Queer Blog
28.11.03
 
Interact
Só hoje tive tempo de atentar no email de divulgação que anuncia que esta Interact é sobre "Cultura e Sexualidade". A ler com muita atenção, pois (o nº mais recente está distribuído pelos links de cima).
É a sua vez

27.11.03
 
Ainda há amanhã
Já vem tarde mas ainda podem amanhã conhecer a poetisa e ensaísta Ana Luísa Amaral.

Literatura e Identidades em Debate no Porto
Quinta-feira, 27 de Novembro de 2003, Jornal Público

O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa inaugura hoje, no Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o colóquio internacional "Literatura e Identidades", organizado por Ana Luísa Amaral, Gonçalo Vilas Boas e Rosa Maria Martelo. O encontro, que reúne cerca de vinte conferencistas, abre esta manhã, pelas 9h30, com uma comunicação do poeta e ensaísta francês Jean-Michel Maulpoix: "Lirismo e identidade". Neste primeiro dia, podem ainda destacar-se as intervenções de Ana Luísa Amaral, que abordará a escrita do corpo em escritas de mulheres, de Rosa Maria Martelo, que falará de modernidade e senso comum a propósito do lirismo nos finais do século XX, ou de Manuel Gusmão, que intitulou a sua palestra "Se ela é Heathcliff, quem sou eu?". O ensaísta holandês Theo D'haen abre o segundo e último dia de trabalhos com a comunicação "Identidades europeias, teorias americanas?", seguindo-se a italiana Vita Fortunati, professora de literatura inglesa e autora de obras de referência no domínio das literaturas utópicas, que falará de "Memória e esquecimento na ficção europeia do pós-guerra". O encontro encerra amanhã à tarde com o especialista alemão de literatura comparada Manfred Schmeling, que abordará "A hibridização cultural do sujeito e as suas consequências estéticas no romance contemporâneo".
É a sua vez

 
Pronto, aqui é o link para me insultarem por causa dos novos blogs...:)
É a sua vez

26.11.03
 
Feira de Arte Contemporânea
Para quem viu, aqui ficam uns apontamentos para um determinado nicho de mercado.

Só um autor me pareceu explicitamente gay: refiro-me a Alex Flemming, brasileiro que vive em Berlim desde 93 (na 111)

Das autoras, o que mais gostei foi de Isabel Monteiro e de Teresa Silva, ambas na Trindade, Porto. Gostei das suas "meninas más", mais das da Isabel (as botas da tropa, os insectos, as armas - achei bem irónico).

Numa linha muito diferente adorei Ana Cristina Leite (muito pop). Também pela técnica inovadora Esther Pizarro, madrilena (as auto-estradas - zippers que se cruzam).

Fartei-me de rir com a crítica do casamento de Márcia Lucas (Minimal, Porto) - as colagens com os parezinhos clássicos a "serem felizes para sempre":) E fiquei curiosa pelos seus bugs (e parva como é que alguém que é professora na Secundária do Marco de Canavezes consegue sobreviver, quanto mais produzir arte - i've been there).

Muito curiosos os "Objectos com pequenos problemas existenciais" de Alexandra Mesquita (Arte Periférica, Lisboa).

Sempre com objectos para os quais querí­amos ter uma casa, Joana Vasconcelos, se bem que confesso que gosto mais dos mais artesanais - este era bastante tech (mas penso que é excelente que trabalhe as duas linhas). É já relativamente consagrada, por isso deixo-vos a descoberta dos links melhores.

Um retrato impressionante de Adriana Molder (Presença, Porto).

A melhorar e seguir os bonecos de pano de Catarina Saraiva, na Módulo, Lisboa.

E ainda a mala "berlinense" e respectivas fotografias de Noé Sendas (Pedro Oliveira, Porto) e as coroas com pedaços de bonequinhos de Barbara Lessing.

Por fim os universos de Manuela Navas Cués (as figurinhas a flutuar em semi-bolas luminosas de tule e arame).

