will decide what the "ceiling" (or, depending upon your point of view, "floor") will be when it comes to what states may and may not do in making up rules about marriage licenses.

Until then -- until the Justices try to offer order out of the chaos -- gay marriage opponents will focus upon two themes.

The first is that "the people" should have the final word on the issue and that judges should not interpose their own personal beliefs into their decision-making on the topic. This is a false premise. The "people," i.e. the "majority," have plenty of rights and powers under the Constitution. One right and power the majority does not have, however, is the right to take away certain fundamental rights belonging to all citizens, including those who hold minority views.

And who gets to decide when the majority is seeking to exercise its democratic power in an improper way? Judges, of course. You can argue over whether gays have a "fundamental" right to marry under the Constitution but you cannot argue that judges will be the ones who get to decide the question. That's why all this talk of constitutional amendments is more about political positioning than it is about legal strategy. Only a constitutional amendment that comports with the Bill of Rights is going to pass muster with the judiciary. And any state statute that gets passed now with an eye toward prohibiting or endorsing same-sex marriages will similarly face judicial review. The "people" get to elect their representatives and, perhaps when the lobbyists all die off, to dictate public policy. But the "people" do not get to tell each other what the Constitution says and does.

The second theme has to do with that old standby, the "rule of law." Already, San Francisco mayor Gavin Newsom, the man's whose actions precipitated this frenzied debate, has been accused of ignoring the "rule of law." But Newsom is no Judge Roy Moore, at least not yet. Unlike Moore, the former Alabama Supreme Court Justice who violated a federal court order to remove the Ten Commandments from a public building in Montgomery, Newsom has not yet violated a court order. Indeed, all he has done so far is to make a determination that California's constitution trumps the state's prohibition against gay marriage and to seek a judicial declaration to that effect. Unless and until the California courts resolve the question, Newsom is acting perfectly within the "rule of law" by raising a legitimate constitutional question.

Gay marriage proponents, meanwhile, also will try to focus upon two themes. And at first glance their two themes also don't figure to have a huge impact on the legal debate. The first theme is the "glass-houses" theme -- that heterosexuals have no exclusive right to the "sanctity" of marriage since half of them have failed in their own marriages. Richard M. Daley, the mayoral scion of Chicago, made this point about hypocrisy last Thursday when he told the papers that he has "no problem" with same-sex marriage. "Marriage has been undermined by divorce," he told the New York Times. "So don't tell me about marriage. People should look at their own life and look into their own mirror." Ralph Nader echoed the sentiment on Sunday when he said he supports gay marriage because "love and commitment is not exactly in surplus in this country … the main tragedy … what undermines marriage is divorce."

Gay rights supporters might win over a few hearts and minds on logic alone but they aren't going to win any court battles with that argument. Just because heterosexual marriage isn't what it used to be doesn't mean that gays have a constitutional right to try it. Likewise, the "same-sex-marriage-has-no-victims" theme is likely to resonate more on an emotional level than on a doctrinal one. When President Bush said he was "troubled" by the same-sex marriage gold rush by the Bay, Newsom invited the President to "come out and meet with the three-plus thousand couples that have committed themselves to one another, committed to a long-term loving relationship with equal status, the same status that he and his wife are afforded. And recognize the spirit and the pride that comes with that."

Spirit and pride are powerful things. And so are the images from San Francisco of happy gay couples getting married. But will those images have an impact on the legal fight? I don't know. Images can be powerful catalysts for formal change; just look at what happened during the Civil Rights movement of the 1950s and 1960s, when television images from the South changed public opinion all over the country. But feelings toward gay marriage seems to have hardened since San Francisco opened its doors to the practice amid the camera's glare. The Boston Globe on Sunday published a poll showing that a strong majority of people in Massachusetts now oppose gay marriage -- a sharp decrease since last November in support for the concept. Clearly, it is going to take a lot more than smiles and glee to convince a working majority on any court that gay marriage is here and ought to stay.
By Andrew Cohen
©MMIV, CBS Broadcasting Inc. All Rights Reserved.


20.2.04
 
Ainda as dificuldades internas do movimento lgbt
Acompanhei na semana passada a discussão que se fez no blog da Pagan e do Vale de Almeida sobre o movimento lgbt, suscitada pela entrevista do António à Zero.
As minhas conclusões são sempre as mesmas: os actos desmentem o que as palavras de muitos dizem.
Senão vejamos: mais uma vez não existiu qualquer referência à Opus e à audiência parlamentar em Comissão para que foi convidada (apenas a primeira vez que tal sucede a uma organização lgbt em Portugal) no material informativo de nenhuma das associações lgbts portuguesas; não recebemos quaisquer cumprimentos, nem sequer a título particular.

Se fossemos crianças e andássemos a brincar às associações eu diria que é "feio" ter inveja dos outros. Mas como somos cidadãos adultos politicamente intervenientes eu digo que a análise política deste silêncio tem de ser feita: existe uma enormíssima dificuldade por parte de todas as organizações em reconhecer o reconhecimento social e político que tem a Opus. Porquê? Porque sabem que a Opus não está incondicionalmente com este ou aquele partido, nem está incondicionalmente contra este ou aquele partido. Incondicionalmente contra ou a favor das medidas deste ou daquele Governo. Porque a Opus não é partidariamente previsível ou manipulável.

P.S.- Enquanto isto continuaremos a divulgar todas as iniciativas importantes de todas as organizações lgbt, como sempre fizémos. Acreditamos firmemente que temos um caminho a percorrer juntos. E que por vezes estamos muitíssimo bem juntos: como agora com o Villas-Boas.


19.2.04
 
Mais
Isabel Prata:
A propósito da polémica que estalou ontem e das declarações bombásticas do Luís Villas Boas, recebi esta mensagem de alguém que muito tem reflectido sobre os direitos das crianças e a adopção em Portugal, e que aqui publico por na minha humilde ignorância subscrever as suas dúvidas e certezas.


Claro que não concordo com ele (Villas Boas) mas não tenho uma opinião definitiva sobre o assunto, certo é que nada pior que crescer numa instituição e o próprio Villas Boas entrega crianças a homens sozinhos por isso não será tanto assim.

