Queer Blog
30.7.04
 
PASSAR O TESTEMUNHO (E FÉRIAS!)
De todo o lado chegam sinais de que um determinado ciclo de activismo associativo em Portugal está a terminar. Para mim os principais desses sinais são as vitórias ligadas a duas das mais antigas pretensões do movimento lgbt português:
- a explicitação da não discriminação com base na orientação sexual no Artigo 13 da Constituição
- a eminente revogação do Artigo 175 do Código penal que discrimina a idade de consentimento para sexo homossexual quando comparada com a idade para sexo heterossexual

A primeira vitória abre a porta a uma série de conquistas legais progressivas para as quais será necessário batalhar, mas que virão necessariamente; a segunda vitória acaba com o principal preceito discriminatório da lei portuguesa, farta e internacionalmente denunciado.
De certa forma o principal trabalho legal está feito; faltam as adopções e o casamento, mas estes são temas que não me dizem pessoalmente muito – no entanto estaria disposta a lutar por eles se notasse, da parte da comunidade lgbt portuguesa, igual empenho. Tal não é o caso, conforme constatei com o fracasso da campanha que a Opus Gay lançou para o casamento, onde mesmo estando dispostos a pagar a quase totalidade das despesas jurídicas, não tivemos resposta adequada dos muitos casais que se ofereceram.

O trabalho social está todo por fazer: fortes campanhas pela diversidade, incluindo a diversidade sexual, nas escolas, por exemplo, fortes penalizações para a promoção do ódio e da violência meramente fundados em estereótipos grupais negativos. E, mais além, uma visão socialmente enriquecedora do papel da diversidade sexual e de género nas nossas sociedades.

Tenciono contribuir de forma diferente do que tenho feito até aqui para este novo ciclo. Após 8 anos de activismo associativo, em que tentei, através da tarefa maçadora e laboriosa de divulgar notícias e promover campanhas, passar acima de tudo ideias e políticas, encerro este meu ciclo de activismo. Espero brevemente iniciar outro.

A todas as associações desejo bom trabalho, em especial à Opus, à sua actual Direcção, e muito especialmente ao meu querido amigo António Serzedelo.

A todos também o meu desejo de BOAS FÉRIAS!


20.7.04
 
Judith Jack
Halberstam tem um novo livro em Janeiro! Ela é uma das poucas ensaístas queer cujo trabalho futuro aguardo com expectativa. Para terem um cheirinho (literalmente:) do livro vejam este artigo.


 
Finalmente dias de praia!
Finalmente sair de Lisboa para fins-de-semana compridos na praia!
Fui conhecer as praias de Santa Cruz - ainda tem por lá uns bons areais semi-desertos, sim senhora.
Tive pena das bichas do sítio; eram só quatro ao engate na praia. Puxa! Haja, ao menos, variedade!


 
Dentes cyborg
Tirei noutro dia o meu primeiro dente. Para além da seca monstruosa de ainda andar com dores houve um detalhe que me escandalizou: colocar um dente num sistema inamovível custa mais do que um computador. Caso para dizer: e então, não há forma de o usar como antena, modem, eu sei lá, pôr-lhe um chipzito qualquer? É que por esse preço, hoje em dia, não se admite não estar integrado, até de forma wireless, com a Web:)


 
Pensávamos nós que estávamos mal com a dieta de cherne...
Duas ou três coisitas MUITO preocupantes:
1) o Ministério do Trabalho estar com o da Economia e já não com a Segurança Social - visão totalmente economicista do trabalho
2) O Ministério da Segurança Social ser também o da Criança - fica a ser o Ministério dos desprotegidos, dos pequeninos e não o Ministério de um dos sistemas sociais de solidariedade que o país mais precisa
3)a separação do Território, das Cidades, do Turismo e do Ambiente - uma visão parcelar do tecido urbano; uma visão economicista do turismo - desenvolvimento sustentável para onde foste?
Só desgraças...



15.7.04
 
Lgbt on TV
Um artigo curioso.


 
E a mulher criou a mulher
E já que temos vindo a falar da forma como algumas imagens re-criaram um determinado género sexual, vejam a colheita da Samartime.