É claro que havia pintura MAIOR, nomeadamente um quadro fantástico do Pomar. E alguns autores do Leste, que nada me surpreende virem a conquistar e a re-fazer a história da pintura contemporânea. Mas o meu interesse vai mais para as margens. É a sua vez

25.11.03
 
As nossas necessidades de amor
Alguns posts das vizinhanças chamaram-me a atenção para o peso excessivo que representa na vida emocional de muitos a busca de um amor incondicional - que alguns vêem no amor de mãe, ou dos pais, ou d@ companheir@.... E considero-o excessivo porque, assim colocado, como um amor sem conflito, todo ele aceitação, não é uma relação, é uma fusão, a morte, no fundo. As relações, as reais, são conflituosas, discordantes, assimétricas. E sermos adultos é termos a força emocional de seguir o nosso caminho independrentemente da concordância dos outros (não estou a dizer contra os outros, estou a dizer independentemente da concordância dos outros). E mesmo assim gostarmos deles e percebermos que gostam de nós. Porque será tão difícil ver que o amor nada tem a ver com a discordância de ideias? É a sua vez

 
"Swingers", do André
Aqui está um espectáculo com todas as vantagens e algumas desvantagens de quem sabe por onde quer ir, dum espectáculo que pensa e se pensa. De vantagens penso que é inegável uma qualidade pedagógica muito forte da proposta, ou seja, até uma criança consegue perceber as questões mais importantes que estão em jogo, de que os meninos não são como as meninas, de que o nosso corpo condiciona as nossas performances, também as do género, de que uma performance (teatral e de género) é mais do que um texto, um contexto, e da forma como se enraiza muito particularmente em cada corpo, etc. E não tem todas as desvantagens deste tipo de espectáculo porque, a juntar a este espírito crítico, tem poesia - não ao ponto de equilibrar com uma duração algo entediante de algumas passagens (mas isso sou eu, que sou muito impaciente), mas tem (e, isto sim, é raro - e promete, muito).
Ao André, e companhia, um obrigada, pelo convite e pela experiência.É a sua vez

21.11.03
 
Boa disposição
Francamente satisfeita com a notícia de que o PS finalmente está de acordo em viabilizar na Revisão Constitucional a extinção da actual AACS (custou hein? Também aqui o BE veio primeiro - e com uma proposta de 5 secções técnicas, para corrigir toda aquela incompetência!), cuja incompetência tanto desmascaramos, preparo-me para ir ver a peça do André. Depois vos direi.

Também em Lisboa está em exibição G., sobre Genet. Infelizmente não é sobre o fantástico autobiográfico "Nossa Senhora das Flores", nem sobre a sinfonia "Querelle". Mas promete, pelo menos a dizer pelos comentários e cartaz que vi. É a sua vez

 
Contra a corrupção
Há dias tinha lido nos jornais que o Governo e o PS não se entendiam quanto ao avanço duma proposta que permitisse legislar o cruzamento de dados entre várias bases de dados pessoais do Estado, cruzamento esse que permite indiciar pessoas suspeitas de rendimentos ilícitos, eventualmente por corrupção.

Foi no DN: O consenso entre a maioria e a oposição parlamentar com vista ao alcançar de uma proposta para agilizar o cruzamento de dados falhou à última hora, em virtude do veto do Governo. A notícia é avançada pelo Diário de Notícias (DN), que refere uma fonte parlamentar não identificada.

Fiquei francamente triste. Com estes políticos. Com Portugal.

Estava a pensar fazer um pequeno post deprimido sobre este assunto aqui hoje (pensando nos míseros tostões que o Estado quer retirar aos funcionários públicos quando comparados com os milhões que continua a deixar escapar na corrupção). Mas não é que afinal parece que há um pequeno partido com mais sentido de Estado que os grandes?

"Maioria e BE Autorizam Governo a Legislar Sobre Cruzamento de Dados
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2003, Público

