Queer Blog
30.9.04
 
Assim é que é!
O Ministério Público vai acompanhar a Opus Gay e a mim própria na acusação a João César das Neves. Sinal de que as mentalidades quanto à total liberdade de imprensa, uma liberdade que não respeita direitos mais fundamentais como o direito à dignidade de todos, podem estar a mudar.


 
Circulação rodoviária a saque
Depois da CML ter entregue todo o parqueamento de rua da cidade à EMEL vem agora o Governo querer que se paguem as SCUTS, falando em entregá-las à Brisa. Ou seja, privatizam-se aquilo que deveriam ser direitos públicos e sujeita-se o cidadão à ausência de alternativas e a lidar com formas de pagamento em que não pode nem pestanejar. Afinal os nossos impostos servem para quê?


29.9.04
 
Negociações secretas
A nova Concordata é uma das heranças de Durão.
Como não posso estar mais de acordo com o princípio de um Estado laico (que não se confunde com a exigência duma sociedade laica), coloco aqui o link para a posição crítica da Associação República e Laicidade. Apoiado!

Nota: assina-se um novo Tratado Constitucional da UE, negociado à porta aberta (com mais ou menos desiquilíbrios de poder), e todos exigem um referendo. Assina-se uma Concordata, secretamente negociada, e tenta-se fazê-la passar debaixo do tapete como a coisa mais natural do mundo...


 
A esperta da Cardona

Vou vender este peixe tal como me foi vendido: num email que dizem provir do fórum do Expresso:
>"Trata-se da Compta, cujo presidente é o meu amigo Vitor Magalhães, pelo
>que sei o que se passa.
>
>Em primeiro lugar o Vitor é padrinho do filho mais velho do Bagão Felix.
>
>Em segundo lugar, o anterior ministro encomendou o programa e testou-o,
>tendo verificado que funcionava muito bem.
>
>Em terceiro lugar, a nova ministra resolveu mudar a matriz inicial 3 dias
>antes do arranque do concurso.
>
>Sabem o que ela quis alterar?
>
>Criou um código especial, que desde o momento que fosse anexado a um
>professor, automáticamente ser-lhe-ia atribuida a escola da 1ª preferência.
>Uma espécie de cunha informática, percebem? Só que a alteração à última
>hora deu cabo do algorritmo central e bye, bye programa.
>Os comentadores deste forúm apelaram para que eu dissesse algo mais acerca
>da negociata Compta/PSD-PP, mas pouco mais se pode acrescentar, excepto:
>
>- Verifiquem as colocações da Escola EB 2+3 da Murtosa.
>
>- Verifiquem as colocações da Escola Secundária Rodrigues de Freitas no
>Porto.
>
>- Verifiquem as colocações na escola Renato Amorim em Setubal.
>
>Ou então, verifiquem os pagamentos no valor de 325.652,00 à Compta em Maio
>de 2004, mais um pagamento de 658.321,00 em Julho de 2004, e mais aberrante
>ainda, o pagamento da última tranche do contrato de
>desenvolvimento de 987.325,00 no dia 20 (VINTE) de Setembro de 2004.
>
>Mais informo que o contrato de assitência no valor de 250.000,00 euros
>anuais tem a duração de 15 anos!!
>
>Para terminar, informo V. Exªs que o David Justino tem uma participação de
>30 por cento na Compta através da holding 'International financial
>investiments PLC' com sede nas ilhas Cayman."

Daí que sempre me pareceu que a cara de Cardona não é de mera sobranceria (como afirma hoje Prado Coelho) e arrogância (o contrário aliás, em quem declarou mais de 300 mil contos de rendimentos ao IRS no ano passado, conforme informa a Sábado, é que seria altamente invulgar, infelizmente...) mas sim de total convencimento de impunidade...


24.9.04
 
I shall say this only once:)
Pronto, pronto, reconheço que sorri interiormente quando vi que Sócrates apoia a adopção por homossexuais:)
E na mesma questão reconheci a esquerda velha-guarda de Alegre (que discorda).
E, engolindo o sapo da prepotência do próprio e da rede de interesses que rodeia a sua família, tenho ainda de reconhecer que, se fosse militante do PS, votava João Soares.


23.9.04
 
Os docs do Festival
Pois, eu sou sempre assim - acabo por sacrificar a minha apetência estética à minha curiosidade e, no caso, só tenho visto documentários no Festival, acabando sempre por preferi-los aos filmes. Faço mal provavelmente, mas não resisto a confrontar-me com o que não percebo ou não conheço.
Hoje quero salientar The Gift, às 7, sobre o desejo de ser seropositivo - intrigam-me as motivações deste desejo, e a forma como a doença, mesmo uma das mais temíveis, pode ser socialmente interpretada, e existe tanto como fenómeno psicosocial como outra coisa qualquer.

Além de Beyond Vanilla vi também o documentário sobre Peter Tatcher, que tem direito a blink neste blog. Ele é um dos meus heróis. No entanto, e intencionalmente, o documentário não era sobre a biografia activista lgbt de Peter (com a qual ele é geralmente identificado)mas sobre a forma como ele é um activista dos direitos humanos, um ciber-activista e um profissional da mediatização das causas. Interessante, mas tenho pena que não referisse mais o seu perfil lgbt.


22.9.04
 
Carros, ponham-nos no bolso!
Em artigo de opinião, do qual não aparece autoria na publicação online, mas que suspeito ser do habitual prepotente Presidente de Emel, é dito o seguinte:
"Como exemplo, a definição de um conjunto de vias em consonância com a hierarquia da rede viária, definida no Plano de Mobilidade, onde o estacionamento seja obrigatoriamente pago, não havendo lugar à gratuitidade para os residentes exceptuando o período nocturno, poderá libertar 20 por cento do actual sistema para a curta duração (inferior a uma hora), com claros reflexos na eliminação da segunda fila e consequente aumento da fluidez de tráfego."