 
E você, já tem a sua boneca lésbica?
Tenho de agradecer ao Zigtai esta novidade: as Dykedolls!


14.7.04
 
Para que fiquem esclarecid@s
Assim de repente, olhando para a minha estante, são dois os autores que me enchem as medidas, no sentido em que aguardo sempre com imensa expectativa as suas obras (e já há muitos anos que deixei de dizer isto dos autores que aprecio): Salman Rushdie na literatura e Cronenberg no cinema. Não sei se há por aí quem concorde...


 
Figuras do desejo
Com ironia e inteligência, figuras do desejo para um sujeito lésbico em "Pas un jour" de Anne F. Garréta, Grasset, 2002.

Não circunscrito ao sujeito lésbico, mas não com menos ousadia, "O belo adormecido", de Lídia Jorge (outra senhora cujo estilo Av. de Roma - como diz o meu mouzo - engana bem os mais desprevenidos).


 
Boyz will be Girrls
Para todos aqueles que pensam que ainda é possível estudar os géneros, ou as masculinidades, sem estudar o fenómeno Drag King, aqui está o link para o maior Festival anual do género, em Outubro, em Chicago (esta dica é para @s felizard@s que lá puderem ir). Este é um Festival que se tornou relativamente nómada e que este ano é dinamizado pelas famosas Chicago Kings.

É já o 6º e foi iniciado, entre outras, por estas meninas: H.I.S Kings (por causa do alojamento é um pouco chato de navegar, mas o cuidado de algumas poses fotográficas vale bem a visita).

Para uma boa lista de links visitem os links do MadKats. Não estão totalmente actualizados mas permitem perceber how long is this been going on...


 
Pode alguém ser quem não é?
Que chatice! Estave eu para inaugurar a era fotográfica do meu blog (obrigada pela dica João, não está esquecida, eu é que sou muito preguiçosa) com fotos do meu próximo herói, e não posso!

Procurando por fotografias do José Sócrates (tão lindinho, tão jovem, tão charmoso, o máximo!) no Google fiquei muito decepcionada porque só o encontro de camisa branca e gravata, ou de gola alta preta, algo franciú.
Mas onde estão as fotografias daquela camisa fantástica rosa-choque, ou da sedosa lilás, com as quais o vi várias vezes no Bairro Alto, acompanhado de jovens rapazes igualmente fashion? Assim não brinco!


13.7.04
 
Literatura lésbica
De vez em quando escrevem-me a pedir sugestões; de facto não tenho dado muitas porque não tenho lido grande coisa. Nomeadamente, a pipa de massa que gastei em Março em Paris a comprar romances lésbicos pode bem ter sido mal gasta...Não é só por cá que se publica um pouco de tudo...
Mas, como estamos no Verão, vou referir uma colecção, a de bolso das éditions gaies et lesbiennes, uma colecção tipicamente praia, nomeadamente um livrinho que li recentemente, "Carton rose" de Cy Jung.

Vá-se lá saber porquê toda a narrativa decorre no cenário do futebol feminino massivamente lésbico e trata-se duma tentativa de crítica ao romance sentimental. A história conta a relação entre a trintona sofistificada boazona de sucesso, mas virgem, e a sua mais jovem e liberal conquistadora. Lê-se com um sorriso, se bem que para o fim o par romântico perde consistência; não sabendo como criar literariamente o climax relacional que é a primeira relação sexual das duas, Cy Jung arrasta a narrativa nesse ponto duma forma realmente...fraquinha/chata, a tentar fazer render o peixe (mas um peixe que não existe não se faz render).


 
Pornografia
Parece que o Renas pretende dinamizar qualquer coisa, espero que a sério, sobre pornografia.
Duas contribuições: um pequeno resumo do artigo sobre o assunto da Marie-Hélène Bourcier no seu fantástico Queer Zones; um programa dum curso sobre representações de media queer, dirigido pela Preciado.