A maioria e o Bloco de Esquerda aprovaram, ontem, um aditamento a um pedido de autorização legislativo do Governo, com vista a permitir o cruzamento de dados entre o Fisco e a Segurança Social, bem como com os dados das conservatórias do registo automóvel e registo predial. O pedido foi considerado inconstitucional pelo PS. O deputado socialista, João Cravinho, classificou durante o debate como "pura e simplesmente inconstitucional" , porque o Parlamento deu uma autorização que o Governo não pediu. Esse expediente tem, todavia, sido usado na aprovação de outros orçamentos. O pedido de autorização legislativo foi apresentado pelo PSD e com o aval do secretário de Estado do Orçamento. Dado que o PS, PCP e Bloco de Esquerda já têm os seus projectos entrados no Parlamento, esse pedido autorizará o Governo a legislar sem a colaboração da oposição. Mas o PS e PCP foram ontem surpreendidos com a apresentação pelo Bloco de uma proposta que melhorava o pedido da maioria, a qual o aceitou. Apesar de entrado fora de prazo, o Presidente do Parlamento aceitou para votação. Segundo Cravinho, a sua consequência será "introduzir na luta ao combate e evasão fiscal um elemento de incerteza", que poderá "levar qualquer contribuinte a poder impugnar a lei por inconstitucionalidade". O também socialista José Magalhães, alertou para o facto de ser ilegal adiantar o processo "sem se ouvir a comissão nacional de protecção de dados". A intenção do PS era juntar todos os projectos da oposição no debate agendado pelos próprios socialistas, a 11 de Dezembro, e assim evitar atropelos à Constituição. Mas a maioria reagiu mal e acusou o PS de querer atrasar o processo: "Já estranhava que não viesse uma qualquer referência a uma inconstitucionalidade. O PS quer, uma vez mais, adiar", acusou o deputado do CDS, Diogo Feio. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Marques Mendes, seguiu a mesma linha acusando os socialistas de recorrerem a "truques": "Quando se trata de tomar medidas os senhores são sempre os primeiros a levantar problemas". O PS recusou-se a votar."

Coloco aqui outros links para outras notícias que permitem um retrato mais fiel do desenrolar dos eventos e da "súbita" urgência em resolvê-los:

Link 1

Link 2

É a sua vez

19.11.03
 
E ainda:)...
Na sequência do meu MBA em Audiovisual e Multimédia tenho também um projecto estruturado de um festival de vídeo lésbico. Alguém interessad@?:)

Salientando desde já que não se pretende de forma alguma fazer sombra ao Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa - aliás, os mercados alvo são totalmente diferentes (está-se a falar de suportes menos nobres e mais circuláveis do que o cinema). É a sua vez

 
Arte lésbica
Há uns tempos, mais de um ano, e após a leitura de um livro espantoso (de que encontram referência a seguir), andei a matutar na organização de uma exposição de arte lésbica. Nesse sentido, produzi um pequeno texto de apresentação/convite, para ser rediscutido e reformulado por quem alinhasse comigo nesse projecto. Infelizmente eram pessoas muito ocupadas com outros projectos artísticos e não totalmente convencidas da necessidade/utilidade de uma tal exposição.

Ora, amanhã começa a Arte Lisboa (Feira de Arte Contemporânea no Parque das Nações). No ano passado encontrei lá várias coisas que entusiasmaram o meu olho lésbico, nomeadamente três autoras (não necessariamente lésbicas, conforme compreenderão pelo que se segue).

Neste sentido, o apelo para que se forme um grupo de trabalho mantém-se da minha parte. E, enquanto tal não acontece, coloco aqui à consideração o tal texto que tinha preparado:

Porquê uma exposição lésbica?
A arte não se diferencia por temas, é certo. Neste sentido esta exposição não será sobre lesbianismo ou sobre lésbicas. Mas a arte diferencia-se certamente entre diversas sensibilidades, historicamente construídas, da sua produção e recepção.

A evolução dos movimentos feministas e dos movimentos lésbicos não pode deixar de influenciar decisivamente o que poderá ser hoje uma posição de sujeito lésbica. Porque, conforme frisa Harmony Hammond, uma exposição artística lésbica “ (…) includes not only representations of lesbians by lesbians but any art created from a lesbian subject position.”, p. 9 [ “Lesbian Art in America – A Contemporary History”, Rizzoli International Publications, Ink, New York, 2000].