Que este senhor quer que os residentes enfiem os carros no bolso durante as horas diurnas para que todo o parqueamento seja pago à Emel, já a gente tinha percebido - mas dizê-lo tão claramente já é descaramento e falta de sentido da realidade. Vamos ver quem se ergue contra esta roubalheira.


21.9.04
 
Cobardia jornalística e menoridade política
(entrevista imaginada a Sócrates enquanto assistindo ao frente-a-frente na Sic:)
Perguntas:
1) Dr. Sócrates, o que pensa das taxas moderadoras no SNS?
2) Dr. Sócrates, é utilizador do SNS?
3) Dr. Sócrates, o que pensa de possibilitar o casamento e a adopção de crianças por homossexuais?
4) Dr. Sócrates, é homossexual?
5) Dr. Sócrates, o que pensa da possibilidade do PS fazer alianças à esquerda?
6) Dr. Sócrates, consigo como primeiro-Ministro o PS faria alianças à esquerda?
Etc, etc, etc


 
E esta hein?
Nem sei como dizer isto... Provavelmente pela primeira e última vez na vida concordo com Maria José Nogeuira Pinto: a Ministra da Educação tinha de ter feito uma avaliação das possibilidades de melhoramento do software, logo após as primeiras listas erradas, avaliação essa encomendada a uma terceira parte, que não os serviços do ME, nem a Compta. Essa avaliação teria revelado o que aqui já referi: que o programa não tinha flexibilidade para ser melhorado o suficiente para poder ser utilizado em tempo útil.


 
Os concursos do ME
Bem, pessoalmente vou ficar com o horário/turmas com que já comecei porque, apesar de eventualmente vir a ter direito a um horário melhor quando saírem as listas (quando?) não vou re-iniciar o trabalho de aproximação às turmas, que é delicado e não se compadece com "talvez fique, talvez não fique".

Quanto aos erros dos concursos:
- tenho uma amiga que durante os últimos 3 anos sempre reclamou de erros na sua colocação e sempre lhe foi reconhecida a razão, ou seja, existiam erros graves nas colocações antes desta informatização, erros que não eram detectados com a simples verificação habitual dos professores, que consistia em compararem a sua colocação com a de 10 colegas a cima e abaixo da sua graduação na lista; esta minha amiga perdia dias em probabilidades estatísticas até concluir que, de facto, estava a ser aldrabada
- quer isto dizer que estou contra a informatização? Claro que não. Simplesmente não percebo como é que é tão difícil transformar em linguagem computacional os critérios de graduação dos concursos e não percebo porque é que, provavelmente, não estamos a lidar com um softwate que aprende com os erros, ou ao qual possam ser acrescentados critérios e especificações com alguma facilidade - num caso tão complexo como este tal tinha de ser possível.
- e porque digo isto? Porque estou habituada aos softwares de feitura de horários de professores e alunos, aos softwares de gestão de faltas, aos softwares de gestão de alunos, que são sempre diferentes de escola para escola e que obrigam sempre, mas sempre, a que haja uma intervenção humana, manual, porque estes softwares, uma vez identificados as suas faltas e erros, não são facilmente corrigíveis, ou seja, não é fácil acrescentar-lhes regras para que funcionem doutra forma.
- portanto, questão final: para quando uma equipa informática a sério no Ministério que produza o software necessário e adequado à realidade escolar, que ninguém conhece melhor do que ele e os seus utilizadores, acabando com a compra de software chungoso a privados, amigos e compadres, que muitas vezes nem assistência técnica dão às escolas (muitas vezes porque sabem a porcaria que fizeram e não estão para isso, muitas vezes porque as escolas não sabem que a assistência técnica é tão ou mais importante que o próprio software, muitas vezes porque as escolas não têm dinheiro para pagar o software e a assistência técnica).

Interrogo-me se a informatização de todos os outros serviços públicos sofrerá deste mesmo mal... Duvido que não sofra...


20.9.04
 
Ainda o s/m e o corpo
No Beyond Vanilla existem ainda outro tipo de práticas que ainda não referi e que se encontram com as práticas de gestão do limiar da dor: refiro-me a actividades de des-sensorialização do corpo, como por exemplo enrolar partes do corpo ou o corpo todo em plástico (sim, há quem sufoque), e actividades de privação corporal, como por exemplo diversas técnicas de sufocamento/esganamento.

Aliás, aquilo a que chamamos técnicas de des-individualização são muitas vezes técnicas de des-sensorialização, técnicas de desligamento do corpo, nestes casos por sobre-exposição à violência, à falta, como se fosse preciso ser corpo, assumir ser o nosso corpo, para depois o conseguir "desligar".

No entanto, nós/o nosso corpo tem mecanismos de "desligamento" muito mais fáceis, como por exemplo no sono - é como se a exposição sensorial do dia-à-dia obrigasse ao desligamento no sono, para des-carregar baterias. Penso que é quando tal acontece que se fala em sono "reparador" ou não reparador.

Com todas as perturbações do sono que existem hoje em dia pergunto-me se não existirão muitas pessoas que não têm este sono reparador, que não desligam, e que precisam doutras experiências de libertação da electricidade estática causada pelo funcionamento contínuo do sensorial (sim, porque eu acredito que a nossa relação com o nosso corpo, connosco portanto, altera fisicamente - qumicamente, electricamente - o que o corpo é, o que nós somos; daí ser possível levitar, por exemplo).

Houve ainda um outro detalhe que achei curioso no filme e que ainda não referi: os submissos falavam nos dominadores como aqueles que sabiam levá-los a estas experiências limite, mas também trazê-los de volta, ou seja, re-sensorializá-los ou, de forma mais directa, não os deixar morrer - aparentemente, se os budistas têm técnicas para ir e vir sózinhos, sem morrer, os submissos necessitam de um terceiro para ajudar num percurso experiencial que também não realizaram sózinhos.