O Eduardo de Sá é a favor da adopção por homosexuais e diz que o importante
é que as crianças tenham adultos referência sejam eles de que sexo forem.
Importante mesmo é o carinho com que a criança é criada e que falta muitas
vezes nas famílias mais tradicionais.
Porém, não me parece que a adopção por homosexuais seja tão isenta de
problemas, há todo o contexto social e problemas de identificação da
própria criança, como em tudo parece-me que só visto caso a caso, mas os
técnicos que temos são uma desgraça e as crianças é que pagam.

Em suma, uma pessoa que está na posição do Villas Boas devia ter mais cuidado com
o que diz e na maneira como o diz, eu própria que não tenho as
responsabilidades dele já estive num debate sobre o assunto
com juízes e advogados e fiz questão de dizer que a matéria é muito sensível e
é difícil ter uma posição decisiva e generalizada sobre o assunto.
JP

E ainda a Sofia e o Luís. Com a solidariedade do Espuma dos Dias.
E também o Ivan da Praia.

E na Quinta Coluna:
O Tribunal de Pamplona decidiu que duas crianças gémeas deveriam ficar à guarda de sua mãe, lésbica e que vive com outra mulher. Em Portugal, logo um iluminado se mostrou revoltado, entendendo ser preferível as crianças serem entregues a uma instituição do que viverem com a sua mãe natural, o que seria um 'infelicidade'.
Eu também acho que isso é uma infelicidade muito grande e, por isso, gostaria de deixar aqui um conjunto de propostas:
1) Detenção e Tratamento Psicológico, se necessário recorrendo a castigos corporais e sevícias da mais diversa índole, de todos os que sofrem de homossexualidade que, como se sabe, é uma doença. E grave;
2) Entrega a instituições de solidariedade social (e se não forem dessas então a outras quaisquer, não importa) de todas as crianças actualmente retidas pelos doentes homossexuais. Recomenda-se que sejam seleccionadas instituições que tenham como colaboradores pessoas com o mesmo perfil do conhecido Carlos Sivino, vulgo Bibi;
3) Criação do cargo de Regedor da República, Guardião da Moral e dos Bons Costumes, vitalício e plenipotenciário, a ser ocupado imediatamente pelo senhor Luís;
4) Invasão da Espanha, tendo como objectivo a cidade de Pamplona, de forma a destruír a acima citada sentença, com apedrejamento do juíz responsável, em público e levado a cabo pelos puros.
AR

E ainda o diabo do Albergue dos Danados. O Bruno do Avatares.

E pouco passei dos "A"s... É só para lembrar que, quando tudo parece correr mal, há sempre os amigos:)


 
Simpatizantes/gay friendly
Andei a tomar o pulso à blogosfera sobre esta questão do Villas-Boas e encontrei o seguinte do psicólogo JOSÉ FILIPE DE CASTRO NUNES VICENTE:
O SEXO DO FILHO: O Dr.Luís Villas-Boas provocou o terramoto esperado, com as suas ideias sobre a a adopção em casais homossexuais. Desprezo o patrulhamento ideológico que se seguiu ( só faltou quererem queimar o homem), mas agradeço-lhe ter demonstrado, uma vez mais, que é da boca dos psicólogos, sobretudo os clínicos, que sai a maior quantidade de asneiras "científicas". Como colega dele ( em part-time), talvez possa contribuir com uma ou duas pequenas notas.
Metade da minha vida profissional passo-a, há cerca de doze anos, com a cabeça enfiada nas histórias das vidas das pessoas, e devo uma boa parte dos charutos e livros que compro, ao produto da educação heterossexual biparental. Muitos do que me procuram fazem-no porque foram criados em ambiente certificadamente heterossexual: violento, egoísta, desinteressado, narcisista, histérico, frio. Nada me diz que um par de lésbicas ou de homossexuais não possa educar crianças tão bem ou tão mal, como qualquer outro casal heterossexual. Da minha pequena janela para alma humana, esperma e óvulo não garantem a qualidade da dança.
Outra questão, é a influência de um ambiente familiar homossexual sobre a futura orientação sexual do infante. Todos os doentes, homossexuais e lésbicas que ajudei, foram criados em ambiente heterossexual: tal não os impediu, au contraire, de desenvolverem uma orientação sexual alternativa. Então qual pode ser o problema? Apenas a velocidade dos processos de inovação. Antes de se permitir a adopção a casais homossexuais, deve-se avançar na concessão de direitos iguais a estes casais: em termos conjugais, fiscais, de tutela educativa, etc. O objectivo seria dotar as famílias homossexuais das mesmas armas do que as outras. Uma criança educada por homossexuais, terá nos primeiros tempos, algumas dificuldades de aceitação, na escola, na rua, no clube de bola local. Sempre foi assim nos processos de inovação, como qualquer aprendiz de psicologia social saberá: a pressão para a uniformização, exercida pelos códigos culturais maioritários não é brincadeira nenhuma, faz parte do proprio processo. Protegidas legalmente, sem concessões, lésbicas e homossexuais poderão contrabalançar as naturais dificuldades de aceitação, que as suas crianças sofrerão numa primeira fase do processo. Óbviamente que os critérios para a adopção devem ser idênticos, qualquer que seja a sexualidade do casal adoptante: não se entregam crianças a quem quer brincar aos papás e mamãs.
Resta um último grão de areia, que muitas vezes vem ter comigo em forma de pergunta de um ou outro aluno curioso: "Pode gente que rompeu com o modelo educacional/familiar no qual foi criado, oferecer um ambiente familiar confortável alternativo?" Pode, pode: como dizia João dos Santos, estamos cá para fazer falhar a educação que recebemos. Sosseguem as boas almas, tal não significa nenhuma deriva demencial pós-moderna, habitualmente monótona no seu ressentido processo de desconstrução. O que João dos Santos queria dizer, é que ser pai ou mãe, implica uma revisão criativa do que foi nos legado nesse campo, implica a capacidade de (voltar a) escolher o que queremos passar aos nossos filhos, de acertarmos o passo com a capacidade de estarmos sós. Uma mulher que não quis ter um marido, mas que quis ter um filho com outra mulher, lá terá as suas razões. Nós é que não temos nada a ver com isso.