Não se trata portanto de expor arte feita por lésbicas (não queremos delimitar identitariamente as nossas artistas) mas sim de arte feita numa perspectiva lésbica, ou seja, de alguma forma integrando as reflexões e sensibilidades que a história tem permitido desenvolver nos movimentos feministas e lésbicos, artísticos e não só. Estas perspectivas são assimiláveis e partilháveis por qualquer cidadã ou artista. Neste sentido todas estão convidadas a participar, mesmo aquelas que consideram que a sensibilidade eventualmente lésbica exibida nas suas obras não nasceu do desenvolvimento dos ditos movimentos. Afinal “a lesbian is not a woman” (Monique Wittig) e é sempre re-escrevível a história do diálogo (e da ausência de diálogo) entre as posições lésbicas e feministas. A história não está encerrada e são sempre invisíveis e algo imperscrutáveis os laços que nos tecem.

Por outro lado, consideram as organizadoras desta exposição, que não prejudicará o panorama artístico português o desenvolvimento de novas tendências e mercados, como sejam uma tendência a que poderíamos tentativamente chamar de lésbica. Nesse sentido, consideram útil o surgir de novos espaços institucionais, de novas galerias, de novas artistas. Mas, principalmente, de novas e mais variadas sensibilidades de produção e recepção. É a sua vez

 
E depois?
Um pouco por todo o mundo desenvolvido os movimentos lgbt vão conquistando o direito a ver legalizadas e reconhecidas formas de relacionamento familiar que, até aqui, eram exclusivas dos heteros. Em muitos países começamos a assistir a fortes passos em direcção à conquista do direito de casar (atenção, casamento, instituição civil, e não matrimónio, instituição religiosa). Só por isso a contestação da Igreja Católica é agora mais forte do que nunca (é portanto um bom sinal que seja forte).

A minha questão é a seguinte: e depois? Uma vez conquistados os direitos familiares tradicionais que capacidade de propostas realmente criativas e novas terão os movimentos lgbt? É por demais sabido que muitas das pessoas que reclamam estes direitos por uma questão de igualdade não os desejam para si, precisamente porque não concordam com os pressupostos dessas instituições. Conseguirão os movimentos lgbt ser uma vanguarda da renovação da sociabilidade familiar?

Em Portugal temos um bom sinal, que é a lei da economia comum. Muito desvalorizada e muito pouco usada cá. No entanto, muito entusiasticamente recebida por muitos juristas estrangeiros. E porquê? Porque corresponde a um alargamento das formas de relacionamento doméstico a relações não familiares e possivelmente não conjugais (a mais de duas pessoas).

Por outro lado, também em Portugal, mas menos do que noutros países, muitos gays vivem aquilo a que se chama uma “relação aberta” (veja-se, por exemplo, o Casal Gay) – ora, os deveres do casamento não o permitem. Mas são estas relações mais fracas do que as relações de fidelidade estrita?

Ou ainda: muitos jovens hoje desenvolvem relações duradoiras mas sem cohabitação (é claro que isto é uma coisa de classe – quem pode dar-se ao luxo de ter uma casa para si e outra para o/a namorad@, só porque não quer cohabitar?). Ora, a cohabitação é também um dos deveres do casamento. Vamos considerar que estas pessoas estariam menos casadas se assim vivessem? É a sua vez

18.11.03
 
Expressão de género
Noutro dia dei com um glossário de termos feitos pelo grupo de trabalho transgender da ILGA Europe e que continha este conceito curioso: Expressão de género: a expressão de si próprio na apresentação exterior e/ou aparência através do comportamento, roupas, corte de cabelo, voz, características corporais, etc.

Penso que o mais curioso neste conceito é a afirmação de que a expressão de género pode nada ter a ver com a identidade de género (sentir-se que se é homem ou mulher, ou outra coisa), nem com a orientação sexual.

Este conceito também me parece bastante útil para distinguir os transgéneros dos cross-dressers, travestis, drags, etc.

E leva-me de novo a uma conversa já tida aqui até à exaustão (e não vos levo a mal se estão fartos:): por exemplo, uma mulher hetero de aparência masculina não terá por isso uma expressão de género idêntica a uma lésbica de aparência masculina. Ou terá? E a transgender M-F (de homem para mulher, portanto) masculina? É a sua vez

 
Pedimos desculpa aos amigos bloguistas pelas dificuldades entretanto manifestadas. Elas são de todo alheias à nossa vontade (e, alheias, é dizer pouco :))
Por enquanto tomem lá este aspecto - é o mais conformista possível, todo ele Blogger, mas as outras cores ficavam horríveis com este sistema de comentários... É a sua vez

16.11.03
 
Boaventura Sousa Santos
São poucos os autores portugueses, ensaístas, que reverencio (provavelmente porque deveria conhecer mais). Mas, dos que conheço, só Eduardo Lourenço (principalmente em "Fernando, Rei da nossa Baviera") considero comparável a Boaventura.