Interrogo-me se estas práticas algo empíricas de des-sensorialização e re-sensorialização não criarão problemas às baterias do corpo, da mesma forma que a bateria de um computador/telemóvel, quando é mal usada, chega a um ponto em que não carrega, ou em que descarrega muito rapidamente, etc. Enfim, muito gostaria de ver trabalhos multidisciplinares sobre estes temas.

P.S.- Há muito pouca coisa sobre s/m lésbico. Há dias, quando buscava blogs lésbicos, encontrei um blog que não blinkei porque está morto. Mas não deixa de ser curioso este Cyber Sex is Dead:)


 
Pour Homme e My Zinc Bed
Tive a sorte de conseguir ver a peça do André este sábado.

Diverti-me, emocionei-me e reflecti; que mais se pode pedir de um espectáculo? E conseguir fazê-lo com o despojamento cénico e de oralidade com que o André o fez é notório. E faz do espectáculo um produto altamente exportável e circulável, coisa que espero que realmente se concretize - nomeadamente, já estou a ver o Pour Homme em Edimburgo para o ano!:)

A diversidade e complexidade das referências cénicas, cinéfilas e performativas do André fazem dos seus espectáculos um prazer, mesmo para quem, como eu, não esteja familiarizado com todas, uma vez que há sempre leituras possíveis.

O espectáculo consegue ainda, ao contrário do que eu disse levada pelas declarações mais desprevenidas do André à TV, levar-nos para lá da ideia de masculinidades como mero comportamento, focando também aspectos de morfologia, simbologia, dualidade e crise.

Fui também ver o My Zinc Bed, com cenário e figurinos do André e encenação do Carlos Pereira. Gostei bastante do texto, algo difícil e inacabado no seu questionamento, como convém para dar luta. As interpretações são algo desiguais, quer no que diz respeito aos actores, quer no que diz respeito aos diversos momentos da peça. Existe um certo desconforto da plateia, colocada no mesmo círculo de cadeiras do que os actores, que é muito pertinente. O cenário do André está lindo, simples e muito adequado aos temas e espaços da peça. Resumindo, uma experiência interessante e interperladora.

Em contraste com o álcool/dependência (mas também desejo sem culpa) de David Hare no My Zinc Bed, fui ver a ante-estreia do último Kusturica, em que esta faceta do desejo sem culpa é muito mais óbvia, e tudo está sempre em festa: morte e renascimento no mesmo passo e muita alegria. Nada de novo, mas é sempre um prazer ver.


 
A incrível aventura de começar um ano lectivo
Situação inaudita: começo hoje o ano lectivo e ainda não estou segura de qual será o meu horário/turmas/disciplinas. Tenho uma colega à minha frente que há 8 anos fica destacada para outra escola. Se ela ficar destacada o meu horário é um, se não ficar, é outro. Isto porque o horário dela é de facto melhor que o meu e não vou simplesmente aceitar um horário pior e deixar sobrar um melhor quando não há certezas. Lindo, não?


19.9.04
 
Beyond Vanilla
Conforme vos disse fui na sexta ver este documentário. Está bem feito, não porque traga grandes novidades (à excepção dum ou doutro brinquedo sexual que desconhecia) mas sim porque é bastante abrangente nas práticas que refere e porque as entrevistas são interessantes. Se o conseguirem sacar vale a pena.

Mas, precisamente porque é bastante abrangente, penso que mistura práticas que se percebe hoje serem diferentes. Por exemplo, uma coisa serão os jogos de papéis senhor/escravo, outra coisa serão os jogos fisicamente s/m e que envolvem gestão da dor, outra coisa serão os jogos de intimidade corporal (como os fist fuckings, os watersports - jogos com urina - e o scat - jogos com merda, desculpem, não sei o termo em português) e outra ainda os jogos de idade (daddy/boys, etc).

Curiosamente, a única prática onde os discursos referem o prazer físico intenso é o fist fucking. De facto, o sexo não tem tanto a ver com prazer como com "fucking your mind":)

Quanto às práticas de gestão da dor, a impressão que dá é que os dominadores são totalmente idolatrados (e imagino o quão bem pagos...) pelos submissos, pois que estes os usam para realizarem processos de des-individuação, muito ao jeito do sadismo clássico e do budismo (neste aspecto muitíssimo próximos), que representam para os submissos autênticas trips: todos os entrevistados que realizaram práticas, acompanhados, de ultrapassagem voluntária do seu próprio limiar de dor (como alguém diz muito ilustrativamente, deixar de combater mas sim aceitar a dor e, depois, voar) referem experiências de libertação do seu próprio eu, psíquico e corporal. Eu penso que estas experiências, pela frequência do seu relato em diversas circunstâncias, são de facto vivenciadas como os sujeitos as descrevem e podem ser alcançadas de muitas formas; penso também que, considerando a morosidade do processo, têm a ver com fenómenos de dopagem do próprio cérebro, que muitos confundem com experiências religiosas, místicas, orgásticas, etc - o que não quer dizer que não sejam efectivamente muito libertadoras e prazenteiras. Resta perceber do que são libertadoras. Penso que a resposta clássica, de que são libertadoras dum Eu que a nossa cultura colocou em lugar de auto-controle, de vontade, de desejo, de absoluta não-passividade, anda muito perto de ser a perspectiva mais interessante e mais terapêutica - e que mais nos alerta para algo que está efectivamente errado na nossa civilização: o desprezo e a falta de desenvolvimento de exercícios de passividade e contemplação (que, como mostra o budismo, não têm de ser induzidos por um terceiro, podendo ser desenvolvidos individualmente pelo próprio).