 
Editorial do Público de hoje
Infelicidades
Por NUNO PACHECO
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2004

Ontem, o presidente da Comissão de Acompanhamento da Lei da Adopção portuguesa, Luís Villas-Boas, afirmou ao PÚBLICO que acha preferível uma criança passar toda a vida numa instituição ou em famílias de acolhimento do que ser sujeita à "infelicidade de ser educado por homossexuais, sejam dois ou um". Porquê? Porque, no seu entender, isso interferirá com a "sexualidade natural" das crianças e é "um atentado" aos seus direitos. No caso particular das mulheres, sentenciou: "Ser lésbica não é ser mulher na plenitude natural do termo, porque se assim fosse não haveria o problema da procriação natural."

Luís Villas-Boas reagia, com tão desabridas declarações, a uma decisão do Tribunal de Família de Pamplona, que reconheceu a custódia de duas gémeas a um casal de lésbicas (que, segundo Villas-Boas, não serão mulheres "na plenitude natural do termo"). Foi a primeira vez que tal sucedeu em Espanha, e nesse sentido foi uma decisão histórica, que o tribunal defendeu invocando a "defesa, acima de quaisquer outros direitos, do interesse superior do menor" (menores, neste caso). O argumento de Villas-Boas vai em sentido claramente contrário, mas ignora, ou prefere ignorar, um facto: uma das mulheres é na verdade mãe biológica das gémeas, geradas por inseminação artificial. Idêntica decisão havia sido tomada por um tribunal brasileiro do Rio, em Janeiro de 2002, num caso ainda mais mediático: o de Cássia Eller, mãe biológica de um filho mas lésbica assumida, a viver há vários anos com outra mulher, Eugénia. Quando a cantora morreu, em fins de 2001, a custódia do filho, então com 8 anos, começou a ser reclamada pelo avô e pai de Cássia (o pai do miúdo morrera pouco antes de ele nascer, num acidente de automóvel). Mas um tribunal do Rio atribuiu a custódia em definitivo a Eugénia, reconhecendo nela uma segunda "mãe" da criança. "A questão da homossexualidade não tem importância", escreveu o juiz na sentença. "O principal objectivo da Justiça é o bem-estar do menor". E o menor, ouvido pelo tribunal, disse que queria ficar com Eugénia, sua outra "mãe"...

O que faria Luís Villas-Boas, se tivesse que decidir nestes dois casos? Acabaria, "a bem do interesse dos menores", por entregar o filho de Cássia ao avô? Tiraria as gémeas à própria mãe? Isto para, num e noutro caso, lhes evitar a "infelicidade de serem educados" por lésbicas? Quando Villas-Boas diz que "acha preferível uma criança passar toda a vida numa instituição" não estará a pensar apenas na sua, modelar e respeitosa, o Refúgio Aboim Ascensão? Não estará a ignorar outras, onde crianças têm sido maltratadas e até vítimas de inomináveis abusos? Não estará a ignorar também, por assumido preconceito, que muitos dos abusos e maus tratos físicos ou morais a crianças se registam em famílias "normais" segundo os padrões que defende? Seja como for, este é mais um caso em que a Espanha mostrou estar vários anos à frente das nossas orgulhosas "certezas".


18.2.04
 
De novo os comentários
Só para que conste que dão erro mas vão ficando lá, tanto quanto me tenho apercebido - se constatarem diferentemente avisem, tá?


 
Uma colher de chá:)
Só para chamar a atenção para um blog simpático, bonito, curioso: Chá de Limão


17.2.04
 
Marcos
O dia de hoje fica definitivamente marcado em Portugal pelo desfecho (provisório, o Ministério Público vai recorrer) do julgamento de Aveiro - infelizmente, e apesar de ser o mal menor, não tanto pela absolvição (porque esta não contradiz em nada a lei, nem poderia, apenas se baseia na falta de provas) mas principalmente por tanto sofrimento causado por um processo tão pobremente conduzido.

No entanto, é doutro pequenino marco que gostaria de vos falar. Não costumo trazer a Opus para aqui mas o acontecimento tem de facto relevo: a Opus foi hoje recebida, a convite, na Comissão do Trabalho e Assuntos Sociais, para comentar a Lei de Família do CDS/PP, que está a ser discutida na especialidade. António Serzedelo foi ouvido sobre a matéria durante cerca de uma hora.

Tanto quanto sei é a primeira vez que uma organização lgbt é reconhecida como parceira política por iniciativa do próprio poder político e legislativo. Não significa que o que lá dissemos seja tomado em conta. Mas é fundamental que, finalmente, comecem a ser dados sinais de que a democracia em Portugal se constrói com os lgbts, e não contra eles.


16.2.04
 
e-vonne
Sit.com gay francesa na net


 
Irmandade queer
Acrescentei o Vaca podre à minha irmandade on line - espero que não se importe.
As razões? Bem, para bom entendedor...


 
Livros
A esperar ansiosamente em Fevereiro:
- um novo da Etxebarría na Notícias
- "Vozes Insubmissas...", de Lígia Amâncio e Isabel do Carmo, sobre a luta pela igualdade das mulheres
-"A Tribo Jornalística" de Nelson Traquina, the best
- "Hélade" de Maria Helena da Rocha Pereira (já o vi)
- o segundo do Boaventura da colecção Reinventar a emancipação social (também já o vi)

Ah! E que dizem a Frederico Lourenço ter recebido o Prémio D. Diniz pela tradução da "Odisseia", por proposta de Vasco Graça Moura?:)


 
Casamento homossexual nos EUA

Decorreu este fim-de-semana aquele que será provavelmente um dos grandes marcos do activismo lgbt americano dos últimos e próximos 10 anos. Senão, vejam a noticiazinha que compilei ontem (em 6 horas - malditas dezenas de versões incompletas e contraditórias que encontrei) para a Opus:

CASAMENTO HOMOSSEXUAL NA AGENDA PRESIDENCIAL

PRIMEIROS CASAMENTOS HOMOSSEXUAIS DOS EUA

CERCA DE 700 CASAMENTOS HOMOSSEXUAIS EM DIAS EM S. FRANCISCO

Decorreu na semana passada a Freedom to Marry Week nos EUA. Incluiu cerca de 20 manifestações a favor do casamento homossexual e pedidos de licença de casamento foram apresentados por casais homossexuais em todos os Estados americanos.

Mas em S. Francisco foi-se mais longe. Essas licenças foram mesmo atribuídas e casais homossexuais de todos os Estados Unidos estão a casar-se desde quinta-feira na Câmara Municipal, a um ritmo que levou à necessidade de recrutar 200 voluntários. A Câmara Municipal vai estar aberta todo o fim-de-semana e também segunda-feira, que é feriado.