Já em meados dos anos 80 dava nas aulas, como leitura obrigatória, o "Discurso sobre as Ciências" (de que estou louca para ler a nova colectânea) - obviamente eram delírios de professora inexperiente, que só eram sustentáveis porque tive turmas excepcionais, no centro da cidade do Porto...

Boaventura sempre foi o meu guia na passagem das minhas paixões da epistemologia para a política - ele e Foucault ( e também Wittgenstein, o segundo, mas este talvez de forma mais incompreensível para muitos).

Isto a propósito do seu novo livro, bem mais leve de ler que o habitual, pois consiste essencialmente numa série de exemplos de activismo de base e suas formas de glocalização - muito interessante para activistas, principalmente para activistas como eu que fico sempre aquém do activismo que gostaria de fazer, um activismo de acção directa, precisamente. [Porque não o faço? Digamos que gostaria de o fazer em grupo mas nunca encontrei nos outros disponibilidade e/ou perfil, para o fazer]. Estou perfeitamente ciente que o activismo de lobby jurídico e mediático da Opus é o oposto dessa acção directa - mas penso que há coisas que devem ser feitas, principalmente quando não há quem a elas se dedique (pelo menos de forma tão eficaz como o consegue a Opus).

Este novo livro (que é uma colecção de vários) é a ilustração do que é pensado na sua nova série intitulada "Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática", de que recomendo vivamente a leitura do primeiro volume já publicado. É a sua vez

 
É o que dá...
Andava a surfar à procura de interessantes blogs lésbicos, e logo no primeiro saiu-me a sorte grande: um blog dum poeta adolescente brasileiro pessoano. Mais adolescente, mais poeta e mais pessoano é difícil. Muito interessante (se virem bem tem um outro blog e um site com uma colectânea dos seus poemas). É a sua vez

 
Artes várias
O blog do André deu-me a nostalgia das artes, que eu tanto adoro mas que descuro imenso na minha vida, deixando vezes demais o meu lado sério suplantar as minhas necessidades artísticas.
Tenho alguns fetiches artísticos (bastantes até, desde a BD, até ao cinema, a arquitectura, o teatro-dança, etc). Acho que é giro apresentar-vos alguns para os quais consiga encontrar links (para poderem ver).
Por exemplo, na BD, tenho gostos bastante consensuais: por exemplo o Bilal (adoro a Mulher Armadilha) e Miguelanxo Prado (adoro Traço de Giz). Gostaria de conhecer melhor uma BD relativamente recente que é feita da confluência de vários meios de reprodução, nomeadamente a fotografia, o desenho, a pintura, etc. Mas não tenho tido tempo ($:). No entanto, fiquei encantada quando descobri noutro dia 3 albuns de dois portugueses que vão nesta linha e me parecem muito bonitos - quando os vir melhor logo vos direi os nomes.
Para os curiosos destas coisas na net vou colocar aqui também um link para uma série de sites de webarte que compilei um dia - vão ver que vos vão surpreender (muitos não estão já online mas, se procurarem em webart, encontrarão muitos mais). É a sua vez

 
Mais um blog queer em português!
Uma alegria para a alma este blog do André, já com barbas para o tempo de blogosfera, mas que só agora conheço. É a sua vez

14.11.03
 
As supremas traições:))
Por causa dum comentário num dos nossos posts ocorreu-me falar aqui de comportamentos que são tidos, por muitos, como suprema traição. Refiro-me ao gay ou à lésbica que viram heteros; ou ao transgender que vira gay ou lésbica. Ou a pessoas que "não sabem o que querem", como parece ser o caso dos activistas Pat Califa e Del LaGrace Volcano (ora procurem lá a história sexual deles, e depois digam coisas...). Já para não falar dos indecisos dos bis... Já não há paciência para tanta traição! É a sua vez

13.11.03
 
Sexo, público e privado
Este post só aparentemente foge aos assuntos que aqui e nos blogs vizinhos têm sido discutidos, nomeadamente sobre as vantagens de termos mais e melhores espaços de interacção pública para as nossas vidas, onde, entre outras coisas, não sintamos uma fractura com a nossa vida privada.