Além deste Eu voluntarista, temos ainda uma civilização que nos liga excessivamente ao nosso corpo, apesar de todas as hesitações cartesianas - penso também que fenómenos de des-corporalização ou de vivência do corpo como sendo doutra natureza do que aquela que geralmente pensamos, como por exemplo em experiências de levitação, mostram que algo não está muito bem perspectivado nesta interface me/my body.


 
Vejam o Público de hoje
No Local vários artigos sobre a vida lgbt na Grande Lisboa; no Pública entrevista a Vale de Almeida a propósito do casamento e da sua próxima participação numas conferências na Arrábida (coloco só um link para cada assunto mas procurem que há mais).

Mas há também a falta de qualquer referência ao lançamento mundial (segundo me disseram), ontem na Fnac, do lobby pela criação de um Dia Mundial Contra a Homofobia. Segundo me explicou Fernando Cascais, este é um dia que tem de ser "certificado" pela ONU.

A propósito desta louvável e interessante iniciativa penso que ajudava pensar em duas coisas:
1) a cobertura mediática deve, para chegar a Portugal, começar pela imprensa estrangeira, enviando-lhes (aos jornais estrangeiros e à imprensa lgbt estrangeira) fotos, textos e entrevistas do lançamento da campanha ontem. Aliás, estes packages mediáticos multimedia têm de estar prontos em todos os eventos lgbt, para envio atempado no próprio dia, para os media de cá e de fora.
2) pelo que conheço dos activistas a nível mundial esta campanha vai criar resisitências internas dentro do movimento, se não for cuidadosamente calendarizada. O que quero dizer com isto? Quero relembrar que já existe uma campanha na ONU, a da Resolução Brasileira, à qual deve ser dado mais um ano para avaliar se passa ou não (este ano foi retirada à última da hora). No ano seguinte, apresentar-se-ia então formalmente esta proposta à ONU. Caso contrário muitos activistas podem temer divisão de esforços, secundarização política e estratégica de uma à outra, e até susceptibilidades feridas nas experientes pessoas que acompanham a Resolução Brasileira que poderiam interpretar esta ofensiva como uma desistência da crença da vitória da sua Resolução.
Mas isto não implica que não é útil começar a trabalhar desde já, concertando e identificando posições no mundo lgbt e diplomático por todo o mundo. Um ano não é nada numa campanha desta envergadura e todo o trabalho é bemvindo.

Uma última nota às coberturas do Público: espero sinceramente que haja um pouco mais de cuidado no lançamento da antologia coordenada por Fernanco Cascais, outro evento promovido pelo Festival de Cinema, do que com esta campanha, igualmente iniciativa do Festival. Para além do valor do livro em si, Cascais, no meu entender com um trabalho mais original no campo estritamente lgbt, internacionalmente falando, do que MVA (mas muito menos conhecido porque com uma saída académica do armário muito mais tardia, e portanto muitíssimo menos publicado), merece bem a nota. A propósito, e referindo ainda leituras pré-férias de que ainda não vos falei, leiam o seu artigo na revista Manifesto do Bloco, revista dedicada ao corpo, e depois falamos (nomeadamente, digam lá se o artigo não devia estar traduzido e publicado por esse mundo fora?).


17.9.04
 
Her own Madonna
Na minha busca desesperada por blogs lésbicos interessantes por esse mundo fora (please, help!) deparei-me com este curioso Chromewaves onde encontrei este fabuloso me and madonna! Uma curiosidade para os fãs:)


 
Festival hoje
As minhas recomendações vão para a selecção do Mix Brasil (habitualmente interessante e muito reduzida, portanto devem ser dos melhores), às 19h, e para Beyond Vanilla, que pode ter muito de documentário e pouco de cinema mas que diz respeito a um universo performativo que muito me interessa, o s/m, e que raramente podemos ver. Para quem preferir mais cinema, apesar de algo comercial, o famoso Girls Will Be Girls. Ambos às 21h30m.


 
Bom ano lectivo meu amor!
O meu mouzo começou ontem o ano lectivo. Estou muito preocupada com ela, e ela sabe. É que estão a abusar do meu mouzo, e isso deixa-me doente.

Um horário de professor do secundário é suposto incluir 20 horas lectivas (e 15 não lectivas). Todas as horas lectivas a mais, até um nº de 8, são extraordinárias.

Ora, o meu mouzo tem 30 horas lectivas, nenhuma das quais paga como extraordinária, e tem ainda uma direcção de turma, numa escola com um sistema informático de gestão/comunicação de faltas dos alunos que mete nojo... E tem ainda mais 4 horas numa prisão num curso que a sua escola promoveu, que vem do ano passado, e que contam que prossiga este ano, depois de terminado o primeiro ano em Novembro!

Ora isto totaliza 36 horas lectivas, ou seja, o meu mouzo faz o horário dela mais um horário de 16 horas, 4 das quais a 30 km de casa - resumindo, o meu mouzo trabalha por duas pessoas.

O meu mouzo tem montes de dias com mais de 8 horas de aulas por dia, mal podendo parar. Qualquer professor que já tenha tido 5 horas seguidas sabe o que isso é. E sabe também que é preciso algum espaço para recuperar depois de um dia com 8... O meu mouzo não vai ter esse espaço, quase a semana toda.

Escusado dizer que estou a falar duma escola privada onde há muitos professores a recibo verde, mesmo aqueles, como é o caso do meu mouzo, que já lá estão há mais de 3 anos.