12.7.04
 
Mais mostras internacionais de arte
A boicotada mas interessantíssima Bienal de Praga; adorei, adorei, adorei. Conceptualmente mexeu muito mais comigo do que a de Veneza. Porque foi boicotada? Não sei. Eventualmente por ter escolhido o mesmo calendário do que Veneza, o que me parece também disparatado. De facto, como que era muito visível no Museu de Arte Contemporânea onde ela decorreu, existe muita arte de Leste, nomeadamente na pintura, que vai re-escrever a história da pintura contemporânea. Mas penso não ser preciso afrontamentos tão radicais. Haverá espaço e tempo para todos.

E, para não dizerem que tudo já foi e está muito longe, o link da Manifesta, onde podem constatar que a 5 está a decorrer todo o Verão bem pertinho, em São Sebastião.


 
Um modesto tributo
O falecimento de Lourdes Pintassilgo é o falecimento de um dos maiores pensadores políticos portugueses - pelo humanismo e feminismo da sua visão política, o meu reconhecimento.

Da forma como funciona, na prática, o Graal, do secretismo e elitismo das suas redes, tudo isso me abstenho aqui de criticar duramente - em várias circunstâncias da minha vida pessoas de várias proveniências profissionais me tentaram convencer a tentar pertencer a este grupo. Ora eu não pertenço a grupos aos quais as pessoas escondem pertencer e a redes de influências as quais as pessoas negam existir. Isto sim são lobbies, no pior sentido do termo.
Por outro lado, apesar de acreditar na necessidade do diálogo social com todo o tipo de instituições, e de ver perfeitamente como é possível uma leitura humanista dos valores cristãos, sou pessoalmente profundamente anti-clerical. Isto também foi outro impedimento.
E sim, sei perfeitamente as inimizades que compro ao afirmar estas parcas palavras. Beijinhos a todas. Fiquem bem.


9.7.04
 
Presidir não é decidir sozinho
Tantos anos de "neutralidade" democrática "cheziram" e amoleceram o homem e trouxeram ao de cima o seu pior traço: o receio, mais, o medo, a aversão, da conflitualidade política, própria das democracias, o seu sangue e seiva. Parece aqueles patriarcas que, na ânsia de apaziguarem os conflitos filiais (para terem, ELES, paz, a todo o custo), não chegam sequer a compreender a verdadeira natureza das questões. O homem está morto, politicamente falando, e o pior é que nos quer matar a todos nós!


 
E legendas para o The L Word?
Parece que não há. Eu, pelo menos, não encontrei. Encontrei sim um site generoso com transcrições de tudo à volta da série. Estou a usá-las para traduzir para português o primeiro episódio.
Infelizmente, como são transcrições e não legendas, terei ainda de, com um software indicado que não sei qual é, transformar o ficheiro Word num ficheiro de legendas, ou seja, incluir os timmings. Alguém sabe como se faz isto?


 
Dam Good!
As Dam são um projecto de arte pública lésbica, que já por aqui anda há uns anitos, e que é actualísssimo, agora que andamos todas deslumbradas com "The L Word" (nem todas as lésbicas são, nem têm de ser, tão fashion - com tudo o que de consumista tem este fashion - quanto estas personagens).
Deixo-vos um link para uma entrevista de 2002 (em Real Player - download aqui) que mostra bem o que valem estas senhoras.


8.7.04
 
Ética, estética e política
Aparentemente mais depressa os grandes eventos artísticos estão a assumir a sua vertente política do que os eventos políticos a sua vertente artística.
Veja-se a fantástica preparação política da Documenta 11 (vejam nas fantásticas Plataformas preparatórias os fantásticos vídeos de fantásticas conferências de fantásticos conferencistas:) e o balanço, apresentado em finais de Maio, do quarto Fórum Social Mundial.


7.7.04
 
Janine Antoni
Tornou-se famosa nos anos 90 com o Body art e com a questão de como é que o biológico faz arte (o cabelo/esfregona, a colcha/electrocardiograma, as unhas) e a arte faz biológico (os padrões culturais de beleza a constrangerem o corpo feminino; o fantástico berço - Cradle) mas acabou por passar a uma questão mais alargada de como o não artístico produz objectos artísticos (veja-se a exposição de que é comissária) e de como, até o artístico mais abstracto, como por exemplo uma linha, pode ser produzido através de processos de produção muito materiais e concretos (veja-se os carretos monstros de produzir linha e o caminhar na linha do horizonte). Talvez para concluir que a arte, mesmo a mais abstracta, é sempre resultado de um processo concreto de produção; e que todos os processos de produção podem produzir arte, enquanto produtores de objectos com uma linguagem visual própria.