Vou falar de amor e de paixão - que tem tudo a ver:)) Tem sim, como verão. Vou falar daquilo que foi denominado o "leito de morte lésbico" (ou coisa parecida, pois não me lembro da expressão em inglês). Trata-se dum conceito sobre a morte da paixão que redonda em morte da vida sexual dos casais lésbicos, isto após um período de convivência mais curto do que aquele em que isto pode acontecer nos casais hetero (não se fala nos casais gays porque eles não convivem; dão quecas - estou a brincar:) Um dia lá voltaremos). É uma situação muito estudada porque é a mais forte queixa conjugal lésbica.

E qual a razão por que tal acontece (não, não é por falta de pénis ou de variedade de práticas sexuais, como alguns seres não lésbicos possam pensar): basicamente por excesso de fusão emocional. Traduzindo: as lésbicas, que regra geral foram educadas como mulheres, aprenderam o amor como forte comunicação emocional. Quando existem duas mulheres numa relação, são duas pessoas a trabalhar para a proximidade, e nenhuma a trabalhar para a distância (que é é muitas vezes referida como dificuldade comunicacional emocional dos homens). Ora, de acordo com as teorias psicanalíticas, a paixão inicial é um período de projecção sobre o Outro duma imagem ideal dele, que deve ser progressivamente substituída por uma imagem mais real, pelo diálogo mas, por definição, mais conflituosa (porque o Outro, inevitavelmente, deixa de ser o que nós idealizamos). A relação emocional forte que se estabele no conflito e na diferença é o amor ou, se quiserem, a verdadeira paixão é a vontade de continuar junto quando descobrimos que afinal somos muito diferentes, e diferentes dos ideais mútuos que tinhamos, e até do que pensávamos ser o amor.

Ora, o que se passa com os casais lésbicos é que elas tendem muito mais a aprofundar o semelhante do que o diferente, esquecendo que o desejo nasce do desconhecimento, da distância (ao contrário do que a falsa paixão inicial parece indicar, porque parece que nos apaixonamos por quem já conhecemos como sendo o ideal para nós, esquecendo-nos que, afinal, não conhecemos aquela pessoa).

Ora, o que tudo isto tem a ver com a questão inicial, a dos espaços de interacção pública, é que as lésbicas/mulheres, na sua procura de fusão emocional, tendem muito mais a viver a vida nos espaços privados do que nos públicos. Ora, os espaços privados não permitem tanto o revelar e o desenvolver de nós próprios quanto os públicos - só quando me confronto com a imagem que o Outro tem de mim posso ver melhor quem sou. E todas as pessoas necessitam de "espelhos" onde se sintam a desenvolver, onde não se sintam estagnadas.Ora, isto não acontece se eu tiver um suposto "espelho plano" à minha frente - que é o que a tal fusão emocional parece proporcionar.

Concluindo: até para manter o desejo vivo num casal são necessários espaços e rituais públicos que nos façam ver nos outros amados mais do que o que víamos, que nos façam surpreender-nos com eles, que nos façam admirá-los, que os mantenham como seres vivos, inconstantes, incoerentes, fortes, emocionais e adoráveis, como são:))) [e esta é para a minha Mouza:)]

10.11.03
 
Livros
Daniel Sampaio, "Vagabundos de nós": este livro, supostamente sobre o suicídio dos jovens gays, é um perigo. E é-o porque reforça dois estereótipos: o do gay "sensí­vel" (que gosta de música clássica e bailado) e o do gay "resultado" duma mãe carente, superprotectora e possessiva e dum pai desinteressado. Tudo se complica quando a história do gay adolescente que se suicida é afinal muito mais a história da carência da mãe. E quando tudo isto só muito raramente é desmontado no texto, e quando o é, com linguagem mais técnica, muito mais inacessível que a linguagem do romance.