Eu já azucrinei muito a cabeça do meu mouzo para apontar muito bem todos estes abusos ao longo dos anos (e a quantidade de reuniões que não pagam? e o facto de contarem com o meu mouzo para corrigir o português de dezenas de provas dos alunos de 300/400 páginas em 15 dias, sem nada pagarem a mais?) para lhes fazer um manguito quando de lá sair. Mas quem paga, e como se compensa, todos os problemas de saúde que entretanto o meu mouzo, estouradinho, vai tendo por causa daqueles beatos? É isso que me põe doente:(

E não pensem que o meu mouzo preguiçou na faculdade e, por isso, não tem nota para uma escola pública. Nã. O meu mouzo, palermita que é porque adora os putos (e os putos adoram-na, eu bem vejo o telefone sempre a tocar:), licenciou-se e profissionalizou-se com uma média de 17 valores e foi convidada a ficar na faculdade a dar aulas, e não quis. E está numa escola privada porque não gostaria de, como muitos amigos da sua geração de faculdade, estar até hoje sem saber se tinha emprego ou não, e onde...

O meu mouzo é um espectáculo, uma profissional como quase não há. Mas estão a dar cabo dela. E isso não se faz:(


 
Vou ver o André amanhã!
Espectáculo esgotadíssimo há montes de tempo, sorry.

Boa divulgação, mesmo sem visionamento, a mostrar que há criadores que merecem a expectativa e a confiança, como é o caso deste artigo no Público de hoje.

Há um senão na mensagem do espectáculo, senão que seria difícil colmatar com a exiguidade de meios que, intencionalmente, o André optou por usar - é que as masculinidades não são só performances/comportamentos, como ele diz.

As masculinidades pertencem ao sistema normativo do género, que inclui outras formas de lisibilidade dos masculinos/femininos (que este sistema produz e normaliza, a diversos níveis) que não só a performance comportamental: temos a lisibilidade morfológica, cromossómica, genital, psíquica, racial e étnica. Pelo menos. Mas estes são, decerto, desafios para outros tantos espectáculos.


 
Autoritarismozinhos
Vieram agora a público dois estudos, um que indica que Portugal é, de entre os antigos 15, um dos países onde há menor absentismo por doença, e outro que indica que os ganhos da Segurança Social pelas alterações no pagamento do subsídio de doença são insignificantes.

Ora, se compararmos estes dois dados com a impopularidade justamente causada pelas novas regras do subsídio, que penalizam quem fica doente até 3 dias e quem fica doente mais de um mês (só quem fica doente entre 4 e 31 dias é que não é penalizado... mistérios...), vê-se pura estupidez autoritária, paternalista, e pseudo-rigorosa da medida.


 
Já cá faltavam os insights do JMF...
Começam a surgir sugestões de alternativas ao método de colocação dos professores, totalmente alheadas da realidade e tentando impor determinados interesses. Vejamos o editorial de JMF.
Sem fazer qualquer referência ao facto do caos actual se dever a mera incompetência informática JMF considera que deveriam ser as Câmaras a recrutar o quadro de professores, atribuindo incentivos de fixação, se necessário.

Em primeiro lugar há que referir que os incentivos à fixação já existem na lei há anos mas nunca foram regulamentados e efectivamente atribuídos, porque o excesso de docentes é tal a nível nacional que ninguém está para isso. É verdade que ninguém se preocupa com o facto dos professores irem para determinados locais completamente derreados e deprimidos pela enorme distância às suas famílias, e de não quererem lá ficar nem mais um dia, quanto mais um ano! Mas não é a descentralização que poderá resolver este problema. É a aposta na fixação de professores, como se aposta nos médicos, juízes, etc.

Em segundo lugar as Câmaras são o maior centro de emprego da cunha de Portugal, facto tornado óbvio pelas centenas, senão milhares de funcionários que entram para uma Câmara após cada eleição, pagando e ficando a dever favores. Muitos destes funcionários entram para o quadro da Câmara antes da eleição seguinte e ficam, muitos sem nada que fazer ou desde sempre fazendo nada, a pesar no orçamento camarário. Mas com estas despesas públicas ninguém se preocupa, pois que todos os partidos têm os seus aparelhos locais para alimentar. Para quando fiscalizações rigorosas por empresas independentes da produtividade das Câmaras? Para quando os despedimentos de todos quantos nada lá fazem? Mas sem esquecer os vereadores, os conselheiros, etc; muitos não aparecem semanas inteiras!

Finalmente, arranjar emprego para um licenciado está tão difícil em Portugal que obrigar um profissional a deslocar-se a dezenas de capitais de distrito para concorrer a uma escola (o que os professores fariam), em vez de se candidatar a um concurso só, é desumano e desnecessário. E muito mais caro para o Estado pois que cada um desses concursos locais estaria sobrelotado e, se bem conheço a administração pública portuguesa, cada Câmara teria o seu software fajuto comprado ao seu amigo informático, também ele cheio de "gatos".


16.9.04
 
Que lata!
Acabei de ver a ministra da educação na Sic Notícias com um discurso espantoso! A senhora fala como se não houvesse nenhuma sombra de responsabilidade política no meio de tudo isto! Como se se tratassem de problemas meramente informáticos, que não mexem com a vida das pessoas!

Conforme já se percebeu, todos os problemas estão na utilização de um software que não foi devidamente testado, software esse utilizado pela primeira vez e por uma empresa privada - também pela primeira vez.

A Ministra referiu de passagem - nem aqui reconheceu ou pediu quaisquer desculpas - que não foram especificadas com clareza todas as regras do concurso, todas as excepções, todas as especificidades individuais, que poderiam surgir, que tudo isto não foi comunicado, ou não foi comunicado com clareza, à tal empresa. A ter sido assim a responsabilidade é do Ministério, pois foi ele que comunicou indevidamente.

Mas, mesmo admitindo que é difícil comunicar, de forma total e absolutamente lógica (como é necessário na programação informática), procedimentos habituais que são seguidos há anos por uma dada equipa, a equipa de concursos do Ministério (ou será que esta equipa era nova?), mesmo admitindo isso, este novo software deveria ter sido testado conjuntamente com o método antigo, paralelamente, para então, sem publicidade, fazer a sua avaliação e correcção. Não ter acautelado todas as consequências desta precipitação é também responsabilidade do Ministério e é preciso ser muito "cabecinha de vento" (ou pensar que os outros o são) para não o assumir!