O Censo de 2000 contabilizou 8902 casais homossexuais cohabitantes, só em S. Francisco.

Estes casamentos só têm validade no Estado da Califórnia e espera-se que terça-feira dêem já entrada pedidos de organizações conservadoras no sentido de os parar. Daí a enorme afluência de todo o país, para aproveitar esta brecha, brecha que colocou definitivamente o assunto na agenda das presidenciais.

Isto aconteceu na sequência do Supremo Tribunal da região se ter pronunciado contra uma proibição estatal de casamentos homossexuais, como tinha acontecido em 18 de Novembro em Massachusetts.

O Presidente da Câmara de S. Francisco, Gavin Newsom, entendeu que podia, desde já, começar a celebrar os casamentos, uma vez que com esta proibição e o reconhecimento da inconstitucionalidade duma eventual lei de uniões civis feita recentemente pelo Supremo Tribunal de Massachusetts, a 4 de Fevereiro, os casamentos homossexuais chegarão, mais tarde ou mais cedo, à Califórnia, pois o Tribunal de lá tenderá a seguir estes mesmos passos. Esta decisão do Presidente é uma desobediência civil que pretende ser uma afirmação política. E também um rastilho de activismo pois estes casais vão requerer o reconhecimento do seu casamento noutros Estados.

Este Tribunal de Massachusetts já em Novembro passado tinha considerado inconstitucional a proibição estatal de casamentos homossexuais e, agora, a 4 de Fevereiro, declarou as uniões civis inconstitucionais. A decisão do Supremo de Massachusetts de Novembro só entra em vigor em 17 de Maio. A questão é que o Tribuanl não só declarou os casamentos constitucionais como declarou que ficar meramente pela união civil seria meramente atribuir uma cidadania de segunda classe aos homossexuais, o que seria discriminação inconstitucional. Na sequência da decisão do Supremo Tribunal de Massachusetts o Parlamento do Massachusetts discutiu durante dois dias nova legislação para as uniões homossexuais, sem ter chegado a uma conclusão. Foram rejeitadas 3 emendas constitucionais. O que a maioria do Parlamento deseja é proibir os casamentos homossexuais e aprovar uma lei das uniões com os mesmos direitos do que os do casamento. Mas esta visão não é admissível pelo Tribunal. A dificuldade em articular a decisão do Tribunal com a visão da maioria dos parlamentares está a gerar acusações de activismo judicial. Por outro lado, esta emenda constitucional, a ser aprovada, só entrará em vigor em 2006, permitindo uma brecha legal de mais de um ano. O debate prosseguirá a 11 de Março, havendo notícias de que se insistirá nesta visão.

Os casamentos estatais não são reconhecidos noutros Estados e não é dada cidadania a parceiros não nacionais- são estas as principais diferenças entre o casamento federalmente reconhecido, em todos os EUA portanto, e o casamento, como o homossexual, que só exista num determinado Estado.

Aqueles que, como Bush, consideram que esta ideia não deve avançar afirmam que isto redefiniria uma noção sagrada de casamento, a instituição matrimonial, o que não aceitam – trata-se no entanto dum argumento que mistura casamento civil e matrimónio religioso. Esclareça-se que nenhum dos Tribunais se pronunciou, nem tem esse direito, sobre o matrimónio religioso.

Bush tem defendido esta posição como uma defesa do matrimónio e não um ataque aos homossexuais...

Bush considera agora que se deveria acrescentar uma emenda à Constituição Federal, que proibisse o casamento homossexual em todos os EUA. Diz-se aliás que esta posição está a ser exigida pelos conservadores religiosos em troca do seu apoio. Pensa-se estarem em causa 4 milhões de votos de evangélicos. No entanto, considera-se igualmente que isto retiraria um milhão de votos gay a Bush, já sem falar na família e amigos desses homossexuais.

John Kerry, senador de Massachusetts e melhor colocado para correr contra Bush nas eleições presidenciais, manifestou-se há dois anos, com 85 outros senadores do Massachusetts, contra uma proibição estatal dos casamentos (que comparou à proibição de casamentos inter-raciais nos anos 60), mas a favor duma lei das uniões civis. Foi também um dos 14 senadores que votou contra Clinton na Defense of Marriage Act. No entanto, já esta semana disse que apoiaria uma emenda estatal que proibisse o casamento mas que permitisse a união...

A par destas movimentações políticas muitas sondagens mostram que, se bem que o apoio ao casamento homossexual não seja muito nos votantes, também não existe apoio a uma sua proibição constitucional, que é vista como uma medida extrema.

O primeiro casal a casar-se na Califórnia, S. Franciso, foram Del Martin, de 83 anos e Phyllis Lyon, de 80, que vivem juntas há 51 anos:) Foram fundadoras de Daughters of Bilitis, a primeira organização nacional de direitos lésbicos americana.



 
Vinda da Preciado foi adiada:(


15.2.04
 
Identidades queer em S. Francisco

Nuances of gay identities reflected in new language
'Homosexual' is passé in a 'boi's' life
Rona Marech, Chronicle Staff Writer , San Francisco Chronicle, 8 de Fevereiro

First, there was the term "homosexual," then "gay" and "lesbian," then the once taboo "dyke" and "queer."

Now, all bets are off.

With the universe of gender and sexual identities expanding, a gay youth culture emerging, acceptance of gays rising and label loyalty falling, the gay lexicon has exploded with scores of new words and blended phrases that delineate every conceivable stop on the identity spectrum -- at least for this week.

Someone who is "genderqueer," for example, views the gender options as more than just male and female or doesn't fit into the binary male-female system. A "trannydyke" is a transgender person (whose gender is different than the one assigned at birth) attracted to people with a more feminine gender, while a "pansexual" is attracted to people of multiple genders. A "boi" describes a boyish gay guy or a biological female with a male presentation; and "heteroflexible" refers to a straight person with a queer mind-set.

The list of terms -- which have hotly contested definitions -- goes on: "FTM" for female to male, "MTF" for male to female, "boydyke," "trannyboy, " "trannyfag," "multigendered," "polygendered," "queerboi," "transboi," "transguy," "transman," "half-dyke," "bi-dyke," "stud," "stem," "trisexual," "omnisexual," and "multisexual."