Daniel Sampaio não consegue de forma nenhuma dar a entender que o que mata o jovem é o silêncio, a indizibilidade, quando ele próprio, Daniel Sampaio, não consegue falar da homossexualidade deste jovem por nada mais do que a obssessão em observar os sexos masculinos - quando, ao invés, um amor heterosexual deste mesmo jovem é narrado com todo o romanceamento possível e imaginário.

Ou seja, nada neste romance nos aponta para a ideia de que ser homossexual pode não ser um destino miserável, e por vezes fatal. Parece que o próprio Daniel Sampaio não ultrapassou ainda o medo - que é seu, não dos outros - de ter/ser um filho homossexual.

Também não se percebe porque é que, se a maioria dos jovens gays que se suicidam o fazem na adolescência, este o faz aos 21 anos, e mesmo depois de ter contactado com grupos homossexuais e de ter um amor homossexual correspondido, e de até ter conquistado autonomia da mãe. Parece aquelas histórias antigas em que tem de morrer, porque tem de morrer...

Eduardo Pitta, "Fractura - A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea" - uma série de pistas interessantes para quem quiser estudar a literatura homossexual masculina. Muito interessante o cruzamento de leituras interiores com leituras exteriores ao texto - absolutamente necessárias quando se lida com um assunto social e literariamente invisibilizado.

Usa uma noção de queer algo estranha, distinguindo a literatura homossexual da queer pela diversidade social do homossexual e das práticas narradas (menos classe média, menos burguês), nesta última.

Mais pertinente parece ser a distinção entre literatura homossexual (que narra a homossexualidade sem um sentido político) e literatura gay (que exige direitos de cidadania, mais politizada). Neste mesmo sentido, e se isto é de facto claro para o autor, há uma crítica algo disparatada à  Antologia Homoerótica editada conjuntamente pela Opus Gay e pela Korpus, por se denominar homoerótica e não gay - o facto é que a Opus Gay reparou bem que não eram textos gays que mas sim textos de literatura homossexual; daí o pudor em chamar-lhe gay...

6.11.03
 
CLONAGEM DE GÉNERO
A respeito dum assunto que surgiu numa outra conversa lembrei-me de fazer um post sobre as nossas relações com a aparência tradicionalmente masculina e/ou feminina. Vou socorrer-me de mais uma entrada do Dicionário das Culturas Gays e Lésbicas para isso.

Há uma entrada para clone. A cultura clone é uma subcultura gay, nascida americana, nos anos 70. Esta cultura surge como resposta à imagem estereotipada do gay efeminado. No entanto, como deu origem a uma aparência uniforme entre os gays, há quem considere que ela é também o início do "período clone" (em que os gays parecem todos clones uns dos outros em cada subcultura). E há ainda quem considere que ela marca o início duma forma de fazer identidade social, muito baseada na aparência (fazendo da aparência, com regras muito apertadas,um forte sinal da pertença a um grupo, com uma forte imagem colectiva).

Esta subcultura valorizou uma aparência hiper-masculina, gangas justas, bigode, músculos, cabelo curto, em suma, uma adequação às regras de aparência masculina tradicionais, um grande convencionalismo (com uma forte dose de misogenia à mistura e exclusão de gays que não se adequem a este tipo).

Tudo isto para chegar aonde: para referir que a adequação ao modelo de género tradicional é a primeira forma de defesa dos gays e lésbicas na sua inclusão social. É uma forma inicial de integração social. Daí muita gente se deixar andar nesta aparência muitos anos, porque pensam que assim não destoarão (quando a força da repressão do armário está exactamente em ser um segredo que todos conhecem, e continuam a fazer de conta que não conhecem - e nós, para não encararmos a força dessa repressão e desse silenciamento, que nos magoa, convencemo-nos de que se calhar ninguém sabe, de que é realmente um terrível segredo - quando já não é segredo para ninguém).

E para fazer algumas considerações provocatórias quanto às lésbicas femininas portuguesas, às nossas femmes. Para dizer o seguinte: a maior parte das nossas femmes é-o por convenção social, por adequação à norma. Não o é como forma de re-inventar ou parodiar a norma. E não o é como jogo erótico: como forma de atrair lésbicas que apreciem este tipo de aparência. Não o é por cultura lésbica (neste sentido não são realmente femmes), mas por mera ausência de cultura, de alternativas criativas e desafiadoras quanto à apresentação de si.