 
Festival de Cinema Gay e Lésbico
Começa hoje.
Para quem queira tomar decisões quanto aos filmes pode consultar o Portugal Gay, que é aparentemente quem mais informação disponibiliza online. Apesar deste nobre esforço, que aliás tem acontecido ao longo dos anos e muitas vezes inclui também uma crítica posterior aos filmes, falta em geral informação relativa à qualidade cinéfila do filme (por exemplo este Blind Spot de hoje, embora sem prémios parece ser excelente), à sua temática [por mais que os filmes sejam bons este é um Festival Gay e Lésbico (e Transgénero); as pessoas gostam de saber se vão ver alguma coisa que se refira a uma ou outra destas realidades], e ao facto de estar legendado ou não, e em que língua (informação que o PG tem!). O modelo de descrever a "historinha" do filme, muitas vezes uma descrição pobre e disparatada (quase sempre a tradução dum texto feito à pressa pela produção do filme ou sabe-se lá por quem), não ajuda muito a escolher, e pode até enganar (às vezes há descrições disparatadas de filmes muito bons:)

É compreensível que o esforço de trazer o maior nº possível de filmes, e o facto de muitos deles serem confirmados em cima da data de exibição, não permita desenvolver muito do trabalho de acompanhamento que mereciam. O problema é que isto acaba por limitar aquilo que se deseja: o visionamento dos filmes pelo maior nº de pessoas possível.

No entanto, o Festival entra claramente numa nova época, com um novo Director, João Correia; uma nova sala, o Quarteto; e uma nova associação por detrás, a Janela Indiscreta, presidida pela mesma pessoa que presidia a Associação Cultural do Festival de Cinema Gay e Lésbico, Albino Cunha. Estas alterações permitem esperar alguma avaliação do trabalho feito até hoje e, muito provavelmente, a conquista de um novo fôlego.

Tenho pena que alguns dos erros anteriores se mantenham ainda e muito provavelmente não permitam a bilheteira que o Festival precisa e merece. Mas o importante é que o Festival continua, os filmes são muitos e bons, e continua a haver esperança que se desenvolva um projecto mais auto-sustentado e com apoios mais substanciais e menos dependentes dos ventos políticos...


 
Pedofilia governativa
Nesta família que é Portugal temos, como em muitas típicas famílias portuguesas, um "querido papá" que abusa dos seus filhos e filhas. Refiro-me a Bagão Félix, o homem mais perigoso de Portugal, conforme já aqui referi. E à forma como nos vai continuar a f...mantendo aquela cara de beato/eunuco e de pai de família trabalhador... Sob o olhar complacente dos media/ vizinhança...


 
My own private Madonna
Que querem que vos diga?
-Sim, o concerto foi um espectáculo de produção ( a minha cena favorita foi a das saias escocesas com o padrão escocês nos ecrãs); ele era um tal ecrãs a circular e maquinarias a subir e a descer.
- As músicas são altamente cantaroláveis e dançáveis.
- Estavam lá mais lgbts que no Arraial Pride:)
- Mas as citações religiosas irritaram-me sobremaneira pela intensidade - é que não havia uma cena que a elas escapasse! Diversidade please! Menos moralismo, please!

Enfim, ainda me doem as pernas das horas à espera (quem tem namoradas que querem ir às 3 da tarde (!) tem destas coisas:), mas teve um extra muito curioso: fizemos novos amigos, por sinal gays, na espera. Ora, novos amigos é bom, é mesmo muito bom!

Bem, sentindo toda a emoção da minha namorada tive uma pontinha de inveja: é que eu nunca vou poder ver o Freddy...:( Esse sim, seria o concerto da minha vida!


13.9.04
 
Festival de Cinema
Tem estado a decorrer na Fnac um ciclo de cinema e começa já na 5ª feira o Festival.
A programação foi agora divulgada, embora não esteja disponível no site oficial (instrumento de divulgação e possível venda de bilhetes muito descurado - depois dizem que sou eu que sou maldicente:(
Reconheço alguns filmes como lésbicos mas gostava de ter essa informação a respeito de todos - essa e outra, atempadamente. A questão da legendagem dos filmes continua por esclarecer: é assim tão difícil perceber que muitas pessoas não se deslocam sequer às salas se não tiverem a certeza se o filme é legendado ou não? Façam uma mailling list para estes dias de Festival, promovam os vossos produtos... Continua-se a trabalhar para trazer cá algumas pérolas (esta edição promete) e depois não se sabe vendê-las...


 
É já hoje!
Com as devidas desculpas a tod@s os que não conseguiram, é já hoje que vou ver a Madonna!

Não sou grande fã de concertos, nem sequer de comprar CDs - estes tempos de pirataria de tudo através da Net estão mesmo à minha medida:)

Mas, sempre segui os clips da senhora, os seus livros, e as análises entusiasmantes de João Lopes:) Ultimamente saquei DVDs de concertos para ver e... estou plenamente convencida: aquilo não vai ser um concerto, aquilo vai ser um espectáculo!

No entanto, há outra senhora a que me sinto visceralmente mais ligada (eu sou uma rapariga antiga, como diz o meu mouzo:) : Hanna Schygulla, está de novo no CCB (num Festival Temps d'Images interessante) e também na Cinemateca, em vários filmes, escolhidos por ela e pelo velhote, nomeadamente com muitas das minhas cenas fétiche em Historia de Piedra (o filme é muito natarulisticamente hetero, mas ela...)! Não percam!