"The language thing is tricky," said Thom Lynch, the director of the San Francisco Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender Community Center. "I feel sorry for straight people."

Tricky, maybe, but also healthy and empowering, said Carolyn Laub, the director of the Gay-Straight Alliance Network, which links gay and lesbian student clubs in the state.

"We in society and in our generation are developing new understandings of sexual orientation and gender identities and what that means to us," she said. "We don't really have enough language to describe that; therefore, we have to create new words."

For those back in the linguistic dark ages still wondering what's wrong with "homosexual," the evolution of queer identity language has progressed something like this: "Homosexual" sounded pathological and clinical, so activists went about creating their own words, starting with "gay" and "lesbian." That was well and good, but terms like "dyke" and "queer" had an appealing spikiness and served double-duty by stripping the sting from words that had heretofore been considered unspeakably nasty.

The adjustment took time for some: As recently as 2002, visitors at the San Francisco community center routinely complained about a sign proudly pronouncing it "the queerest place on Earth," Lynch said. But in the Bay Area, in the age of "Queer Eye for the Straight Guy," that sort of sensitivity is beginning to seem almost quaint. Even some straight people have adopted the word because they have gay parents or an affinity for gay culture.

These days, "queer" is especially handy because it's vague enough to encompass just about everyone. The word and its newfangled linguistic cousins have become indispensable as the transgender population in the Bay Area has grown exponentially -- into the tens of thousands, advocates say -- and sexual identities have become increasingly complicated.

"If you're not a man or woman, words like 'gay' or 'lesbian' don't fit you anymore," said Sam Davis, founder of United Genders of The Universe, a support group and speakers bureau. "The words from just a few years ago aren't adequate to talk about who we are, where we're coming from and who we like."

Dee Braur, a 17-year-old with a tuft of greenish hair, calls herself "half-dyke." "I'm bisexual but I lean more toward women than men," she said. Men, she added, annoy her.

"Trisexual" also works, she said with a snicker: "I'll try anything once and if I like it, I'll try it again and again and again."

Andy Duran, 19, said: "People are feeling like, what's the point of labeling? If I must label, let me create my own."

That said, Duran uses "queer" -- among others -- because "it's the one that leaves the most for discovery. ... It's not really limiting. I can date a woman or a man. I can date someone who's transgender or genderqueer."

Tiffany Solomon, who is 19 and technically a lesbian, is put off by the word "lesbian."

"I think of a shorthaired woman who wears flannel. It's bad to a degree, but it's something that becomes embedded when you're young and queer and look on TV and you only have stereotypes to go on," she said. She calls herself a "metrosexual" -- the word used to describe straight men who have a gay sensibility when it comes to fashion and grooming -- because she also identifies with gay male culture.

Justin, who is 19 and didn't want to use his last name because he's not out to his family as transgender, calls himself a "boi" -- with an "i" -- because he feels like a boy -- with a "y" -- but "I don't have the boy parts, as much as I wish I did."

"I'm still learning the ropes of just being me," he added.

Lynn Breedlove, a musician and author, spent years as a "butch dyke," but nowadays, he prefers to interchange pronouns and, depending on his mood, goes back and forth between the old label and "trannyboy." "Because I'm like Peter Pan -- eternally youthful but I'm always played by a girl," Breedlove said. "It's more a faggy aesthetic thing. I don't want hair on my face and chest. Ooh, I don't want to be transman -- that sounds really furry."

While Breedlove is old enough to have an age complex -- he explained his refusal to divulge his age as a "rock star thing" -- a lot of the identity fluidity, name mania and word invention is bubbling up from the next generation of queer youth.

"Now that community resources are in place and public acceptance has increased, it's more feasible for adolescents to come out during adolescence," said Caitlin Ryan, a researcher at San Francisco State University who has studied lesbian, gay and bisexual youth. "What we're getting in the LGBT community is the power of youth. It's their expression and exuberance and energy and also their contribution to the culture."

It makes sense that youth, in particular, are coming up with new words and trying them on, considering that "identity development is one of the most important developmental tasks of adolescence," she said.

Growing acceptance of gays and lesbians has also encouraged idiosyncrasy, Ryan said. "Identities are very personal. That was much less true 20 years ago, when identity was more around community. Now that there's a community, a vibrant one with resources, there's more room for personal identity. Before, the tribe was so much more important," she said.

To further complicate matters, race and ethnicity affect who is using which words. Some people of color prefer the word "stud" to "butch," meaning a masculine-identified lesbian. Which makes someone who falls between a stud and a femme -- a more "feminine" lesbian -- a "stem."

And genderbending and genderqueerness aren't as prevalent among people of color, said Mateo Cruz, who's Latino and a staff member at the Pacific Center, Berkeley's LGBT center.

In these communities, "queer" and the terms it spawned have a reputation of being "white," so some shy away from them in favor of "same-gender-loving people" or "men who sleep with men," or -- among Spanish-speakers -- "homosexual," which is also a Spanish word.

"A lot of the stereotypes of what a 'queer' person is supposed to be, especially in mainstream media, is always a white person," said Solomon, who is African American. "A lot of issues people of color have with their families is their parents are saying, 'If you're gay, then you want to be white.' Because that's all they see. So yeah, 'queer' is not a word that a lot of people of color use."

No wonder Cruz sometimes grows frustrated when he leads discussions about appropriate language in anti-homophobia workshops. It can take an hour for his savviest students to list the "hundreds" of words they know for gay, lesbian, bisexual and transgender people. Then the discussion about what the words mean, who can use them and whether they're polite, often drags on ad nauseam.

When Cruz's coding system -- circles, big X's and dotted lines to connote cool, uncool, and sometimes-cool terms -- inevitably breaks down, he throws up his hands.

"However people self-identify," he tells students, "we have to respect."



--------------------------------------------------------------------------------
What it all means
Definitions of many words in the gay lexicon are hotly contested. Here is a sample:

Genderqueer: Someone who views the gender options as more than just male and female or who doesn't fit into the binary male-female system.

Transgender: An umbrella term for transgression of the binary gender system. May include surgical, hormonal or nonhormonal changes that result in a gender identity different from the one assigned at birth.

Pansexual: Someone attracted to people of multiple genders.

Trannydyke: A transgender person attracted to people with a more feminine gender.

Trannyfag: A transgender person attracted to people with a more masculine gender.