3.11.03
 
MORGADO DI-LO CLARAMENTE
Apesar de todos os cuidados que usa para não sair fora dos limites deontológicos que o seu estatuto lhe impõe Maria José Morgado, no seu livro, aponta claramente o dedo: "(...) há uma renúncia política a este tipo de discussão e de intervenção, apesar de que do terreno [elogio aos operacionais da PJ, sempre constante]nos chega a imperatividade de alargamento do campo de intervenção do Direito Penal da mera defesa dos direitos singulares individuais para a defesa dos direitos colectivos [ a que também chama bens macro-sociais, "contextos de vida" - esta mudança é uma das mudanças paradigmáticas que propõe]", p. 29.

E é também apontado claramente a razão pela qual os políticos não têm vontade política para mudar: "O poder financeiro e a fachada empresarial provocam, assiduamente, um entrelaçamento entre os dirigentes destas redes e elementos da esfera política e partidária, muito especialemnte ao nível do financiamento de partidos (...)", p. 31. Também Mário Soares falava no Sábado na TSF da oligarquia em que se transformaram as nossas democracias por via da massa monetária necessária às campanhas mediáticas dos partidos. São estes políticos que, nas páginas 60 e 61, são chamados de "políticos de negócios": "São estes "políticos de negócios" que consagram a existência de "mecanismos mais ou menos oficiais de controlo políticos das nomeações de certos funcionários (...), que conduzem a um embargo dos partidos sobre a Administração Pública (...)". É também criticada a reforma do Governo na pág. 67, nomeadamente no facto de se apontar para que as equipas dirigentes sejam da escolha dos directores-gerais.

Esta falta de vontade política para mudar o paradigma de investigação torna-se claro quando nos apercebemos dos conhecimentos que estão já nas mãos de quem o desejar quanto ao tipo de crimes, estratégias, fontes, tornando possível, como muitas vezes salienta, possível, se houver vontade política, identificar os sinais mais óbvios de relações de corrupção, e combatê-la.

Quanto ao modelo de investigação, ele caminha também num sentido diferente (proprositadamente ineficaz?) daquele que é o recomendado pelas organizações internacionais peritas nestas questões, nomeadamente na falta de cruzamento de dados, na falta de multidisciplinariedade e na falta de confisco dos proventos do crime. "É claro que, para isso, é necessário que quem esteja na cúpula não seja arrogante, queira recolher a experiência dos investigadores (...)", p. 111, onde se torna clara a crítica ao próprio Ministério Público, para quem propõe a mudança de paradigma quanto ao alterar das prioridades para tratamento dos processos, nomeadamente a prioridade aos crimes mais graves, para que a resposta possa ser rápida, o que é fundamental para se recolher provas, neste tipo de crimes (p.113). Parece que há muitos magistrados que consideram que não tratar os processos pela ordem de entrada cronológica é não respeitar o princípio da legalidade, agarrando-se a preceitos formais que acabam por deixar escapar os tais bens macro-sociais (legalidade, igualdade, concorrência leal, justa repartição de rendimentos e riquezas).

Ora, li, ouvi, vi entrevistas a esta senhora. Porque é que que esta acusação clara aos dois grandes partidos da nossa oligarquia não salta à vista? E digo os dois porque, para que estes negócios se façam, é preciso comprar à direita e à esquerda, em compadrio. E ainda ouvi Margarida Marante perguntar se toda esta investida não era um resquício da filiação no MRPP, um mero ataque aos ricos (!!!!!!).

Concluindo: temos todas as competências, porque não se faz? É de facto o maior escândalo político dos últimos anos em Portugal...

Se juntarmos a isto as formas legais (não sei se mais legais que estas...) como o Estado se deixa roubar pelas transnacionais (os dinheiros que oferece a quem cá se instala e que um dia rapidamente decide ir-se), temos o quadro que nos leva ao 17º lugar da pobreza na UE, atrás da Grécia, da República Checa e da Estónia...Lindo, não?



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