 
Caixas negras há muitas seu palerma!
Ontem fiquei muito orgulhosa de mim própria: ergui-me contra a inacessibilidade dos saberes e técnicas informáticas, abri a Caixa Sagrada:) do meu Compaq e substituí o meu gravador de CD por um de DVD!
E não é que é facílimo! Abrir a caixa atrás, desligar duas tomadas (um interface de dados e uma tomada de energia) da drive que lá está; abrir a caixa à frente, premir as duas patilhas que seguram a drive no sítio, puxar por ela. Pôr as patilhas na drive nova, empurrá-la para dentro e ligar as duas tomadas. E é só! Depois é só instalar o software de leitura de DVD e de gravação de DVD/CD.
Ora, quanto é que um fdp dum pseudo-técnico informático, levaria por isto?


 
11 de Setembro
Penso muitas coisas politicamente incorrectas sobre este assunto.
Penso, por exemplo, que é muito difícil conseguir sancionar os EUA de alguma forma, considerando a prepotência das suas relações internacionais a nível económico, militar e político. Penso que em todas onde se metem, considerando principalmente a forma como se metem, devia ser Vietnam para eles. Penso que a rede de interesses económicos é tão complexa e tão poderosa que não há classe política que consiga trazer dignidade internacional aquele país. Penso que a América e o seu Império, que somos também nós, vai ter de cair de alguma forma, e está-se a ver de que forma.

Mas penso que é tudo fruto duma enorma estupidez, dum diálogo de surdos. Como é possível acreditar que se podem estabelecer regras económicas mundiais, globalizações, alheadas do diálogo civilizacional? E o problema é que este diálogo nunca sequer começou - enfim, penso que existiu na Idade Média mas as opções civilizacionais foram tão díspares, principalmente com a identificação da nossa civilização com o projecto de criação da ciência moderna, que se desisitiu. Pensou-se, durante séculos, que eles, os Outros, estavam lá longe - eles faziam a sua vidinha e nós a nossa. Nunca se pensou o quanto, por vários motivos, partilharíamos um dia O MESMO ESPAÇO. E neste mesmo espaço, por mais que se queira ver o contrário (e, contra todas as lógicas, penso que há que querer), as visões do mundo são totalmente incompatívieis.

Os islamismos estão fundados numa visão do mundo profundamente dogmática. Os islamismos, para que se perceba, dividem-se em racionalistas e não racionalistas, consoante tentam interpretar racionalmente o Corão ou o interpretam com base em interpretações religiosas já cristalizadas (para uma análise extensa e rigorosa dos diversos tipos veja-se "Histoire de la philosophie islamique", CERF, Paris, 1989). Este racionalismo, de interpretação de um só livro, é por muitos deles considerado uma grande ousadia.

Aqui há questões muito complexas. É claro que posso admitir que também a nossa civilização não se baseia assim tanto na "experiência", quanto numa série de pre-textos, que representam outras tantas vontades de poder. Mas, o que é fundamental, os textos são muitos, os poderes são muitos, admitimos muitas fontes de autoridade. Eles consideram que a fonte da autoridade, do poder, é uma só, o Corão, seja ou não múltipla através das suas milhares de interpretações.

O valor matricial e canibalístico deste livro é tal face a todos os outros textos que não surpreende assim tanto que, de acordo com o último Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (livro muito interessante a propósito do qual terei de fazer um post) sejam apenas umas centenas os livros ocidentais traduzidos para árabe, desde sempre. No entanto, é significativo que não se fale em quantos são os livros árabes traduzidos para inglês, por exemplo...

Portanto, infeliz e terrivelmente para todas aquelas pessoas, este atentado estava escrito há muito e não vai ser o único.

Mas, além do próprio acontecimento há ainda a questão da gestão da sua memória que, conforme convém ao império americano, está a canibalizar todas as memórias de todos os 11 de Setembro de toda a história. Uns dias antes do 11 de Setembro, se se procurasse na net pela data, ainda encontrávamos na 1ª página do Google (em inglês e me português) o Chile; hoje já não. E, conforme afirma a brincar um editor de informação para a sua repórter num dos episódios do filme Perspectivas que vi este 11 de Setembro, isto é de facto um concurso de televisão - e a peça que a SIC montou para o efeito, na forma como se inscreve emocionalmente em nós (estava no ginásio quando a vi e não sabia se havia de chorar ou vomitar), mostra-o bem.


11.9.04
 
Saída Colectiva do Armário dos Estudos LGBT e Queer:)

"INDISCIPLINAR A TEORIA. ESTUDOS GAYS, LÉSBICOS E QUEER

No decurso da 8ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa será lançado o livro Indisciplinar a teoria. Estudos gays, lésbicos e queer, organizado e apresentado por António Fernando Cascais. Área em grande expansão nas universidades europeias e americanas, e uma das mais inovadoras e estimulantes, os estudos gays, lésbicos e queer são praticamente inexistentes no nosso país. E, sobretudo, mal compreendidos. Trata-se de uma iniciativa pioneira entre nós, que reúne textos de reconhecidos especialistas nas suas áreas de investigação, mas que, através do seu contributo, visam o reconhecimento do carácter autónomo e específico deste campo. Além de divulgar o estado da arte entre a comunidade científica e o público nacional e de promover o conhecimento e o debate das questões levantadas pela reflexão queer mais recente, esta obra pretende igualmente inspirar a pesquisa, presente e futura, das realidades da história, da cultura e da identidade gay e lésbica portuguesas, ainda largamente desconhecidas. Eis porque Indisciplinar a teoria constitui antes de mais uma afirmação: que se impõe dar conta de realidades para que a actual compartimentação disciplinar não se encontra preparada. Tanto bastaria para o tornar num acontecimento no nosso panorama editorial e, doravante, numa referência impossível de ignorar.