Boi: A boyish gay guy or a biological female with a boyish presentation.

Heteroflexible: A straight person with a queer mind-set.



 
Casamento homossexual
O pessoal do Caccao lançou a debate este tema, e bem.

Um amigo enviou-me este artigo, bastante forte e bastante polémico. Representa, para mim, o melhor e o pior na argumentação pró-casamento. Como não sei se a Time mantém as suas coisas disponíveis on line e como é muito grande para comentário, vou transpô-lo aqui:

Monday, Feb. 16, 2004 [é esta a data, sim]
As a child, I had no idea what homosexuality was. I grew up in a traditional home — Catholic, conservative, middle class. Life was relatively simple: education, work, family. I was raised to aim high in life, even though my parents hadn't gone to college. But one thing was instilled in me. What mattered was not how far you went in life, how much money you earned, how big a name you made for yourself. What really mattered was family and the love you had for one another. The most important day of your life was not graduation from college or your first day at work or a raise or even your first house. The most important day of your life was when you got married. It was on that day that all your friends and all your family got together to celebrate the most important thing in life: your happiness — your ability to make a new home, to form a new but connected family, to find love that put everything else into perspective.

But as I grew older, I found that this was somehow not available to me. I didn't feel the things for girls that my peers did. All the emotions and social rituals and bonding of teenage heterosexual life eluded me. I didn't know why. No one explained it. My emotional bonds to other boys were one-sided; each time I felt myself falling in love, they sensed it, pushed it away. I didn't and couldn't blame them. I got along fine with my buds in a nonemotional context, but something was awry, something not right. I came to know almost instinctively that I would never be a part of my family the way my siblings might one day be. The love I had inside me was unmentionable, anathema. I remember writing in my teenage journal one day, "I'm a professional human being. But what do I do in my private life?"


I never discussed my real life. I couldn't date girls and so immersed myself in schoolwork, the debate team, school plays, anything to give me an excuse not to confront reality. When I looked toward the years ahead, I couldn't see a future. There was just a void. Was I going to be alone my whole life? Would I ever have a most important day in my life? It seemed impossible, a negation, an undoing. To be a full part of my family, I had to somehow not be me. So, like many other gay teens, I withdrew, became neurotic, depressed, at times close to suicidal. I shut myself in my room with my books night after night while my peers developed the skills needed to form real relationships and loves. In wounded pride, I even voiced a rejection of family and marriage. It was the only way I could explain my isolation.

It took years for me to realize that I was gay, years more to tell others and more time yet to form any kind of stable emotional bond with another man. Because my sexuality had emerged in solitude — and without any link to the idea of an actual relationship — it was hard later to reconnect sex to love and self-esteem. It still is. But I persevered, each relationship slowly growing longer than the last, learning in my 20s and 30s what my straight friends had found out in their teens. But even then my parents and friends never asked the question they would have asked automatically if I were straight: So, when are you going to get married? When will we be able to celebrate it and affirm it and support it? In fact, no one — no one — has yet asked me that question.

When people talk about gay marriage, they miss the point. This isn't about gay marriage. It's about marriage. It's about family. It's about love. It isn't about religion. It's about civil marriage licenses. Churches can and should have the right to say no to marriage for gays in their congregations, just as Catholics say no to divorce, but divorce is still a civil option. These family values are not options for a happy and stable life. They are necessities. Putting gay relationships in some other category — civil unions, domestic partnerships, whatever — may alleviate real human needs, but by their very euphemism, by their very separateness, they actually build a wall between gay people and their families. They put back the barrier many of us have spent a lifetime trying to erase.

It's too late for me to undo my past. But I want above everything else to remember a young kid out there who may even be reading this now. I want to let him know that he doesn't have to choose between himself and his family anymore. I want him to know that his love has dignity, that he does indeed have a future as a full and equal part of the human race. Only marriage will do that. Only marriage can bring him home.
Andrew Sullivan


9.2.04
 
Ainda Preciado
Preciado vem fazer um workshop a Portugal sobre Drag King, a convite do Clube Safo. Já aqui divulgamos um seminário em que participou. Além do seminário português podem também ouvi-la em Madrid (aliás, o queer está forte e recomenda-se em Espanha)

Os textos dela a que linkei no blog permitem ter uma ideia razoável das suas ideias. Penso que a sua presença cá justifica bem uma apresentação mais rigorosa. Eis uma breve apresentação delas, com tradução livre dos excertos mencionados (afinal, queremos que os autores cheguem aos portugueses, e nem todos falam francês; aviso igualmente que podem existir erros):

Preciado distingue-se no panorama queer por colocar uma forte ênfase na questão dos corpos e identidades não dominantes como potências políticas, ou seja, como algo cuja apresentação/modificação pode provocar efeitos políticos. Estes corpos e identidades não são meramente efeitos dos discursos, efeitos das textualidades: eles próprios podem ser sede de eficácia política: “En s'inspirant des analyses de Maurizio Lazzarato qui distingue le biopouvoir de la puissance de la vie, on peut comprendre les corps et les identités des anormaux comme des puissances politiques et non simplement comme des effets des discours sur le sexe. » [Inspirando-nos nas análises de Maurizio Lazzarato que distingue o biopoder da potência de vida, podemos compreender o corpo e as identidades dos anormais como potências políticas e não simplesmente como efeitos dos discursos sobre o sexo] « Le corps n'est pas une donnée passive sur laquelle agit le biopouvoir, mais plutôt la puissance même qui rend possible l'incorporation prosthétique des genres. » [O corpo não é um dado passivo sobre o qual age o biopoder, mas antes a própria potência que torna possível a incorporação protésica dos géneros] Portanto, não é por acaso que quando Preciado faz workshops Drag King não faz meramente teoria; ensina o Drag King e tenta tornar público esse Drag King. Desconheço até onde pensa ir cá.