Galeria principal: Luhring Augustine, com imensas fotos
Próxima exibição na Europa: Institute of International Visual Arts, Londres, Novembro 2004
Leitura (demasiado) irónica e (estupidamente) arrogante de David Cohen
Leitura (demasiado) feminista

Obras:
- Coração de chocolate (não a caixa de chocolates) e baton, 1992
- imagens dos bustos e do cabelo/esfregona
- papá e mamã 1994
- biografia e um vídeo a fazer a boneca de sabão, várias fotos de várias obras
- colcha electrocardiograma 1994
- unhas 1998
- unhas 1998
- ballet swoon
- trabalhos recentes


 
Ainda bem que estou de férias
Lá se foi o Euro e a sua festa ( e a maldita estratégia de retranca dos gregos:) e o país caminha para a temida, horripilante e deprimente berlusconização.

A juntar a isto a sida crece impune:
"Alguns dados do inquérito da autoria do sociólogo Fausto Amaro, realizado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, indica que mais de 40 por cento dos portugueses não usa sempre o preservativo em relações ocasionais ou em situações de mais do que um parceiro sexual, e que perto de 20 por cento nunca utiliza este meio de prevenção da transmissão do vírus; 35 por cento porque "acha que não há necessidade", 20 por cento porque não tinha um preservativo, 15 por cento porque "não gosta" e dez por cento porque nunca pensou no uso.

O estudo, realizado em Abril deste ano, com uma amostra de mil indivíduos representativa da população portuguesa entre os 15 e 64 anos, será sujeito a uma avaliação em Outubro, para averiguar a eficácia das campanhas de informação que decorrerão durante o Verão." (Público de hoje)

E o Presidente da CNLCS vai lançar uma campanha de distribuição de preservativos entre os gays para a qual não tinha, pelo menos até há dias, contactado com as associações (algumas, como a ILGA Portugal, com fortíssima tradição em projectos anti-Sida e de distribuição de preservativos). Não é preciso esperar até Outubro para dar nota negativa a estas estratégias...

Ainda bem que estou de férias...


2.7.04
 
Campeões, campeões, campeões!
Desde o 3º jogo que acredito que vamos ganhar isto! Infelizmente isto é apenas sinal de que não existem no Euro outras equipas com o gabarito do jogo que a nossa tem jogado, o que não é costume, e é pena.
De resto, a temporalidade circular mítica (o último jogo é o primeiro) deste Euro é em tudo oposta à tentativa de racionalizar tudo linearizando o tempo dos gregos (sempre para a frente como se não trasportássemos a todo o momento tudo o que fomos e somos e seremos numa grande salgalhada emocional e mítica :). Isto só pode indicar que os deuses se vingam agora ironicamente deste projecto filosófico:)


 
Adesão à Marcha do Orgulho
Vou aqui colocar alguns links para textos que fazem pensar o que pode ser hoje uma Marcha e a sua adesão.
Este post surge no meio duma polémica, em que algumas organizações/pessoas referem a presença de 3500 pessoas na Marcha em Lisboa (PSP - que assim justificou as dezenas de polícias que lá estavam - Miguel Vale de Almeida, as organizações organizadoras, etc), a Opus Gay referiu mil, e nestes textos temos ainda outras versões:
- no site GLS do Brasil um texto, de apoio, feito por alguém que cá esteve, que fala em dezenas (!) de participantes...
- num blog espanhol um texto da Sara Caccao dizendo que não sabe ao certo quantos seriam...

Para além destas flutuações, numa Marcha que, na minha perspectiva, decresceu de adesão (e há ainda a pensar a existência, eficácia e colocação dos mateirais de divulgação, de que fala o Vale de Almeida - onde estavam os cartazes este ano?), há ainda que considerar outros fenómenos de hegemonização, e outros ainda de esgotamento desta forma de participação cívica, como bem reflecte este texto italiano.
Continua a haver muito que pensar também na relação entre política, festa e business...



Powered by Blogger