Indisciplinar a teoria. Estudos gays, lésbicos e queer. Organização e apresentação de António Fernando Cascais. Lisboa: Fenda Edições

António Fernando Cascais: Um nome que seja seu: Dos estudos gays e lésbicos à teoria queer. Miguel Vale de Almeida: A teoria queer e a contestação da categoria ‘género’. Gabriela Moita e Ana Luísa Amaral: Sair do armário: Algumas representações da homossexualidade no Portugal contemporâneo. Nuno Carneiro e Isabel Menezes: Paisagens, caminhos e pedras: identidade homossexual e participação política. Ana Cristina Santos: Direitos humanos e minorias sexuais em Portugal: o jurídico ao serviço de um novo movimento social. Teresa Levy: Crueldade e crueza do binarismo. Isabel Leal: Parentalidades. Questões de género e orientação sexual. Henrique Pereira e Isabel Leal: A homofobia internalizada e os comportamentos para a saúde numa amostra de homens homossexuais. Henrique Pereira: A Psicoterapia Afirmativa. Francesca Rayner: Como Luva na Mão Errada: Teatro Queer em Portugal. José Augusto Mourão: Quando a letra é o bordo em que bate a vida (A partir de Ne lisez pas ce livre! de Renaud Camus). Cecília Barreira: Um caso de escrita de orientação sexual em Portugal: A poesia de Isabel de Sá. Teresa Cláudia Tavares: Portugal, 1874. A política sexual e literária portuguesa do terceiro quartel de oitocentos a propósito de A Morte de D. João de Abílio Guerra Junqueiro"


10.9.04
 
Just start believing now we can be who we are
Estava a ler a descrição do empowerment sentido por uma drag king que re-interpreta o ethos performativo das masculinidades de classe trabalhadora (é ela que o diz) de John Travolta e não resisti a ouvir o velhinho Grease:) (onde Travolta re-interpreta outra personagem muito kingificável, Elvis).

Grease's the word para muito gender bending, é verdade. E não só. Uma vez registei o título para uma revista lgbt que se chamaria GeL (de Gay e Lésbica, mas também de Gel, fashion). Os mariscos Gel não deixaram:))))

Mas confesso que a minha favorita é You're the one that I want (poderosa, poderosa:) e também a muito queen Hopelessly Devoted to You (cantada pela agora lésbica Olivia Newton-John - lembram-se das fotografias do álbum Physical e de Let's Get Physical?, só não vê/ouve quem não quer:)

Mas todo o álbum está repleto dum camp delicioso, felizmente super na moda - não imaginam quantos musicais de bichice camp estão em Londres, desde os Abba (WEEEEE!), Travolta, Queen, you name it! Quero uma festa camp já!


 
Os alarmismos da nossa imprensa
Para além de termos partidos de esquerda que são cada vez mais efectivamente de direita temos outra maleita: não temos nenhuma imprensa de esquerda representativa - não existe um diário, não existe um semanário. Não percebo como é que os políticos de esquerda não percebem o quão grave isto é.

Assim, não temos outro remédio senão levar com os títulos histéricos do Público a respeito do medicamento abortivo referenciado pelas Women on Waves (por falar nisso, obrigada à organização e às associações portuguesas, entre as quais a Não Te Prives, que também luta pelos direitos lgbt).

E, além do título, o artigo afirma ainda que "O misoprostol isolado é pouco eficaz no primeiro trimestre da gravidez, com expulsão do feto em apenas 9 a 20 por cento dos casos. Nos segundo e terceiros trimestres é mais fácil induzir o parto, refere.
(supostamente quem refere é uma médica)", quando o site das Women on Waves refere um sucesso de 90% se tomado antes das 9 semanas. Contradição curiosa, não? O artigo do Público acaba por dizer que, se for tomado tarde provoca partos prematuros e que se for tomado cedo, não funciona, ou seja, não resulta. É a total des-informação a funcionar com base no medo e na angústia de quem precisa de fazer um aborto... É claro que esta manipulação da informação, para muitos, não é crime - o que é crime é contribuir para uma melhor educação sexual e reprodutiva, nomeadamente com um site como o da Women on Waves, pois claro...


9.9.04
 
Deitar fora o bébé com a água do banho
Continuo estupefacta com os artigos publicados por António Barreto no Público (http://jornal.publico.pt/2004/09/05/EspacoPublico/O01.html e http://jornal.publico.pt/2004/09/06/EspacoPublico/O03.html) onde critica a educação como factor de desenvolvimento, afirmando que tal ideia é uma mera crença ideológica da esquerda que se alastrou a todo o espectro político.

Concordando com muitos dos reparos feitos no artigo penso que há um claro exagero: a educação não será o único factor de desenvolvimento, nem o conseguirá ser se existir sozinha, nomeadamente sem liberdade. Mas daí até considerar deixar de a ver como o principal factor de desenvolvimento dum país a médio prazo, vai um grande passo.

António Barreto refere as dificuldades de desenvolvimento dos países de Leste, apesar de muito escolarizados. Penso que é cedo para comparações. E que de facto estes países vão mostrar que aprenderam a aprender muito melhor e mais rapidamente, do que nós por exemplo. E isso vai reflectir-se nos seus índices de desenvolvimento, que em 20 anos vão fazer deles, na sua maioria, países mais desenvolvidos do que nós.


 
Talvez de volta
Pois é, a preguiça ainda é muita...
E também a dificuldade em escolher um post de re-abertura do blog.

Vou optar por algo sem grandes cerimónias: a minha admiração e o meu agradecimento a Manuel Alegre (e a muitos dos que estão com ele). Por expor a forma impiedosa como a lógica aprelhística se tem sobreposto à luta política nos partidos portugueses, ao ponto de termos tido e eventualmente continuarmos a ter um partido socialista... de direita! Obrigada pois, por trazer a política à política.

E, apesar de sentir o esfregar de mãos de muitos bloquistas com esta situação, antevendo o ainda maior crescimento do Bloco caso ganhe Sócrates, eu, que desde há muito voto Bloco e PSR (praticamente desde que tal é possível), queria era ver uma esquerda forte e mais unida no nosso país, pois que sozinhos, cada partido da esquerda só por si, nunca lá irão...



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