Para Preciado toda a política é biopolítica, no sentido duma gestão da vida, sendo que a política dominante é uma produção tecnológica do corpo hetero: “(...)une définition de l'hétérosexualité comme technologie bio-politique destinée à produire des corps straight. » [uma definição da heterosexualidade como tecnologia bio-política destinada a produzir o corpo straight/hetero] “Le sexe (les organes sexuels, la capacité de reproduction, les rôles sexuels pour les disciplines modernes …) est le corrélat du capital. La sexopolitique ne peut pas être réduite à la régulation des conditions de reproduction de la vie, ni aux processus biologiques qui « concernent la population ». Le corps straight est le produit d'une division du travail de la chair selon laquelle chaque organe est défini par sa fonction. Une sexualité quelconque implique toujours une territorialisation précise de la bouche, du vagin, de l'anus. C'est ainsi que la pensée straight assure le lien structurel entre la production de l'identité de genre et la production de certains organes comme organes sexuels et reproducteurs. Capitalisme sexuel et sexe du capitalisme. » [ O sexo (os órgãos sexuais, a capacidade de reprodução, os papéis sexuais para as disciplinas modernas...) é o correlato do capital. A sexopolítica não pode ser reduzida à regulação das condições de reprodução da vida, nem aos processos biológicos que “dizem respeito à população”. O corpo straight/hetero/”normal” é o produto duma divisão do trabalho da carne segundo a qual cada órgão é definido pela sua função. Qualquer sexualidade implica sempre uma territorialização precisa da boca, da vagina, do ânus. É assim que o pensamento straight assegura a ligação estrutural entre a produção da identidade de género e a produção de certos órgãos sexuais e reprodutores. Capitalismo sexual e sexo do capitalismo]

Essa produção tecnológica implica uma gestão dos fluxos de sexualização possíveis, gestão essa que não favorece todos de igual forma: “L'Empire des normaux depuis les années 50 dépend de la production et de la circulation à grande vitesse des flux de silicone, flux d'hormones, flux textuel, flux des représentations, flux des techniques chirurgicales, en définitive flux des genres. Bien entendu, tout ne circule pas de manière constante, et surtout les corps ne retirent pas tous les mêmes bénéfices de cette circulation : c'est dans cette circulation différentielle des flux de sexualisation que se joue la normalisation contemporaine du corps. » [O Império dos normais, desde os anos 50, depende da produção e da circulação a grande velocidade dos fluxos de silicone, fluxos de hormonas, fluxos textuais, fluxos das representações, fluxos das técnicas cirúrgicas, definitivamente fluxos dos géneros. De facto, nem tudo circula de maneira constante, e sobretudo os corpos não retiram todos os mesmos benefícios desta circulação: é nesta circulação diferencial dos fluxos de sexualização que se joga a normalização contemporânea do corpo]

Preciado considera que a biopolítica ganhou consciência de si enquanto tal, ganhou reflexividade, quando os médicos começam a usar o conceito de género nos anos 50, nomeadamente quando John Money usa o conceito para se referir às modificações possíveis nas crianças intersexo e nos transexuais. Daí o género ser o principal índice da multitude queer: “De notion mise au service d'une politique de reproduction de la vie sexuée, le genre est devenu l'indice d'une multitude. » [De noção ao serviço duma política da reprodução da vida sexuada, o género tornou-se o índice duma multitude] Esta multitude queer vai deslocando, baralhando, as referências e produções hetero: “La sexopolitique devient non seulement un site de pouvoir, mais surtout l'espace d'une création où se succèdent et se juxtaposent les mouvements féministes, homosexuels, transsexuels, intersexuels, transgenres, chicanas, post-coloniaux… Les minoritaires sexuels deviennent multitudes. Le monstre sexuel qui a pour nom multitude devient queer.
Le corps de la multitude queer apparaît au centre de ce que j'appellerai, pour reprendre une expression de Deleuze, un travail de « déterritorialisation » de l'hétérosexualité. Une déterritorialisation qui affecte aussi bien l'espace urbain (il faut donc parler de déterritorialisation de l'espace majoritaire et non de ghetto) que l'espace corporel. Ce processus de « déterritorialisation » du corps oblige à résister aux processus du devenir « normal ». Qu'il y ait des technologies précises de production des corps « normaux » ou de normalisation des genres ne se solde ni par un déterminisme, ni par une impossibilité de l'action politique. Bien au contraire. Parce que la multitude queer porte en elle, comme échec ou résidu, l'histoire des technologies de normalisation du corps, elle a aussi la possibilité d'intervenir dans les dispositifs biotechnologiques de production de subjectivité sexuelle. » [A sexopolítica torna-se não somente um local de poder, mas principalmente o espaço duma criação onde se sucedem e justapõem os movimentos feministas, homossexuais, transexuais, intersexuais, transgénero, chicanas e pós-coloniais....Os minoritários sexuais tornam-se multitudes. O monstro sexual que tem por nome multitude torna-se queer.
O corpo da multitude queer aparece ao centro do que chamarei, para retomar uma expressão de Deleuze, um trabalho de “desterritorialização” da heterosexualidade. Uma desterritorialização que afecta igualmente o espaço urbano (deve então falar-se de desterritorialização do espaço maioritário e não de gueto) e o espaço corporal. Este processo de “desterritorialização” do corpo obriga a resistir aos processos do tornar-se “normal”. Que existam tecnologias precisas de produção dos corpos “normais” ou de normalização dos géneros não se salda por um determinismo, nem por uma impossibilidade de acção política. Bem pelo contrário. Porque a multitude queer transporta com ela, como insucesso ou resíduo, a história das tecnologias de normalização do corpo, ela tem também a possibilidade de intervir nos dispositivos biotecnológicos de produção da subjectividade sexual] Aqui temos novamente um grande espaço de manobra política.

Concretizando esse espaço de manobra corporal, essas estratégias políticas, ela especifica : “« Dés-identification » (pour reprendre la formulation de De Lauretis), identifications stratégiques, détournement des technologies du corps et dés-ontologisation du sujet de la politique sexuelle, telles sont quelques unes des stratégies politiques des multitudes queer. »

A des-identificação é uma negação de identificações automáticas, dominantes, como por exemplo assumir que há lésbicas que não são mulheres.

As identificações estratégicas são hiper-identificações e, simultaneamente, pós-identificações. São hiper-identificações porque tentam levar ao máximo os recursos políticos da produção de identidades desviantes, de sujeitos abjectos, sendo voz dessas identidades, mas também consciência biopolítica desses corpos. São pós-identitárias porque se sabem circunstanciais, não essencialistas e, como tal, não têm receio de ficarem guetizadas.

Os desvios nas tecnologias do corpo são possíveis pela apropriação e rearticulação dos saberes e tecnologias sexopolíticas de produção dos corpos “normais”.

A des-ontologização do sujeito da política sexual corresponde a um pós-feminismo, ou seja, a um acompanhamento da des-naturalização do feminino, que é também uma crítica ao imperialismo, à brancura e à classe média do sujeito feminino anterior.

Neste sentido, muitos dos movimentos lgbt são também por ela criticados, assim como uma determinada noção de homossexualidade: “Quant aux mouvements de libération gais et lesbiens, depuis que leur objectif est l'obtention de l'égalité des droits et que pour ce faire ils se fondent sur des conceptions figées de l'identité sexuelle, ils contribuent à la normalisation et à l'intégration des gais et des lesbiennes dans la culture hétérosexuelle dominante en favorisant des politiques familialistes comme la revendication du droit au mariage, à l'adoption et à la transmission du patrimoine. C'est contre cet essentialisme et cette normalisation de l'identité homosexuelle que des minorités gaies, lesbiennes, transsexuelles et transgenres ont réagi et réagissent. Des voix se font entendre pour questionner la validité de la notion d'identité sexuelle comme unique fondement de l'action politique et pour y opposer une prolifération de différences (de race, de classe, d'âge, de pratiques sexuelles non normatives, de handicap). La notion médicalisée d'homosexualité qui date du XIXème siècle et qui définit l'identité par les pratiques sexuelles a été abandonnée au profit d'une définition politique et stratégique des identités queer. L'homosexualité bien policée et produite par la scienta sexualis du XIXème siècle a explosé ; elle s'est vue débordée par une multitude de « mauvais sujets » queer. » [Quanto aos movimentos de libertação de gays e lésbicas, uma vez que o seu objectivo é a obtenção da igualdade de direitos e que para o fazerem se fundam em concepções cristalizadas da identidade sexual, contribuem para a normalização e integração dos gays e lésbicas na cultura heterosexual dominante favorecendo políticas de família como a reivindicação do direito ao casamento, à a dopção e à transmissão do património. É contra este essencialismo e esta normalização da identidade homossexual que minorias gays, lésbicas, transexuais e transgéneros reagiram e reagem. Vozes fazem-se escutar para questionar a validade da noção de identidade sexual como fundamento único da acção política e para lhe opor uma proliferação de diferenças (de raça, de classe, de idade, de práticas sexuais não normativas, de deficiência). A noção medicalizada da homossexualidade que data do séc. XIX e que define a identidade pelas práticas sexuais foi abandonada em proveito duma definição política estratégica das identidades queer. A homossexualidade bem policiada e produzida pela scientia sexualis do séc. XIX explodiu; ela viu-se invadida por uma multitude de “maus sujeitos” queer]

Este sujeito que se deseja sempre múltiplo é portanto a base de toda uma nova política: “La politique des multitudes queer émerge donc d'une position critique par rapport aux effets normalisants et disciplinaires de toute formation identitaire, d'une dés-ontologisation du sujet de la politique des identités : il n'y a pas de base naturelle (« femme », « gai », etc. ) qui puisse légitimer l'action politique. (…) Ces différences [não ontológicas] ne sont pas « représentables » car elles sont « monstrueuses » et remettent en question par là même les régimes de représentation politique, mais aussi les systèmes de production de savoir scientifiques des « normaux ». En ce sens, les politiques des multitudes queer s'opposent non seulement aux institutions politiques traditionnelles qui se veulent souveraines et universellement représentatives, mais aussi aux épistémologies sexopolitiques straight qui dominent encore la production de la science. » [A política das multitudes queer emerge então duma posição crítica em relação aos efeitos normalizantes e disciplinares de toda a formação identitária, duma des-ontologização do sujeito da política das identidades: não há base natural (“mulher”, “gay”, etc) que possa legitimar a acção política. (...) Estas diferenças [não ontológicas] não são “representáveis” porque são “monstruosas” e colocam em questão por isso mesmo os regimes de representação política, mas também os sistemas de produção de saberes científicos dos “normais”. Neste sentido, as políticas das multitudes queer opõem-se não somente às instituições políticas tradicionais que se querem soberanas e universalmente representativas, mas também às epistemologias sexopolíticas straight que dominam ainda a produção da ciência]


O texto de resumo dos seminários permite avançar um pouco na noção de género protésico: “Pero frente a la teoría médica renacentista que concebía la prótesis como una imitación lo más fiel posible del órgano que intentaba suplementar, para Jules Amar [médico de próteses para mãos] el objetivo era que se adecuara e incluso perfeccionara su función original (lo que supone un cambio drástico en la manera de pensar el cuerpo). Por ejemplo, diseñó una prótesis en forma de pinza (con sólo dos dedos) que se adaptaba mejor que unas manos naturales a una serie de tareas específicas como atornillar. Jules Amar ve el cuerpo como tecnología no como algo natural y estable, y por tanto cree que existen múltiples maneras de pensarlo y de reconstruirlo.
Todo esto puede hacernos pensar, según Beatriz Preciado, que el origen del dildo esté más relacionado con las manos prostéticas de Jules Amar que con una sustitución mimética del pene, al menos desde el punto de vista de la sexualidad lésbica. No hay que olvidar que la importancia de la prótesis para entender el cuerpo contemporáneo pone en cuestión la idea del sujeto autónomo de la modernidad y privilegia la noción del sujeto como puerto. "O en su sentido literal, apuntó Beatriz Preciado, como aquello que está sujeto por un arnés, algo a lo que se pueden enchufar e incorporar prótesis".
Para Beatriz Preciado es muy revelador analizar este proceso de deconstrucción de la noción de cuerpo y de sujeto a partir de la diferencia histórica que establece Foulcault entre sociedades disciplinarias y de control. Mientras en las primeras, la regulación del cuerpo sigue dependiendo de un objeto o de una técnica externa, en las sociedades de control la tecnología se integra en el cuerpo (ya sea a través del ritual, la performance o la incorporación prostética), hasta el punto de que se hace plenamente visible y se re-naturaliza. "Ya no necesitamos un guante que impida la masturbación, advirtió Beatriz Preciado, porque cada vez que acercamos la mano a los órganos genitales hay una estructura de culpa que nos corroe".” A re-naturalização da tecnologia criadora, que, mais do que reparar o corpo, o cria e reconstrói, como se não houvesse original a seguir, é o que faz do corpo um corpo protésico.



Powered by Blogger